11 fev, 2019 - 13:35 • Reuters
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Semanas antes da data legal para o Reino Unido sair da União Europeia, o dono de uma bomba de gasolina e de uma loja de ferragens, os únicos espaços comerciais ainda a funcionar na fronteira terrestre entre as duas jurisdições, desistiu de tentar preparar-se para o Brexit.
Com a sua área de serviço parcialmente na Irlanda e parcialmente na Irlanda do Norte, que integra o Reino Unido, Eamon Fitzpatrick teme que tenha de alterar o seu negócio e aumentar os preços depois do Brexit, que pode também provocar um reflorescimento do tráfico.
Ainda assim, diz que não pode preparar-se de antemão, porque não faz ideia do cenário que vai encontrar a 29 de março: uma saída caótica, um adiamento dessa saída ou um período tranquilo de transição.
"É como perguntar a alguém: há uma corrida de 10 cavalos, que cavalo vai ganhar?"
Os avanços e recuos políticos passaram de mensais a diários, ressalta. "Até há seis ou oito meses, estava mais interessado em ver o que ia acontecer e em tentar acompanhar a situação. Agora a modos que desisti."
Uma sondagem publicada esta segunda-feira pelo Allied Irish Banks sugere que Eamon Fitzpatrick não está sozinho. O inquérito apurou que 50% dos donos de pequenas e médias empresas na Irlanda e na Irlanda do Norte ainda não estão a preparar-se para o Brexit.
A área de serviço de Fitzpatrick, que emprega 20 pessoas, funciona há duas décadas e mais do que uma vez tirou partido das flutuações monetárias e tributárias para oferecer combustível mais barato às pessoas de um lado e de outro da fronteira - na Irlanda usam euros, no Reino Unido libras.
Euros ou libras, senhor?
A adesão da Irlanda ao bloco europeu em 1973 acabou com a necessidade de controlos aduaneiros na fronteira. E o tratado de paz de 1998 entre as Irlandas foi, em parte, baseado no fim dos controlos de segurança criado para impedir tanto as incursões de militantes quanto o tráfico transfronteiriço que assombraram a Irlanda do Norte durante as mais de duas décadas de luta entre as milícias nacionalistas irlandesas e as "unionistas" britânicas.
Desde então, a fronteira de 500 quilómetros tem sido praticamente invisível, uma bênção para as trocas comerciais, para as amizades e para todos os que usam estas estradas para andarem para trás e para a frente através da sinuosa fronteira.
Quem vive nesta área fronteiriça muitas vezes traz libras esterlinas num bolso e euros no outro. Algumas pessoas chegam a atravessar a fronteira uma dúzia de vezes por dia.
Agora, é a tentativa de impedir o regresso de uma "fronteira rígida" que se tem provado maior ponto de discórdia nas tentativas do Reino Unido de negociar uma saída calma e faseada da UE a 29 de março próximo. Se falhar, e se os britânicos saírem sem qualquer acordo, a Irlanda terá poucas alternativas à restauração dos controlos aduaneiros em pouco tempo.
No pior cenário possível, o de um Brexit "rígido", Fitzpatrick teme que tenha de separar fisicamente a sua bomba de gasolina da loja de ferragens. Brinca e diz que pode vir a ter de construir um muro "ao estilo de Trump", numa referência à barreira física que o Presidente norte-americano quer erguer na fronteira dos EUA com o México.
Não é que tenha havido qualquer apoio oficial à sua empresa ou aos seus vizinhos para se prepararem para o Brexit, aponta. "Ninguém está a ter qualquer ajuda."
E Fitzpatrick ainda não está convencido de que, chegado o prazo de 29 de março, a forma desta fronteira seja clara. "Uma semana é muito tempo, como se diz em política. A semana de cada lado de 29 de março pode ser um inferno que dura muito tempo."