05 fev, 2025 - 13:45 • Rui Viegas
Existir um antes e um depois para o andebol nacional após o quarto lugar no Campeonato do Mundo seria um sinal que a prestação histórica teria tido impacto e resultado em melhores condições para a modalidade.
É o que defendem os internacionais Areia e Capdeville, que estiveram na Renascença após a caminhada marcante na prova.
"Estamos a ganhar noção das proporções que tomou aquilo que fizemos. Recebemos muito apoio quando lá estávamos através de redes sociais e sentimos bastante esse apoio. Agora estamos a ganhar um bocadinho noção da dimensão", diz Areia, antes de completar.
"Sabíamos que estávamos a fazer algo enorme pela seleção e mesmo pelo país e pelo nosso desporto. E é gratificante poder chegar a Portugal, sermos recebidos muito bem, de uma forma calorosa no aeroporto. E depois poder estar este dia e meio, dois dias, a marcar presença em órgãos de comunicação social, em jornais, rádios. É sinal que o nosso trabalho está a ser bem reconhecido pelo país. Espero que isso sirva de inspiração para quem está a pensar em começar a jogar", acrescenta.
O guarda-redes Gustavo Capdeville concorda: "Toda a gente sabe que o futebol é o desporto-rei. Temos de aceitar, mas acho que, com o que temos vindo a fazer, podemos levar o nosso país avante".
Areia, que deixou o Porto no último verão para uma primeira experiência no estrangeiro, em França, gostaria que o Mundial marcasse uma nova era no andebol português.
"Era sinal que o impacto daquilo que nós fizemos tinha dado resultado ou tinha sido grande. É preciso olhar de outra forma para o desporto, é preciso olhar de outra forma para o andebol, neste caso, e é preciso que haja alguma atenção aos resultados que têm sido feitos para que continue a crescer o desporto nacional e neste caso o andebol. Nós puxamos por isso, mas os apoios também são importantes para a federação e para os clubes em Portugal", diz.
Mundial de andebol
Reportagem Renascença em Oslo. Derrota portuguesa (...)
O crescimento de Portugal na modalidade já é alvo de grande destaque no estrangeiro: "Se queremos ser os melhores, temos que copiar os exemplos dos melhores. O jogador português está muito valorizado lá fora, é cada vez mais visto na Europa e no mundo do andebol. A seleção portuguesa está incrível, os clubes portugueses têm feito um trabalho excelente nas competições europeias. Portanto, acho que temos todas as condições para continuar a crescer enquanto modalidade".
Capdeville realça que os feitos históricos da seleção não começaram neste Mundial, recordando que Portugal foi pela primeira vez aos Jogos Olímpicos e o objetivo é, no futuro, vencer uma medalha num torneio.
"Tenho plena certeza que vamos consegui-lo no futuro próximo, acho que essa é a nossa fasquia. Sempre foi e vai continuar", prevê.
Areia reconhece que depois da fase de grupos só com vitórias, o grupo começou a acreditar que seria possível ultrapassar todas as expectativas.
"Depois as coisas começam a rolar e naquele momento era difícil dizer a esta malta, aos 16 jogadores, que não era possível chegar lá. Íamos quase com duas palas nos olhos, com toda a gente, e foi um bocado isso que nos ajudou também a alcançar este resultado histórico. E depois, a partir daí, é juntar a qualidade que nós temos, a ambição que temos, para as coisas começarem a rolar de uma forma natural. No final, pronto, não conseguimos ir mais além, mas acho que é de louvar", analisa.
Na meia-final, Portugal acabou por cair para a campeã Dinamarca, mas mesmo nas meias-finais, a seleção nunca deixou de acreditar: "Na primeira parte estivemos ali taco a taco, mas penso que na segunda parte desligámos. Ficou aquele sentimento agridoce que estivemos a um bom nível na primeira parte e que podíamos ter feito algo mais. Mas temos que ser muito consistentes contra aquela equipa, há que fazer um jogo a roçar o perfeito e não foi o que aconteceu".
Areia, já com 34 anos, diz-se muito satisfeito em França e quer "continar na seleção até o corpo deixar".
"Tenho uma meta, é um bocado talvez ambiciosa, mas gostava muito de jogar o Europeu. Vou aproveitando para cuidar de mim e tentar continuar boa forma para conseguir manter o nível", diz.
Já Capdeville, mais jovem com 27 anos, é guarda-redes do Benfica e quer estar em Los Angeles nos Jogos Olímpicos de 2028.
"É uma meta muito importante que tenho, acho que foi uma experiência única quando fomos pela primeira vez e é uma meta minha. Em termos nacionais, estou focado no presente, é tentar ser o melhor jogador possível e desfrutar. Acho que é o mais importante, ser um jogador melhor todos os dias, e o futuro vai ser risonho de certeza", conclui.