21 jan, 2025 - 18:03 • Isabel Pacheco
O desfecho que ditou a liquidação da Cablerias, em Valença, no distrito de Viana do Castelo, não surpreende Cátia Almeida, uma dos 250 trabalhadores da fábrica, que lamenta ainda não se saber ao certo até quando estarão a trabalhar.
“Já sabíamos que a empresa não tinha pernas para andar, ou seja, já sabíamos que ia para a liquidação. Esperávamos que ficasse decidido qual seria o dia de fecho e, afinal, não ficou nada decidido”, lamenta, à porta do Tribunal de Viana do Castelo, a jovem, que reconheceu como positivo os trabalhadores serem considerados “credores privilegiados” no processo de liquidação da empresa.
“Vamos ser os primeiros a receber o dinheiro. Já é algo que acalma. Pelo menos, os trabalhadores que estão a trabalhar sabem que vão receber o seu dinheiro”, aponta.
No desemprego ficam 250 pessoas. Nem todas com perspetiva de trabalho na região. É o caso de Ana Maria Barreto que, aos 61 anos de idade e 14 anos de casa, viu a vida a trocar-lhe as voltas: “Contava ir para a reforma dali, mas, se calhar, não vou”.
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“Eu com 61 anos para onde é que vou? Já é tão difícil para uma trabalhadora com 20, 25, 30 ou 40 anos que não arranja trabalho, mas eu com 61 anos, para onde é que vou”? questiona.
Entre os perto de três dezenas de credores da unidade do grupo espanhol estão, sobretudo, empresas de trabalho temporário. “ São cerca de 90% do crédito da Cablerias. É significativo, sei que corresponde a uns 4, 5 milhões de euros”, explica Ana Filipe, advogada de cerca de meia centena de funcionárias.
“Os trabalhadores, por sua vez, estão, de certa forma, salvaguardados. Poderão ter acesso ao Fundo de Garantia Salarial. São credores privilegiados, como o nome indica, são pagos acima dos outros”, explica a advogada.
A indicação é de que fábrica de componentes para automóveis vai continuar a laborar para responder às atuais encomendas, pelo menos, até ao final do mês. “Em fevereiro logo se verá”, adianta.
A fábrica de Valença do grupo espanhol de componentes para automóveis avançou com um pedido de insolvência no final de 2024. Continua a laborar graças, sobretudo, aos clientes que desde então têm assegurado a compra de matéria-prima e os salários dos 250 trabalhadores, a maioria, mulheres.