27 jan, 2025 - 07:58 • Hugo Monteiro , Olímpia Mairos
Sem Netanyahu nem Putin, vários líderes mundiais juntam-se esta segunda-feira em Auschwitz para lembrar as vítimas do Holocausto. Esta segunda-feira passam, 80 anos da libertação do campo de concentração.
A cerimónia vai contar com presidentes, primeiros-ministros, monarcas - mas não vai haver discursos políticos, apenas dos sobreviventes.
Na leitura do historiador e professor José Miguel Sardica, está a crescer um sentimento de perseguição contra os judeus, mas a memória de Auschwitz deve servir como alerta para que não se repitam erros do passado.
"Sobretudo desde o ataque do Hamas sobre judeus, temos visto recrudescer uma enorme onda de antissemitismo”, diz Sardica à Renascença.
"Recordar os seis milhões de judeus assassinados durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de um milhão e meio só em Auschwitz-Birkenau, é um gesto de memória, é um gesto de humanidade e é um alerta cívico contra qualquer forma de intolerância”, defende.
“Se é verdade que a história mudou para melhor em 45 e mudou para melhor em 1989, entretanto, a história já voltou a mudar num sentido negativo”, alerta o também comentador da Renascença.
Nestas declarações, José Miguel Sardica lamenta o que diz ser o negacionismo do Holocausto, apesar de todas as provas que existem, alertando que ninguém pode hoje garantir que nunca mais se irá repetir.
“A história não tem fins. Ninguém pode garantir, porque ninguém pode antecipar o futuro, de que nunca mais haverá campos de concentração até porque eles existem, nós não lhe chamamos assim, mas há muitos regimes por esse mundo fora à direita e à esquerda que são ditatoriais”, assinala.
José Miguel Sardica sublinha que “felizmente, na Europa” não existem esses regimes, advertindo, no entanto, que “a Europa não deve esquecer que o mundo não é só a Europa e que por esse mundo fora há muita intolerância, há muita segregação racial”.
“E, infelizmente, esses valores começam a penetrar a cultura política europeia”, nota.
“Dir-se-á é possível uma Auschwitz-Birkenau na Europa? Eu quero acreditar que não, mas o simples facto de nós estarmos a ter esta entrevista é sintoma de que o clima mental mudou. Se calhar não era tão importante ou não era tão simbólico recordar Auschwitz há 15 anos, 20 anos, mas hoje é muito importante”, conclui.