24 jan, 2025 - 11:55 • Carlos Calaveiras
A seleção portuguesa de andebol defronta, esta sexta-feira, a Espanha, uma seleção a quem nunca venceu. Se “matar o borrego”, Portugal garante desde já a passagem inédita aos quartos de final de um Mundial da modalidade.
Em entrevista à Renascença, Diogo Branquinho acredita que o triunfo pode ser possível e mais, diz que é altura de se começar a pensar em medalhas.
O ponta esquerdo do Sporting, de 30 anos, chegou aos 100 jogos pela equipa das quinas já durante o Mundial. Está “orgulhoso”, mas com sentido de responsabilidade de passar o que são os “heróis do mar” [alcunha pela qual é conhecida a seleção de andebol] às novas gerações.
Portugal venceu Estados Unidos, Brasil e Noruega e, já na "main round", empatou com a Suécia.
Até agora, um campeonato imaculado: três vitórias e um empate, contra uma das seleções mais fortes, a Suécia, com quem tínhamos perdido há dois anos (32-30).
Sim, melhor era só ter vitórias. No entanto, se nos dessem esta hipótese antes do campeonato nós assinávamos por baixo. Estamos onde queremos estar, estamos em primeiro no main round e assim pretendemos continuar para ir com as melhores hipóteses para a próxima fase e selar um dos grandes objetivos que é estar presentes nos quartos de final e fazer a melhor classificação de sempre. Depois disso, não dizemos que vamos deixar de lutar, mas vamos pelo melhor que conseguirmos, jogo a jogo.
A seguir vem a Espanha, uma seleção a quem Portugal nunca venceu. É desta?
[Sorriso] Não sabia que nunca tínhamos ganho, mas penso que sim. É uma equipa a ter em conta, esteja como estiver, é uma equipa sempre muito difícil, com um bom treinador, um bom modelo de jogo, com jogadores entrosados e com um andebol muito parecido com o nosso. Não é um andebol como o da Noruega ou da Suécia, é um andebol diferente, mais parecido com o andebol que nós praticamos. Então, vai ser um jogo de igual para igual, mas atendendo a como nós estamos e a como a Espanha está é uma excelente oportunidade para ganhar à Espanha.
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Portugal tem estado muito bem…
Nós estamos com uma excelente equipa, supermotivada, entrosada a jogar bom andebol e um andebol atrativo.
No domingo, o Chile, uma seleção menos conhecida que vamos defrontar pela primeira vez. O que é que vocês já conhecem deste adversário?
Sabemos que é uma equipa que ganhou ao Japão, ou seja, a verdade é que não estávamos à espera. Esperávamos que fosse o Japão, mas o Chile apresentou-se melhor, mais aguerrido. É uma equipa que fruto de também ser latina é uma equipa muito combativa, que joga com o coração, que luta por cada bola e vai ser um jogo tão difícil como os outros porque, muito provavelmente, vai ser o carimbar da nossa passagem [aos quartos de final], oxalá que seja antes.
Portugal está, para já, a liderar a “main round”. Estão perto os quartos de final, e depois, até onde podem chegar os “heróis do mar”?
Depois é outra história. Se em outros campeonatos, nós por ganharmos às melhores equipas do mundo nas primeiras fases nos deslumbrávamos porque era a primeira vez, a verdade é que já andamos há sete competições seguidas nisto. Tenho notado a equipa muito mais madura, não se deixa deslumbrar por esses resultados e já estamos a pensar no próximo. Temos um excelente resultado contra seleções fortíssimas, como por exemplo Noruega e Suécia, mas não nos deixamos ficar demasiado contentes e pensamos já qual é a melhor maneira para continuar em primeiro e evitar uma Dinamarca nos quartos de final e para ir o mais longe possível.
Nós queremos, claramente, passando aos quartos de final, traçar o objetivo das medalhas. Tem que se começar a falar disso e a verdade é que já está na nossa cabeça, está no seio do grupo. Primeiro, os quartos de final, não faz sentido falarmos de medalhas antes de garantirmos os quartos de final, mas a verdade é que estamos cientes de que esta seleção pode ir muito longe.
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Já o disse, Portugal já não se intimida a jogar contra os tubarões da modalidade.
A verdade é que nós, antigamente, quando nós começámos a jogar juntos há sensivelmente 10 anos, podíamos dizer que só estando no nosso melhor e a outra seleção estando mal é que nós tínhamos hipóteses. Hoje em dia já não é assim, hoje em dia vamos jogar com as melhores seleções do mundo e basta que nós estejamos melhor, que a nossa qualidade apareça, para ganhar esse jogo. Esse é o melhor elogio que posso dar a esta geração e a esta equipa.
O Diogo chegou às 100 internacionalizações contra a Suécia. É um marco engraçado de se atingir durante um Campeonato do Mundo, imagino.
É muito parecido com a primeira [internacionalização], que é especial porque passamos a ser “o” internacional Diogo Branquinho, passamos a representar a seleção, é um orgulho enorme. Mas também o é a 100.ª, que é quase corolário de toda uma carreira de muitos anos em prol da seleção e isso deixa-me orgulhoso, mas também uma responsabilidade acrescida de mais anos e de mais internacionalizações e de passar aos mais jovens a identidade desta seleção.
É uma camisola para emoldurar essa dos 100 jogos...
É verdade. Foi especial, na medida em que foi no primeiro jogo da main round, contra uma seleção fortíssima – a Suécia – e em que fizemos um jogo bom, foi um bom jogo de ambas as partes, muito disputado até final, tiveram bola para ganhar o jogo, mas nós conseguimos defender e é um jogo que vou lembrar para sempre.
Para fechar, permita-me repetir a pergunta que fizemos ao Portela: numa altura em que FC Porto e Sporting têm tido boas prestações europeias nos últimos anos e a seleção está a conseguir chegar sempre às fases finais de Europeus e Mundiais, será esta já a melhor geração de sempre do andebol português?
Não gosto de comparar as seleções. Esta é uma geração que vai estar marcada para sempre no andebol português, que fez muitas coisas pela primeira vez e que tem de deixar as pessoas orgulhosas. Se é geração de ouro, se são os heróis do mar… mas é uma geração que me deixa orgulhoso olhar para trás e dizer "eu joguei naquela equipa, eu fiz parte daquela equipa" e este é o melhor elogio que posso dar à nossa geração.