20 dez, 2017 - 18:06 • Eunice Lourenço
Mais do que reconstruir casas é preciso reedificar a sociedade. Foi o apelo lançado pelo cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que presidiu esta quarta-feira a uma missa em memória das vítimas dos incêndios deste ano.
“Mais do que reconstruir edifícios, temos agora de nos reedificar a nós próprios como sociedade inteira, da cidade ao campo e do litoral ao interior, reordenado o que for preciso reordenar, acompanhando quem temos de acompanhar, sanando o que mais urgir, tanto na saúde das pessoas como nas feridas que abrimos ou deixámos abrir”, disse D. Manuel na homilia da missa, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
A missa contou com a presença de representantes de outras confissões religiosas, do Presidente da República e de outros responsáveis políticos.
D. Manuel Clemente lembrou a encíclica “ecológica” do Papa Francisco, “Laudato Si” (Louvado sejas), para pedir uma sociedade nova com mais respeito pelo mundo natural.
“Sufragando tantas vítimas de tão grandes incêndios, agradecendo a solidariedade activa dos que salvaram vidas e haveres e desses e de outros que, entretanto, se juntaram para uma reconstrução que não sofre improvisos nem demoras, façamos agora o que devíamos ter feito já no sentido de uma sociedade nova e do respeito pelo mundo natural que o criador nos confiou”, disse.
Na homilia, D. Manuel Clemente que fez várias referências à leituras do dia, sobretudo à leitura do Evangelho que relata a anunciação do anjo a Maria.
“Há dois mil anos Deus recriou o mundo com o sim de Maria, que o nosso sim o garanta melhor para o futuro de todos”, conclui o patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
O patriarca associou o “sim” de Maria aos gestos de generosidade e valentia que se seguiram às tragédias de Junho e de Outubro, considerando que essa mesma “palavra criadora e recriadora” é a que leva agora muitos a recomeçar.
“Durante e depois dos trágicos incêndios que aqui lembramos, o mal foi grande e a dor foi muita, mas não faltaram nem faltam gestos de grande generosidade e valentia para acorrer, para salvar o possível, para prevenir e restaurar. Estou certo de que a generalidade desses gestos e acções foi impulsionada pelo mesmo espírito que criou o mundo e pulsa em todos nós para seguir em frente, melhorar o que falta e recomeçar quando é preciso”, exortou D. Manuel Clemente.