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Tragédia em Washington

Pior desastre aéreo da última década nos EUA. O que sabemos?

30 jan, 2025 - 20:49 • Diogo Camilo , Ricardo Vieira

O helicóptero militar estava em prova de voo e não terá respondido à torre de controlo antes da colisão sobre o rio Potomac. Entre as vítimas a bordo do avião estão um piloto com casamento marcado, uma dupla campeã mundial de patinagem, uma jovem equipa e as suas mães. Trump aproveitou conferência de imprensa para criticar políticas de diversidade na contratação de controladores de tráfego aéreo.

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A colisão entre um avião da American Airlines e um helicóptero do Exército dos Estados Unidos, em Washington, provocou a morte de 67 pessoas durante a madrugada desta quinta-feira, com os destroços a caírem às águas do rio Potomac.

Ainda não são conhecidas as causas do trágico acidente, ocorrida numa das zonas aéreas mais congestionadas dos Estados Unidos e do mundo, junto ao Aeroporto Ronald Reagan, nem a razão para a localização do helicóptero à mesma altitude em que o avião de passageiros se preparava para aterrar.

Em conferência de imprensa, o chefe das operações de resgate afirmou “não acreditar que haja sobreviventes” daquele que será o mais grave desastre aéreo envolvendo um voo comercial nos Estados Unidos em mais de uma década, algo confirmado horas depois pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.

Cronologia do acidente

23h18 de quarta-feira (hora de Lisboa, 18h18 em Washington)

O voo 5342, operado pela PSA Airlines, parte de Wichita, no estado do Kansas, com 60 passageiros a bordo e quatro tripulantes.

1h45 de quinta-feira (hora de Lisboa, 20h45 em Washington)

O voo 5342 aproxima-se do Aeroporto Ronald Reagan.

1h46 de quinta-feira (hora de Lisboa, 20h46 em Washington)

Controladores aéreos pedem ao voo 5342 que a aterragem seja feita na pista 33, ou seja, a pista perpendicular ao rio Potomac. Os pilotos confirmam.

1h47 de quinta-feira (hora de Lisboa, 20h47 em Washington)

Os controladores aéreos tentam contactar o piloto do helicóptero, segundos antes da colisão com o avião de passageiros.

1h48 de quinta-feira (hora de Lisboa, 20h48 em Washington)

Cerca de 15 minutos antes da hora programada para a aterragem, a Administração Federal de Aviação (FAA) emite um alerta sobre um incidente aéreo no aeroporto Ronald Reagan, o que dá lugar a uma grande resposta da polícia, bombeiros e autoridades do aeroporto em Washington.

1h58 de quinta-feira (hora de Lisboa, 20h58 em Washington)

A primeira equipa de emergência chega ao local, encontrando destroços do avião no rio Potomac. A operação de resgate e salvamento começa imediatamente.

2h09 de quinta-feira (hora de Lisboa, 21h09 em Washington)

As equipas de emergência comunicam pela primeira vez ao público o incidente. “Um pequeno avião caiu no rio Potomac, nas proximidades do aeroporto nacional Reagan. Barcos de bombeiros estão a caminho”, escreveram.

3h09 de quinta-feira (hora de Lisboa, 22h09 em Washington)

A American Airlines confirma que o voo 5342 esteve envolvido num acidente. Pouco depois, a FAA emite um comunicado no qual refere que o avião “colidiu em pleno ar” com um helicóptero quando se aproximava para aterrar.

5h06 (hora de Lisboa, 00h06 em Washington)

O novo secretário de Estado da Defesa, Pete Hegseth, afirma que o Exército está a investigar a colisão, informando que no helicóptero estavam três militares.

5h53 (hora de Lisboa, 00h53 em Washington)

Em conferência de imprensa, não é avançado o número de mortes, sendo apenas indicado que estão envolvidas cerca de 300 pessoas nas buscas, com mergulhadores e barcos a procurarem sobreviventes entre os destroços, e que a água fria, o vento e a visibilidade estavam a dificultar as operações de resgate.

12h30 (hora de Lisboa, 7h30 em Washington)

As autoridades indicam, em conferência de imprensa, que não acreditam que haja sobreviventes neste acidente.

16h00 (hora de Lisboa, 11h00 em Washington)

Em conferência de imprensa, o Presidente dos EUA confirma que não há sobreviventes do acidente e que se desconhecem as causas da colisão.

Que aeronaves estiveram envolvidas no acidente?

O helicóptero do Exército norte-americano é um Sikorsky UH-60 Black Hawk, que levantou voo de Fort Belvoir, a cerca de 25 quilómetros do aeroporto, com três soldados da Companhia B do 12.º Batalhão de Aviação.

Em esclarecimentos, o secretário da Defesa indicou que a aeronave estava numa prova de voo anual, mais concretamente durante uma avaliação noturna com óculos de proteção padrão, indicando que a equipa responsável era “bastante experiente”, que ambos os voos “estavam no seu normal padrão de voo” e que a aterragem de um avião enquanto uma aeronave militar sobrevoa o rio “não é incomum”.

Em audição no Senado, o nomeado por Trump para secretário do Exército, Daniel Driscoll, afirmou que o acidente parece que podia ter sido prevenido, questionando a necessidade de testes perto de um aeroporto tão movimentado.

O Black Hawk é um dos helicópteros militares mais icónicos, que desempenha diversas funções para as forças armadas dos EUA, incluindo assalto aéreo, apoio geral, evacuação médica, comando e controlo e suporte a operações especiais.

