25 fev, 2016 - 15:38 • Rosário Silva
Em apenas dois meses de campanha, em 2015, a fábrica da Ucasul, em Alvito, recebeu mais de 170 milhões de quilos de bagaço de azeitona. O número impressiona, mas resulta do esforço dos associados da União de Cooperativas Agrícolas do Sul e da sua adaptação ao aumento de novos olivais intensivos, na região, por parte de empresários espanhóis a que não é alheia a chegada das águas do Alqueva aos campos alentejanos.
Para poder ter esta capacidade instalada, a Ucasul fez vários investimentos nos últimos anos que já ultrapassam os 50 milhões de euros. Construiu uma nova bacia para receber o bagaço, aumentou o número de secadores e investiu numa caldeira, tudo para poder secar o bagaço, que depois é usado como combustível na própria unidade (cerca de 50% retorna ao processo) ou vendido para biomassa, fonte de receita juntamente com o óleo de bagaço de azeitona.
A Ucasul assume uma posição de liderança de mercado neste sector emergente devido a uma política sustentável. “Esta é uma fábrica de evaporar a água que vem na lama, que é o novo bagaço de azeitona de duas fases. Nós evaporamos a água e ficamos com o bagaço sólido do qual extraímos algum óleo de bagaço”, explica à Renascença Luís Mira Coroa, presidente da União de Cooperativas Agrícolas do Sul (Ucasul).
Espanha absorve quase toda a produção
O que sobra é colocado no mercado “para vender às empresas que têm licenças para produzir energia através de biomassa”, refere.
A unidade emprega quase seis dezenas de pessoas. Trabalha 24 horas, os sete dias da semana e pelo menos durante dez meses, ininterruptamente. Exporta 99% de tudo o que produz. Espanha absorve quase toda a produção para as suas centrais de energia. Portugal deixou fugir a possibilidade de uma central de biomassa agrícola, um projecto da Ucasul que ficou à espera de uma licença que nunca viu luz verde. Uma “espinha na garganta” deste responsável.
“Não conseguimos essa licença. Politicamente”, lamenta. “Não foi interessante para os governos que passaram e agora, também, já não há dinheiro para fazer coisas dessas. O certo é que na restante Europa olivícola, Espanha, Itália e mesmo em França, estas centrais têm produção de energia através desta matéria. No nosso caso, vendemos para os outros produzirem. Essa mais-valia não conseguimos trazer para cá”.
Sem baixar os braços, a Ucasul, que já cobre todo o sul do país até à região de Portalegre, espera chegar mais longe e instalar, a partir de 2017, uma segunda unidade deste tipo no Alto Alentejo reduzindo assim custos de transportes e abrindo o mercado também aos espanhóis da Extremadura.
“Com uma unidade no Alto Alentejo vamos conseguir expandir o raio de acção para a Beiras, o Ribatejo e a nossa ideia é também chegar à Extremadura espanhola”, avança Luís Mira Coroa, presidente da União de Cooperativas Agrícolas do Sul.
Mesmo ao sabor da variação dos preços do mercado do óleo ou da biomassa, a verdade é que a empresa continua a crescer. Em 2015, o seu volume de negócios foi na ordem dos sete milhões de euros.