17 jan, 2025 - 16:33 • Redação
Os incêndios em Los Angeles são muito diferentes dos incêndios selvagens que destroem florestas. Segundo um artigo publicado no jornal Nature, os incêndios têm ganhado proporções "sombrias", transformando-se em "aterradores de tempestades de fogo urbanas". Queimam zonas habitacionais, com grande densidade populacional, em grande dimensão e deixam um enorme rasto de destruição por onde passam. Nestas zonas, "os próprios edifícios tornam-se combustível".
O que aconteceu em Los Angeles resulta da combinação de vários fatores: densidade populacional em terrenos íngremes e florestais, ventos fortes e mudança abrupta de condições meteorológicas.
Os cientistas há muito alertam para as alterações climáticas e as suas consequências, nomeadamente a subida das temperaturas e o aumento de períodos de chuvas e de seca. Durante o ano 2023 e parte de 2024, Los Angeles teve períodos de chuvas "anormalmente elevados". Estas chuvas promoveram o crescimento da vegetação naquela região. Porém, desde o mês de julho que as chuvas diminuíram e, por consequência, a vegetação secou. A este fator chamam de hydroclimate whiplash, que descreve a variação de temperatura e de precipitação e as suas consequências, que podem vir a piorar. Com mais pessoas a deslocarem-se para áreas urbanas com zona florestal, maior a probabilidade de os incêndios atingirem essas áreas.
Segundo um artigo de DW News, lugares como a Califórnia e o Mediterrâneo, que têm climas mais secos e subtropicais, estão mais suscetíveis a incêndios. São zonas que têm tendência a atravessar um maior período de calor e de seca, o que as torna mais vulneráveis. As alterações climáticas vieram prejudicar ainda mais. No entanto, apenas isto não explica as dimensões dos últimos incêndios.
É necessário haver um trabalho de consciência populacional, quer na precaução quer no combate aos incêndios, afirma Julie Berckmans, especialista em avaliação dos riscos climáticos da Agência Europeia do Ambiente. Explica como este trabalho é fundamental, uma vez que a maioria dos fogos são provocados por humanos.
Acrescenta ainda que é preciso haver mais investimento em sistemas de alerta e em gestão florestal. São precisos mais recurso na prevenção de incêndios e na limpeza e planeamento dos espaços verdes, incluindo jardins e a escolha que espécies de plantas mais inflamáveis.
Trabalho científico está a ser feito para perceber como o fogo sai das áreas selvagens para as zonas urbanas. Investigadores já apuraram que as construções devem ter seis metros de distância, no mínimo, para evitar que as chamas e o calor de um edifício consumido pelo fogo se propagem tão facilmente.
No âmbito deste estudo, conduzido na Florida pelo Insurance Institute for Business and Home Safety, foram incendiadas casas modelo para perceber como o fogo se propaga e que fatores exatos podem estar envolvidos.
Noutro estudo, investigadores recorreram a modelos informáticos para, a partir dos incêndios florestais na Califórnia em 2017, poderem estudar a forma como as brasas que foram levadas pelo vento e o calor do incêndio se combinaram para destruírem habitações. Outra investigação procura entender como as brasas são transportadas pelo vento, caindo nos edifícios e acumulando-se numa incineração lenta.
Nem sempre as chamas precisam de chegar às cidades para afetarem habitações. O fumo tem a capacidade de viajar milhares de quilómetros, cobrindo as zonas urbanas, e trazendo brasas que podem despoletar incêndios dentro das cidades. Guillermo Rein, cientista do Imperial College de Londres, conduziu um estudo sobre os incêndios florestais que afetaram a Califórnia e Portugal. Com os seus colegas, descobriram que cobrir as zonas de ventilação dos edifícios pode impedir a entrada de pequenas brasas e aumentar a probabilidade de sobrevivência.
Os incêndios de Los Angeles deixaram um rasto de cinza, entulho e silêncio em algumas das áreas mais conhecidas e luxuosas daquela região da Califórnia.
Mais de 12 mil estruturas foram destruídas, centenas de milhares de pessoas evacuadas e 24 morreram, nos fogos mais mortíferos e destrutivos que o estado da Califórnia já viu. Porém, este não é o primeiro grande incêndio que devasta uma área urbana. 2024 ficou marcado por imagens de destruição de cidades na Grécia, Itália, Canadá, Africa do Sul e Japão. Também os portugueses ficaram marcados pelos grandes incêndios no norte do país em setembro, que devastaram florestas e casas e provocaram várias mortes.