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Crise política

Patrões deixam derradeiro apelo contra eleições antecipadas

11 mar, 2025 - 06:30 • Sandra Afonso

Confederações e associações patronais alertam para as consequências da atual crise política, numa altura em que o país e o mundo já estão a ser fortemente ameaçados pela instabilidade internacional. Em declarações à Renascença, lembram que está em causa a execução de fundos europeus e de projetos estruturantes.

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Patrões deixam derradeiro apelo contra eleições antecipadas. Ouça o trabalho da jornalista Sandra Afonso

A economia e o país precisam de soluções, não dificuldades, avisa o presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, quando o Parlamento se prepara para votar uma moção de confiança e para aquela que pode ser a “morte anunciada” do atual Governo.

Para Armindo Monteiro, estas “não são boas notícias” de um ponto de vista económico, “porque o mundo está em transformação, o que eram aliados comerciais do passado hoje parecem ser adversários, há uma aproximação entre forças que tradicionalmente eram opostas”.

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Neste cenário, explica, “para as empresas portuguesas é o momento de procurar novas parcerias, novos mercados, e para isso precisávamos de um Estado que estivesse operante, atento, fosse um facilitador e um construtor de soluções. Tudo o que está a acontecer é exatamente o contrário”, lamenta.

O líder da Confederação Empresarial de Portugal sublinha, ainda, que os partidos não mostram sentido de responsabilidade. “Portugal não tem tradição de unir esforços na adversidade, politicamente falando, há uma recomposição dos blocos económicos e comerciais e já deveria ser suficiente para que em Portugal nos juntássemos neste momento de vulnerabilidade para a economia portuguesa. Por isso, vemos com alguma preocupação que não haja esse sentido de responsabilidade, em particular dos principais partidos políticos”, diz.

"Há dossiers que estão pendentes"

Na mesma linha, Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), alerta que convocar agora novas eleições legislativas traz incerteza e instabilidade. “O país não pode continuar a andar em eleições constantemente, com o custo que isto tem para o erário público, com o custo que isto tem na vida das pessoas, com o descrédito que isto causa sobre os nossos governantes e os nossos políticos, o país não precisava e não merecia neste momento ter um cenário destes”, diz.

O presidente da AEP destaca ainda as consequências de novas eleições legislativas nesta altura: “vem trazer alguma instabilidade, um clima de alguma incerteza; temos milhares de milhões de euros para executar do PRR, do Portugal 2030, e percebermos que umas eleições provocam sempre aqui um clima de algum standby; há dossiers que estão pendentes, como é o caso da alta velocidade, é o caso da privatização da TAP, o caso da lei laboral, medidas que são necessárias”.

A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) manifesta as mesmas preocupações e pede “que seja clarificada de forma célere a situação política e governamental em Portugal”.

Incerteza pós-eleitoral?

O presidente da CTP acrescenta que não há garantias de um Governo mais estável, após novas eleições. “Não achamos que esta intranquilidade seja apenas para dois meses, não vemos que das soluções que possam resultar após um cenário eleitoral sejam mais tranquilizadoras ou mais clarificadoras que agora. Dito de outra forma, a necessária maioria governativa, ao que tudo indica, vai estar ainda mais fragilizada”.

A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) não fala, para já. O presidente remete comentários para depois da votação da moção de confiança ao Governo, marcada para esta terça-feira.

A moção já tem o chumbo prometido do PS e do Chega e, por isso, tudo indica que o Governo cai esta semana. Mas, o presidente da Associação Empresarial de Portugal ainda espera ser surpreendido pelos partidos.

“Eu quero continuar a acreditar que os interesses do país serão colocados à frente de outros interesses e que poderá ainda haver lugar ao entendimento. Se me pergunta se a minha expectativa é elevada, não é. Mas espero que nós sejamos surpreendidos por um desempenho dos nossos políticos em que todos nós percebamos que colocaram em primeiro lugar o interesse do país e não outros interesses”, acrescenta Luís Miguel Ribeiro.

O presidente da CIP também ainda não perdeu a esperança num entendimento e apela aos partidos para que avaliem as consequências de eleições antecipadas: “aquilo que nós gostaríamos era que os partidos políticos, particularmente os mais responsáveis em soluções de construção do país, fossem conscientes e avaliassem se, efetivamente, há benefício ou não no objetivo de arrastar o país para novas eleições”.

Os patrões concordam que, hoje, a maior ameaça chega de fora. No entanto, criar novas dificuldades com crises internas, que podemos controlar, é agravar ainda mais uma situação que já é complicada.

“Os riscos internacionais são algo sobre os quais Portugal não tem nenhuma ou muito pouca esfera de intervenção. Agora, as crises que nós próprios criamos, essas sim são da nossa responsabilidade. Por isso devemos concentrar-nos muito mais na agenda que nós conseguimos gerir internamente em Portugal”, defende Armindo Monteiro.

Se a moção de confiança do Governo for rejeitada esta terça-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já admitiu convocar eleições legislativas antecipadas para 11 ou 18 de maio.

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