31 mar, 2019 - 09:00 • Cristina Branco
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“Já na altura era um jovem com um rasgo diferente de todos nós”. É uma das imagens a que recorre o padre Augusto Carneiro da Silva, para descrever Américo Aguiar, de quem foi colega no Seminário Maior do Porto.
“Tudo o que era questão protocolar era com ele. Estava sempre envolvido em iniciativas, apresentava propostas, tinha uma visão empreendedora. Ele já tinha uma experiência profissional, tinha uma enorme capacidade de trabalho, uma abertura e proximidade ao outro”, lembra, em declarações à Renascença.
O pároco da Igreja de Moreira da Maia antevê um “forte entusiasmo” de D. Américo na organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em 2022, em Lisboa, e recorda o papel do novo bispo auxiliar na organização da visita do Papa Bento XIV, ainda enquanto chefe de gabinete do então bispo do Porto, D. Manuel Clemente. “Ele estava muito empenhado para que tudo corresse muito bem, para que nada no protocolo falhasse”.
Nos tempos do seminário “já era conhecido, por brincadeira, como cardeal Américo [a propósito do antigo cardeal e bispo do Porto do século XIX, D. Américo Ferreira dos Santos Silva], porque ele tinha rasgo e visão. Era o próprio reitor que lhe chamava assim”, recorda o padre Augusto, sublinhando que o percurso de Américo Aguiar já apontava para este caminho.
O mesmo episódio é recordado por António Filipe, antigo colega de seminário e amigo de Américo Aguiar. “Foi quase o concretizar de uma profecia no seminário”, lembra, em jeito de gracejo. “Todos lhe chamavam cardeal Américo, um trocadilho por causa do nome, mas também por causa da postura que ele já tinha”, conta o director do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, que optou por não seguir o caminho do sacerdócio.
Amigo próximo do novo bispo, teve conhecimento da nomeação de D. Américo “pelas notícias”. “Quando abri a página do Facebook, onde tenho a Renascença, apareceu logo a notícia. “Liguei-lhe imediatamente”.
“Lisboa pode esperar um pastor. Alguém extremamente comprometido com a Igreja, em todos os contextos. Uma pessoa disponível para ouvir e capaz de criar consensos, algo cada vez mais difícil e importante”, afirma António Filipe.
Um futuro cheio de desafios
É difícil encontrar quem fale de Américo Aguiar sem referir o seu trabalho na Irmandade dos Clérigos que o próprio apelida de “a minha menina, a minha Torre dos Clérigos”.
Oito anos depois de ter assumido a presidência da instituição, termina, no final do ano, o último mandato à frente da Irmandade. O novo bispo auxiliar de Lisboa vai também deixar o Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, mas mantém-se à frente do Grupo Renascença Multimédia.
Uma das preocupações do novo bispo auxiliar de Lisboa é o papel da comunicação social em Portugal. Américo Aguiar, defendeu, em entrevista à Renascença e Ecclésia, que, “a bem da democracia”, é necessário monitorizar os media, alertando para os riscos de não se saber quem controla alguns meios de comunicação.
A organização da JMJ, dentro de três anos, em Lisboa, é um dos grandes desafios de D. Américo Aguiar, que já prometeu “a melhor Jornada Mundial de sempre” em Portugal, sendo que defende que “o mais importante é a preparação da jornada e depois o que se segue à jornada”.
Como bispo auxiliar de Lisboa, D. Américo comprometeu-se a seguir o que considera ser a função e a urgência da Igreja: mostrar proximidade às pessoas em situação mais frágil, indo ao encontro dos mais velhos, dos mais novos, dos doentes, dos que vivem abandonados ou não-acompanhados em situações de grandes dificuldades na vida. “O Evangelho é tudo o que temos e tudo o que somos”, disse na mensagem à diocese de Lisboa, no dia em que foi conhecida a sua nomeação.
“Vou aprender a ser bispo com o senhor D. Joaquim e o senhor D. Daniel [os outros dois auxiliares de Lisboa], porque não me entregaram nenhum livro de instruções”.
Américo Aguiar é ordenado este domingo bispo auxiliar de Lisboa, na Igreja da Trindade, no Porto, diocese à qual sempre pertenceu. Com 45 anos, será um dos bispos mais novos de sempre.
“In Manus Tuas” é o seu lema episcopal, em homenagem ao antigo bispo do Porto, falecido em Setembro de 2017. D. António Francisco dos Santos tinha o mesmo lema: as últimas palavras de Jesus na Cruz.