20 mar, 2025 - 15:27 • Sandra Afonso
O Banco de Portugal está mais otimista sobre a evolução da economia nacional. O Boletim Económico de março revê em ligeira alta o crescimento para este ano, que sobe uma décima face às estimativas de dezembro. O supervisor aponta agora para 2,3% em 2025, o que ainda fica abaixo dos 2,5% apontados pelo ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento.
Já para 2026 e 2027 são esperados abrandamentos, para 2,1% e 1,7%, respetivamente. Ainda assim, “este ritmo continuará a superar a média da área do euro, beneficiando em 2025-26 do alívio das condições financeiras, da aceleração da procura externa e de uma execução de fundos europeus mais concentrada no próximo ano”, explica o BdP.
O crescimento mais baixo de 2027 é justificado com o fim do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
O consumo e o investimento poderão beneficiar de um aumento da confiança, mas “a sua concretização exige uma redução da incerteza interna e externa”, que neste momento é elevada.
“Para além dos fatores de risco já existentes - relacionados com a invasão militar da Ucrânia pela Rússia e os conflitos no Médio Oriente - surgiram novos fatores, com destaque para as alterações na orientação de política geoestratégica e comercial nos EUA“, explica.
O BdP avisa ainda que “a materialização destes riscos pode conduzir a subidas de preços das matérias-primas, disrupções nas cadeias de abastecimento, menor crescimento do comércio mundial e variações cambiais marcadas, com impacto desestabilizador sobre a atividade“.
As novas projeções para a inflação, medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor, indicam que deverá reduzir-se para 2,3% em 2025 e situar-se em 2% em 2026 e 2027.
O consumo das famílias teve um papel importante no crescimento da economia em 2024 e isso deve-se, em parte, à “a aceleração significativa do rendimento disponível no quarto trimestre”. Para isso contribuíram medidas como as alterações ao IRS com efeitos retroativos, ou o pagamento do suplemento extraordinário de pensão em outubro.
No conjunto, estas medidas terão representado um aumento de cerca de dois mil milhões de euros no rendimento das famílias, quase 4% do rendimento trimestral.
No entanto, nos primeiros três meses de 2025, o rendimento disponível nominal deverá reduzir-se 1,2%. Na prática, as famílias perdem parte do que tinham ganho no trimestre anterior, o que deverá ter efeitos no consumo privado.
Finanças
Resultado fica muito acima das previsões, que apon(...)
No segundo trimestre, o consumo deverá também ser condicionado “pelo impacto da redução prevista nos reembolsos do IRS, resultante das menores retenções na fonte ocorridas em setembro e outubro de 2024“, refere o Boletim Económico.
Já as exportações deverão crescer a uma taxa média de 2,9%, entre 2025–27, inferior à dos últimos anos, “num contexto de aceleração esperada da procura externa e menores ganhos de quota”.
A taxa de desemprego deverá estabilizar em 6,4% e o emprego continua a crescer, mas a um ritmo progressivamente mais baixo, assim como os salários.
Segundo as contas avançadas esta quinta-feira pelo Banco de Portugal, o impacto global da guerra de tarifas “aponta para uma redução cumulativa do PIB em torno de 1,1% no final de três anos, com os efeitos concentrados nos primeiros dois anos”.
Ou seja, o maior impacto verifica-se já este ano e pode chegar a uma redução de 0,9 pontos percentuais no Produto Interno Bruto, face aos 2,3% previstos no cenário base. Contas feitas, num cenário adverso a economia iria crescer apenas 1,4%.
Este impacto inclui “repercussões negativas na confiança dos agentes económicos, fruto da imprevisibilidade de futuras políticas comerciais, da sua escala e duração, da possibilidade de medidas retaliatórias e da volatilidade induzida nos custos de produção e nos preços dos bens”, levando a uma “redução do investimento e do consumo privado”, refere o BdP.
Mário Centeno sublinha que “a clareza do impacto do ponto de vista do crescimento é menos crescimento, do ponto de vista dos preços é mais dúbio”.
O governador do Banco de Portugal admite que os agentes económicos “adoram” previsibilidade e estabilidade, mas lembra que a economia portuguesa tem mostrado resiliência nos últimos anos.
“E vão três (eleições): 2022, 2024 e 2025. Melhorar, não melhora. Os agentes económicos adoram previsibilidades, estabilidade, capacidade de projetar o futuro. A variável que mais sofre com essa incerteza é o investimento”, diz.
Ainda assim, a economia portuguesa “tem tido condições de resiliência que são positivas” ao longo dos últimos anos, e o Banco de Portugal não antecipa “que venham a ser postas em causa”.