03 fev, 2025 - 23:55
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, instou esta segunda-feira a União Europeia a "usar a capacidade de argumentação para convencer" o Presidente norte-americano, Donald Trump, a não impor taxas aduaneiras ao bloco comunitário, dado não ser "uma boa decisão para ninguém".
"Nós, na Europa, temos consciência de que essa decisão, a ser tomada, não será uma boa decisão para ninguém e é preciso também dizer isto e é preciso usar a capacidade de argumentação para convencer precisamente a administração americana a não ir por esse caminho", disse Luís Montenegro.
Falando em Bruxelas à margem do primeiro retiro de líderes da União Europeia (UE), iniciativa criada para debates mais informais entre os chefes de Governo e de Estado europeus e dedicada à área da segurança e defesa, o primeiro-ministro português apontou que esse seria "um caminho que vai levar à inflação, vai levar ao aumento dos preços, dos preços que se vão praticar na indústria e no mercado americano e que também vão estar, naturalmente, na esfera europeia".
Numa altura em que Donald Trump ameaça a UE com novas tarifas aduaneiras, o chefe de Governo português garantiu que "a Europa não deixará de ter, em primeiro lugar, como prioridade, o diálogo político com a administração americana".
"É isso que nós temos defendido, é isso que eu tenho defendido também nas reuniões do Conselho, [que] é prioritário estabelecer um diálogo que possa evitar [esse cenário]", adiantou Luís Montenegro, assegurando que a relação comercial transatlântica ainda está numa "boa fase" e que "é possível" mantê-la.
"Estamos atentos e a Europa terá de ter uma resposta, que não pode ser de retaliação, mas de adaptação a uma nova realidade", mas antes um "ataque de sensibilização", concluiu.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que os produtos europeus vão ser sujeitos a taxas aduaneiras "muito em breve", na sequência da imposição de tarifas à importação de produtos do Canadá, México e China.
"Estão realmente a aproveitar-se de nós, temos um défice de 300 mil milhões de dólares [293 mil milhões de euros]. Não levam os nossos automóveis nem os nossos produtos agrícolas, praticamente nada, e todos nós compramos, milhões de automóveis, níveis enormes de produtos agrícolas", disse no domingo à imprensa.
A Comissão Europeia, que detém a competência da política comercial na União Europeia, lamentou no mesmo dia o aumento das taxas aduaneiras pelos Estados Unidos da América sobre produtos do Canadá, do México e da China, e disse que vai retaliar fortemente se for alvo de tarifas injustas.
A instituição garantiu que, se o bloco europeu for também alvo dessas medidas, o executivo comunitário vai retaliar.
As declarações de Luís Montenegro foram à margem do primeiro retiro de chefes de Governo e de Estado da UE, numa iniciativa do presidente do Conselho Europeu, António Costa, que tomou posse em dezembro passado, para promover o diálogo informal entre os altos responsáveis europeus sem a pressão de chegar a conclusões ou decisões, como acontece nas cimeiras europeias regulares.