21 jan, 2025 - 20:57 • Diogo Camilo
A venda de medicamentos para a diabetes, como o Ozempic, pelo seu efeito de emagrecimento está a provocar escassez no mercado e levou a uma alargada investigação do fenómeno pelo Infarmed, que começa nos fabricantes, passa pelos distribuidores e vai até às farmácias e sistemas de saúde.
Um estudo divulgado esta segunda-feira na revista científica Nature Medicine aponta agora para os problemas do consumo destes medicamentos, que fazem aumentar os riscos de artrites, náusea e vómitos, de dores de cabeça, dores abdominais, distúrbios de sono, situações como hipotensão arterial, a doença de de refluxo gastroesofágico e gastrites.
Para a investigação, feita pelo Centro de Pesquisa de Epidemiologia Clínica (CERC) de uma agência federal norte-americana, foram observadas quase 2 milhões de pessoas entre outubro de 2017 e o fim de 2023, com cada uma a participar no estudo durante uma média de 3,68 anos.
Foram comparados os efeitos entre mais de 200 mil indivíduos com diabetes que tomaram medicamentos da família do Ozempic (os agonistas da GLP-1, cujo princípio ativo são a semaglutida e a tirzepatida), mais de 500 mil pessoas que tomavam outros tipos de medicamentos contra a diabetes (como inibidores da DPP-4, sulfonilureias e inibidores da SGLT2) e um grupo de controlo com mais de 1,2 milhões de pessoas.
Investigação
Medicamentos como o Ozempic têm sido procurados pe(...)
Ao lado de outros medicamentos, os da família do Ozempic mostraram efeitos em doenças cardíacas, renais ou respiratórias, com redução da doença de Alzheimer em 12%.
“O que me saltou à vista foi o efeito consistente em doenças por abuso de substâncias”, avança à Nature Ziyad Al-Aly, um dos investigadores do estudo, referindo que, como estes medicamentos atuam ao nível das zonas cerebrais envolvidas no controlo de impulsos, podem reduzir a vontade por tabaco, álcool, canábis ou opióides.
No entanto, o estudo também encontrou riscos sérios, como um aumento de 11% nos casos de artrite ou de 146% do risco de pancreatite, uma inflamação do pâncreas que provoca dores intensas.
Os investigadores salientam ainda que, como estes medicamentos atuam em tantas partes diferentes do corpo ao mesmo tempo, podem influenciar o risco de várias doenças ao mesmo tempo. No entanto, o estudo tem limitações, uma vez que estudou uma população idosa, maioritariamente masculina e caucasiana.
Os medicamentos como o Ozempic, que tem como substância ativa o semaglutido, são usados principalmente para o tratamento da diabetes tipo 2, pois ajudam a baixar os níveis de açúcar no sangue, reduzindo o risco de complicações cardiovasculares.
Como suprime o apetite, o Ozempic revelou-se também eficaz na perda de peso em adultos obesos ou com excesso de peso com problemas de saúde associados.
A procura crescente pelo medicamento foi registada no final de 2022, especialmente depois de marcas específicas terem sido aprovadas para a perda de peso em alguns países. A Organização Mundial da Saúde já emitiu avisos de que a procura do medicamento para emagrecer, não sendo satisfeita, "está provavelmente" a levar à produção falsificada do fármaco.
Em Portugal, o Ozempic, autorizado e comparticipado para o tratamento da diabetes de tipo 2, chegou a estar esgotado em finais de 2023 devido à sua prescrição para a perda de peso.