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Brasil. Lamas tóxicas aproximam-se de banco de coral

19 nov, 2015 - 23:42 • Liliana Monteiro

Duas semanas depois do rebentamento de duas barragens de depósitos mineiros em Mariana, Estado de Minas Gerais, no Brasil, ainda não está totalmente avaliado o dano daquele que já é descrito como o maior desastre ambiental do país.

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A água e lamas tóxicas que destruíram por completo vilas e aldeamentos escorrem em direcção ao mar ameaçando agora um dos maiores corais na costa brasileira.

Nilo Dávila, coordenador da Greenpeace Brasil, alerta que “as substâncias tóxicas diluídas nas águas vão chegar ao oceano e essas substâncias podem atingir o maior banco de coral brasileiro, que são os corais que formam o Arquipélago de Abre Olhos’”.

Além do estado de Minas Gerais, também o estado de Espirito Santo foi seriamente atingido. “A lama percorreu já cerca de 400 quilómetros com previsão de alcançar o mar entre sexta-feira e sábado. O que encontrámos foi uma terra completamente devastada”, acrescenta.

"No rio Doce, nos primeiros 50 km, toda a vida foi morta e isso compromete o meio de vida de muita gente, de agricultores que dependem da irrigação das terras. Existem ainda muitas comunidades de pescadores e todas essas pessoas estão sem fonte de rendimento no momento. A fauna também foi completamente devastada."

A imprensa brasileira dá conta de que também duas outras estruturas podem estar em vias de ruptura: as barragens de Germano e Santarém.

Ronaldo Garcia é voluntário da Cruz Vermelha há vários anos, especialista em resgatar animais. Quando soube do sucedido, disponibilizou-se de imediato para ajudar e ir para o terreno.

“Quando chegámos lá entendemos a real dimensão do problema, não podíamos imaginar a quantidade de resíduos armazenados naquela região. O que vimos parecia um cenário de guerra, localidades inteiras soterradas pela lama e várias outras cidades vizinhas entupidas com lama, estradas interrompidas, pontes arrastadas. Não havia contacto entre cidades e as pessoas estavam isoladas sem comida e sem água”, refere.

Este voluntário revela que numa primeira fase eram 400 as famílias afectadas, mas o número foi crescendo de dia para dia. Mesmo apesar do perigo, com casas destruídas, sem pastos e sem o habitual rio muitos moradores não deixaram a sua terra.

A tragédia – diz - trouxe ao de cima a generosidade do povo brasileiro: “Percebemos uma vontade tão grande de ajudar que a Prefeitura de Mariana já não estava a receber mais doações. As doações de água já estão a ser encaminhadas para outras zonas."

Samarco garante: “Barragens e diques estão estáveis”

Perante novas informações que surgem e que dão conta da possibilidade de rebentamento de outras duas barragens de resíduos, a Samarco, operador do complexo de barragens da região de Minas Gerais, garante, em resposta à Renascença, que “estamos monitorizando as estruturas, em tempo real, por meio de radares e inspecções diárias”. “As estruturas de barragem e de diques encontram-se estáveis”.

No entanto, acrescenta a Samarco, que “estão a ser feitas obras de emergência na barragem de Santarém para aumentar o reforço e a contenção, tendo em conta que o acidente provocou erosão interna e abalou a segurança desta barragem”.

“A Samarco contratou três organizações de ajuda humanitária para desenvolvimento de um plano de acolhimento às famílias, apoio psico-social e triagem médica”, acrescenta a empresa em resposta por escrito à Renascença.

Esclarece também que, até o momento, 631 pessoas (183 famílias) foram alocadas em hotéis e pousadas de Mariana.

O que esteve, afinal, na base deste desastre natural? A empresa diz que “não é possível, neste momento, confirmar as causas do acidente”. Garante que todas as barragens da possuem licenças de operação e que, “nos recorrentes processos de fiscalização, se atesta o comportamento e a integridade das estruturas”.

A última fiscalização ocorreu em Julho de 2015”, adianta a empresa.

Desde o dia 5 de Novembro já foram resgatados 250 animais em Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Todos esses animais já receberam atendimento médico veterinário e alimentação.

Policia Federal de Minas Gerais Investiga crime ambiental

O caso está a ser investigado pela Policia Federal de Minas Gerais que, numa nota enviada à Renascença, explica que “foi instaurado inquérito para apurar a possível prática de crime ambiental, tendo em conta os estragos provocados e os dejectos que atingiram o rio Doce, que é um bem público e que atravessa mais do que um estado brasileiro”.

No início deste mês, a barragem de Fundão cedeu, originando uma enxurrada de 50 milhões de metros cúbicos de lama com resíduos químicos. Há, pelo menos, 11 mortos e várias pessoas desaparecidas.

Acidente em depósito de resíduos faz mais de uma dezena de mortos
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Comentários
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  • Warrior
    20 nov, 2015 Amadora 09:16
    Mas esta tudo bem para a mineradora.......parece que a culpa é da lama,das chuvas e dos desgraçados que vivem no caminho deste lamaçal.....
  • Abilio Amaral
    20 nov, 2015 Carcavelos 09:01
    O arquipélago mencionado chama-se " ABROLHOS " e não Abre Olhos

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