15 jan, 2025 - 18:36 • Silaide Mutemba, correspondente em Moçambique
Moçambique assistiu, esta quarta-feira, à investidura de Daniel Francisco Chapo como o quinto Presidente da República do país, após três meses de contestação e violência pós-eleitoral em todo o país, protestos que já levam um saldo de mais de 300 mortos e de 600 feridos, nos últimos meses.
A Praça da Independência, em Maputo, que acolhe as principais cerimónias oficiais, esteve vestida a rigor, porém vazia, devido ao forte contingente policial mobilizado para o local, incluindo as imediações do recinto.
Enquanto decorria a tomada de posse na capital de Moçambique, tiros, lágrimas e vozes de manifestantes chamando pelo líder da oposição Venâncio Mondlane ouviram-se pelas ruas de Maputo e de outras províncias.
Apesar da solenidade do evento, a ausência de diversos chefes de Estado convidados foi notória. Portugal esteve representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel e apenas dois presidentes estrangeiros estiveram presentes, nomeadamente Cyril Rhamaposa, da África do Sul, e Umaro Sissoco Embaló, da Guiné-Bissau. Outros países optaram por enviar representantes — incluindo o Ruanda, com quem o antigo Presidente moçambicano Filipe Nyusi mantém boas relações, uma decisão entendida como um "cartão amarelo" à legitimidade de Daniel Chapo.
Num gesto simbólico, o novo Presidente de Moçambique iniciou o seu discurso com um minuto de silêncio pelas vítimas das manifestações contra os resultados eleitorais, do ciclone Chido e do terrorismo em Cabo Delgado.
“Este silêncio lembra-nos o peso da nossa responsabilidade, mas também a força imensa que temos enquanto nação”, referiu Daniel Chapo, que prometeu transformar os desafios do povo em resiliência e prosperidade.
O chefe de Estado, do partido Frelimo, prometeu continuar com o diálogo já iniciado com outras forças políticas e sociais, para que o país alcance a estabilidade política e social.
Anunciou também medidas concretas, como a redução da dimensão do Governo, através da eliminação das figuras de vice-ministro e de secretários de Estado, o reforço da justiça social e investimentos em setores como agricultura e infraestruturas. Também delineou um plano para combater a corrupção e modernizar a administração pública, comprometendo-se a ouvir as vozes da juventude.
“Moçambique não pode continuar refém da corrupção e do clientelismo. Cada metical público será investido com responsabilidade e transparência”, garantiu, acrescentando que o seu governo não tolerará gestores ineficientes ou envolvidos em esquemas ilícitos.
Chapo prometeu combater a corrupção, reduzir a desigualdade e implementar reformas estruturais em setores-chave como educação, saúde e segurança. “O sofrimento do nosso povo não será ignorado. Vamos enfrentar os problemas de frente, com determinação e coragem”, afirmou.
Na área mineira, que tem estado a dividir opiniões em Moçambique, Chapo garante reformas profundas, sobretudo nas concessões e nos ganhos da exploração pelas multinacionais. “Vamos assegurar que as comunidades locais afetadas pela mineração recebam benefícios reais, como royalties, empregos e programas de desenvolvimento social ou responsabilidade social. O tempo de exploração irresponsável vai acabar”, prometeu.
Daniel Chapo, de 48 anos, herda um país dividido e destruído pela ação violenta dos protestos pós-eleitorais. A sua eleição é contestada nas ruas após resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições terem dado vitória a Chapo, com 70% dos votos. Venâncio Mondlane não foi além de 24%, mas não aceita os resultados oficiais e declarou-se vencedor.
Os manifestantes que se fizeram às ruas esta quarta-feira, para protestar contra os resultados eleitorais e a tomada de posse, foram brutalmente agredidos com cassetetes repelidos com gás lacrimogéneo pela polícia.
Dados das organizações da sociedade civil indicam que, na sequência das ultimas manifestações e confrontos, pelo menos seis pessoas morreram em Nampula e outras seis em Maputo.