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Moçambique. Pelo menos três mortos por disparos da polícia no dia do regresso de Mondlane

09 jan, 2025 - 06:54 • Silaide Mutemba, correspondente Renascença em Moçambique, com Lusa

Uma carga policial provocou a fuga generalizada, logo o após o apelo para desmobilização, perante o som dos tiros, lançado por Venâncio Mondlane.

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Venâncio Mondlane discursa pela primeira vez desde que regressou a Moçambique. Foto: Luisa Nhantumbo/EPA
Venâncio Mondlane discursa pela primeira vez desde que regressou a Moçambique. Foto: Luisa Nhantumbo/EPA
Venâncio Mondlane discursa pela primeira vez desde que regressou a Moçambique. Foto: Luisa Nhantumbo/EPA
Venâncio Mondlane discursa pela primeira vez desde que regressou a Moçambique. Foto: Luisa Nhantumbo/EPA
Venâncio Mondlane regressa a Moçambique Foto: Luisa Nhantumbo/EPA
Venâncio Mondlane regressa a Moçambique Foto: Luisa Nhantumbo/EPA
Venâncio Mondlane regressa a Moçambique Foto: Luisa Nhantumbo/EPA
Venâncio Mondlane regressa a Moçambique Foto: Luisa Nhantumbo/EPA

Na manhã desta quinta-feira, num cenário marcado por chuvas em Maputo, Moçambique voltou a viver momentos de caos e violência após o retorno de Venâncio Mondlane ao país.

O episódio culminou com a morte de três pessoas depois de disparos da polícia contra apoiantes do político. Mondlane, que esteve fora do país por mais de dois meses, ao desembarcar falou à imprensa e afirmou que sua volta foi motivada por três razões principais: a abertura ao diálogo, a denúncia de abusos e o compromisso com a justiça.

“Estou aqui para dizer que se querem dialogar ou se querem negociar, estou aqui presente. Percebi que as pessoas estão a ser assassinadas e sequestradas pelo regime e eu não posso estar feliz e distante enquanto o povo aqui é massacrado”.

Mondlane prometeu também que vai visitar as valas comuns das vitimas de baleamentos durante as manifestações pós eleitorais e acrescenta: “Estou também disponível a submeter-me à justiça e provar quem são os verdadeiros culpados”

Após a declaração, Mondlane prestou juramento aos moçambicanos e prometeu trabalhar pela transformação do país: “Juro pela minha honra servir à pátria e ao povo moçambicano, respeitar a constituição e as leis, usar todas as minhas energias físicas e psicológicas em benefício desta terra, para que em 5 ou 10 anos se torne uma das maiores nações do mundo.”

À saída do aeroporto, o político atraiu uma multidão de apoiantes. Apesar da manhã chuvosa, centenas de pessoas participaram. Contudo, o evento foi abruptamente interrompido quando a polícia disparou contra os presentes, o que resultou na morte de três pessoas e na dispersão forçada dos manifestantes. O local do comício tornou-se palco de pânico e confusão.

Na intervenção que fazia, na zona do Mercado Estrela, cerca das 10h00 locais (menos duas horas em Lisboa), Venâncio Mondlane voltou a dizer que vai até às últimas consequências pela reposição da verdade eleitoral, reafirmando-se vencedor das eleições gerais de 9 de outubro.

Ao fim de alguns minutos, ao falar aos apoiantes em cima de um carro de som - em que simbolicamente voltou a prestar juramento numa autodenominada "tomada de posse" -, e depois de vários disparos e gás lacrimogéneo lançado na envolvente pela polícia, uma carga policial provocou a fuga generalizada, logo o após o apelo para desmobilização, perante o som dos tiros, lançado por Venâncio Mondlane.

"Quando chegámos aqui a polícia veio com rajadas. Mataram um, dois, três. A bala está aqui", afirmou um dos apoiantes, Nélson Fumo, revoltado, ainda no Estrela.

Seguiram-se momentos de caos, com rajadas de tiro e novos lançamentos de gás lacrimogéneo, depois de um cortejo com milhares de pessoas a acompanharem o carro de Venâncio Mondlane do aeroporto até ao centro de Maputo.

"Que nos matem todos, menos o nosso presidente", afirmou Nélson Abrenjare, outro apoiante, logo após a carga policial, acrescentando o objetivo: "Para repormos a verdadeira liberdade, isto não tem nada a ver com liberdade".

No mesmo momento, Oliveira Chingone garantiu, quando ainda se ouviam rajadas de tiro na zona: "Vamos lutar em nome do nosso país. A Frelimo não vai governar."

Estes apoiantes acabaram por encetar a fuga por várias ruas envolventes, com a polícia a continuar a realizar disparos e lançamento de gás lacrimogéneo.

Este é o segundo incidente violento protagonizado pela polícia envolvendo Mondlane publicamente, enquanto discursava na presença de jornalistas.

Nas primeiras declarações à chegada a Maputo, o candidato presidencial disse não regressar para ter cargos ou regalias, mas sim para fazer história.

Mondlane garantiu não haver qualquer acordo político para o seu regresso. Acusou o regime moçambicano de "genocídio" silencioso contra os apoiantes da oposição.

O político anunciou ainda que o regresso marca o início da nova fase de contestação pós-eleitoral, que denominou de "Ponta de lança".

"Se me quiserem assassinar, assassinem. Se quiserem prender-me, prendam. Sei que, na minha queda, a fúria popular que se vai verificar em Moçambique não tem comparação na história de África e de Moçambique", disse.

Mondlane disse que regressa através do aeroporto internacional de Maputo, às 08h05 locais (06h05 de Lisboa), e garantiu que a sua ausência permitiu que as manifestações e protestos avançassem.

Confrontos entre a polícia os manifestantes já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 pessoas baleadas desde 21 de outubro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.

"Não estive fora de Moçambique por medo. Se estão a matar os nossos irmãos, se estão a destruir lojas dos nossos irmãos, estão a queimar bombas de combustíveis, estão a destruir armazéns, estão a queimar fábricas, alegando que são manifestantes quando não são, para criar ódio entre os irmãos, então se é por mim, se é por causa do Venâncio, então o Venâncio estará quinta-feira, às 08:00, no aeroporto internacional de Mavalane", afirmou, apelando à população para o receber no aeroporto de Maputo.

O Conselho Constitucional (CC) de Moçambique fixou 15 de janeiro para a tomada de posse do novo Presidente, que sucede a Filipe Nyusi.

Em 23 de dezembro, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar.

O anúncio levou de imediato a novos confrontos, destruição de património público e privado, manifestações, paralisações e saques, mas na última semana, sem novas convocatórias de protestos, a situação normalizou-se em todo o país.

O Tribunal Supremo já afirmou, anteriormente, que não há qualquer mandado de captura emitido para Mondlane nos tribunais.

Mas o Ministério Público abriu processos contra o candidato presidencial, enquanto autor moral de manifestações que, só na província de Maputo, terão causado prejuízos, devido à destruição de infraestruturas públicas, no valor de mais de dois milhões de euros.

[Atualizado às 11h10]

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