13 fev, 2025 - 22:12 • Isabel Pacheco
É “inaceitável” que quem trabalhe continue em situação de pobreza. O alerta é da responsável da EAPN - Rede Europeia Anti-Pobreza, Maria Joaquina Madeira, que defende a intervenção da sociedade, do Estado e das empresas no combate ao flagelo.
“O pior, o que é contranatura, é que há trabalhadores em situação de pobreza. Cerca de nove a 10% da população está em situação de pobreza. Isto é inaceitável”, apontou Joaquina Madeira à margem de um debate, esta quinta-feira, no Porto sobre “a responsabilidade social e corporativa das empresas na luta contra a pobreza”.
Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui
Maria Joaquina Madeira considera que “a pobreza não é só uma negação dos direitos das pessoas, mas é um grande travão ao desenvolvimento”.
“Não é só uma questão de justiça social, mas é de produtividade e desenvolvimento das sociedades. Portanto, as empresas têm esta responsabilidade social como atores e agentes de desenvolvimento que criam emprego e valor nas sociedades e que não devem perseguir só o lucro”, defendeu.
Para o coordenador do Fórum de Cidadania pela Erradicação da Pobreza no Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, a perceção é que a realidade não tem vindo a melhorar nos últimos tempos.
À Renascença, o responsável fala em “sinais exteriores” de pobreza que “estão a ficar mais fortes”, como o “aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo e o flagelo da droga”.
“Não me parece claro que haja melhoria [no combate à pobreza] relativamente a um passado não distante”, lamentou. “Em Portugal fala-se de dois milhões de pobres. Acho que são muitos mais” admitiu o, também, presidente da assembleia municipal do Porto.
“A luta tem de continuar, não se pode parar. É uma realidade. Não fechem os olhos porque não resulta fechar os olhos, não resolve o problema”, rematou.
Homenagem a Bruto da Costa
Um livro com diversos estudos sobre a pobreza é la(...)
Combater os baixos salários é “essencial” na luta contra a pobreza. A ideia serviu de linha condutora para o debate sobre a responsabilidade social e corporativa das empresas no combate à pobreza.
Um dos intervenientes na sessão foi José Teixeira. O CEO da DST, uma empresa na área da engenharia e construção, acredita que é um caminho possível.
“Uma empresa que não consiga pagar salários dignos é melhor não existir. É um abcesso na economia e ter esse tipo de condescendência é um erro absoluto”, defendeu o empresário bracarense, lembrando que “as excelentes empresas do país são as que pagam bons salários, porque as que não pagam, os trabalhadores não participam”.
Com mais de 2.200 funcionários, a DST tem um salário mínimo 11% acima salário mínimo nacional. “Apenas 69 dos nossos trabalhadores estão no patamar mínimo”, acrescentou José Teixeira, que explicou que “a pratica é ter valor no nosso negócio para ter melhores salários”.
Para o empresário bracarense, um dos convidados do debate sobre a responsabilidade social das empresas na luta contra a pobreza, na fundação António Cupertino Miranda, no Porto, “a saída da pobreza no estado adulto é o salário, mas a saída da pobreza na prevenção é na educação”. Daí, acrescentou, “financiarmos projetos na área da cultura e na educação porque são ferramentas para ter melhores salários”.