29 nov, 2017 - 10:55
O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, já saberia o que é que os árbitros teriam testemunhado, quatro dias antes de prestar depoimento na Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga (CIIL), sobre o caso dos "vouchers", adianta a revista "Sábado".
Isto porque, segundo a revista, no mesmo dia em que a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) enviou para os associados uma sugestão de resposta para ser enviada à CIIL, o documento chegou às mãos de Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Benfica.
O início do caso e as respostas preparadas da APAF
O caso foi denunciado pelo presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, e logo aberto pela CIIL, em Outubro de 2015. "Os árbitros e assistentes solicitaram à APAF aconselhamento jurídico, no seguimento de um pedido da Comissão de Inquéritos da Liga", explicou, à "Sábado", José Fontelas Gomes, então presidente da APAF e actual presidente do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
Consequentemente, a 7 de Novembro daquele ano, a APAF enviou para os associados uma sugestão de resposta à CIIL, na qual era sugerido ao árbitro, entre outros argumentos, que assegurasse que, em toda a carreira, "sempre foi hábito generalizado por parte dos clubes oferecerem pequenas lembranças alusivas à colectividade ou à região, tais como posta-chaves, galhardetes, cachecóis, livros, medalhas comemorativas, camisolas ou produtos regionais".
Foi, ainda, sugerido que o árbitro dissesse que os jogos no Estádio da Luz "nunca foram excepção à regra" e que o Benfica oferecia "lembranças nos mesmos precisos termos e contexto que os demais" emblemas.
Aquele documento, que de acordo com José Fontelas Gomes foi enviado apenas "para todos os árbitros e árbitros assistentes, observadores, árbitros estagiários e árbitros de segunda categoria", foi parar, também, na caixa de correio electrónico de Paulo Gonçalves, no mesmo dia em que chegou aos referidos destinatários.
A "Sábado" ressalva que não conseguiu apurar a identidade do remetente do e-mail que chegou a Paulo Gonçalves, no entanto, revela que o documento acabou na caixa de correio "contraosistema@iol.pt", que tem sido atribuído a Ricardo Costa, consultor da Abreu Advogados e antigo presidente da Comissão Disciplinar da Liga, que conduziu o inquérito referente ao caso Apito Dourado.
Alteração ao depoimento de Vieira e caso arquivado
Fonte da Liga informou a "Sábado" de que Luís Filipe Vieira foi notificado, a 5 de Novembro de 2015, para prestar declarações no inquérito.
Tal aconteceu a 11 daquele mês. Ainda segundo a revista, a 10 de Novembro de 2015, Paulo Gonçalves enviou para os advogados da "Correia, Seara, Caldas, Simões" cópias de "vouchers" oferecidos pelo clube entre 2013 e 2016, com a sugestão de uma alteração à minuta do depoimento do presidente encarnado, uma vez que a política de "vouchers" mudara e isso não era da sua responsabilidade, mas sim de "alguém" do departamento de futebol do clube da Luz. Essa troca interna de e-mail também foi parar à caixa de correio "contraosistema@iol.pt", com Paulo Gonçalves a deixar ao destinatário, que noutras ocasiões tratara por "Ricardo", a responsabilidade de agir.
A "Sábado" perguntou a Ricardo Costa se a conta "contraosistema@iol.pt" lhe pertencia, no entanto, o consultor da Abreu Advogados não respondeu a qualquer questão.
Paulo Gonçalves foi questionado, através do gabinete de imprensa do Benfica, sobre o envio de alguns documentos, contudo, o assessor jurídico das águias esclareceu que apenas responderia se as suas declarações fossem publicadas na íntegra. A revista comprometeu-se a publicá-las no site, no entanto, Gonçalves não aceitou.
O caso dos "vouchers" acabou por ser arquivado nas instâncias disciplinares desportivas. O Tribunal Arbitral do Desporto foi o único a tomar uma decisão relativa ao caso, rejeitando o recurso do Sporting. A 15 de Março de 2017, José Ferreira de Almeida, árbitro indicado pelo Sporting, entendeu que os gastos de quem recebeu "vouchers" deveriam ser investigados no restaurante Catedral da Cerveja. Medida aplicada pela Polícia Judiciária, nos últimos meses.
Em Julho, um juiz de instrução impediu buscas ao Benfica. Já a 19 de Outubro, no âmbito do "caso dos e-mails", a PJ efectuou buscas ao clube encarnado, assim como a Vieira, Pedro Guerra e Adão Mendes, entre outros. Paulo gonçalves foi constituído arguido.
[notícia actualizada às 11h40]