A aeronave envolvida no acidente voava com o indicativo de chamada PAT25 e tinha três ocupantes.

Mais de cinco mil Black Hawks foram construídos desde o início da produção, em meados da década de 1970.

O avião com o voo 5342 partiu de Wichita, no estado de Kansas, e tinha como destino o aeroporto de Washington.

O avião de passageiros Bombardier CRJ700 pode acomodar cerca de 70 pessoas, sendo considerado um cavalo de batalha da aviação comercial regional. Há cerca de 260 aeronaves em serviço, de acordo com a Cirium, uma empresa de dados de aviação.

O avião que colidiu com o helicóptero foi registado como N530EA e fabricado em 2010, de acordo com a Administração Federal de Aviação. Havia 60 passageiros e quatro tripulantes a bordo.

Durante as buscas foi encontrada uma das caixas-negras do avião, desconhecendo-se se será a gravação de voz do cockpit ou a que recolhe dados sobre o comportamento do avião, avançou a CBS News.

Áudio capta momentos antes da colisão das aeronaves

O áudio do LiveATC.net, fonte fidedigna para gravações de voo, capturou as comunicações finais entre os três tripulantes do helicóptero - com o indicativo de chamada PAT25 - antes de colidir com o avião CRJ700 da Bombardier.

"PAT25, têm um CRJ à vista? PAT25, passe atrás do CRJ", disse um controlador de tráfego aéreo às 20h47 (horas locais).

Segundos depois, outra aeronave ligou para o controlo de tráfego aéreo, a dizer: "Torre, viram isso?" - aparentemente referindo-se ao acidente.

Um controlador de tráfego aéreo redirecionou os aviões que se dirigiam para a pista 33 do Aeroporto Nacional Ronald Reagan

"Acidente, acidente, acidente, aqui é um alerta três", ouve-se no áudio.

"Não sei se percebeu o que aconteceu, mas houve uma colisão na aproximação para a 33. Vamos interromper as operações por tempo indeterminado", comentou outro controlador.

"Tanto o helicóptero quanto o avião caíram no rio", diz um terceiro controlador de tráfego aéreo.

"Eu só vi uma bola de fogo, que simplesmente desapareceu. Não vi nada desde que eles caíram o rio", refere.

Um piloto noivo, uma dupla campeã da patinagem e jovens promissores

Entre as vítimas do acidente estão Vadim Naumov e Evgenia Shishkova, que como dupla venceram o Campeonato do Mundo de patinagem artística em 1994, e que eram agora treinadores do Clube de Patinagem de Boston.

A sua morte começou por ser anunciada pelo jornal local Wichita Eagle e foi confirmada pela própria Rússia, através do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Além deles, também estava no avião Inna Volyanskaya, também ela antiga patinadora pela União Soviética, que treinava o clube Ashburn Ice House, no estado da Virgínia.

Mais quatro pessoas com ligações ao clube de patinagem de Boston morreram, confirmou o CEO Doug Zeghibe: os atletas Jinna Han e Spencer Lane e as suas mães, Jin Han e Christine Lane.

A American Airlines confirmou que quatro tripulantes estavam a bordo do avião, não avançando nomes. A bordo do helicóptero militar estavam três militares, nenhum deles superior.

Um dos dois pilotos era Sam Lilley, de 28 anos, confirmou o seu pai, Timothy, ao canal Fox News, adiantando que o jovem estava noivo. O pai do piloto falecido acrescentou ainda a sua versão dos acontecimentos, contando que serviu como piloto de helicópteros militares durante 20 anos e que já percorreu o mesmo percurso pelo rio Potomac.

“Posso dizer que o caminho, à noite e mesmo com óculos de visão nocturna, seria muito difícil ver o avião”, afirmou.

Trump culpa diversidade e inclusão no recrutamento

Durante a conferência de imprensa em que confirmou que não há sobreviventes do acidente, Donald Trump culpou as políticas implementadas por Barack Obama, que foram revertidas durante o seu tempo na Casa Branca e que voltaram a ser implementadas por Joe Biden.

No centro das críticas de Trump estão as DEI (políticas de Diversidade, Igualdade e Inclusão) da Federação de Aviação, com o presidente norte-americano a dizer que tem “opiniões e ideias fortes” sobre as causas do acidente. E não mostrou reservas em expô-las enquanto não está concluída a investigação ao caso.

“Mudei os padrões da administração Obama de medíocres para extraordinários. Depois, quando Biden assumiu, eles pioraram. Já eu coloquei sempre a segurança primeiro. Obama e Biden colocam a política à frente”, afirmou o novo presidente.

“Na verdade, apareceram com uma política que diz: ‘demasiado branco’. E nós queremos pessoas que sejam competentes. A FAA está a recrutar trabalhadores com deficiências intelectuais graves, problemas psiquiátricos e outras condições mentais e físicas sob uma iniciativa de contratação de diversidade e inclusão”, alegou Trump, que acrescentou que a posição de controlador de tráfego aéreo precisa de “génios naturalmente talentosos”.

Trump apontou ainda que os sistemas de controlo do tráfego aéreo não foram construídos de maneira correta e que foi gasto demasiado dinheiro neles.

“Gastaram muito dinheiro a renovar o sistema, a gastar muito mais dinheiro do que teriam gastado se tivessem comprado um novo sistema para os controladores aéreos, com sistemas computadorizados. Há muitas empresas que fazem um trabalho muito bom e não as usaram”, disse.

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