06 fev, 2025 - 06:05 • Lusa
A organização internacional médico-humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou esta quinta-feira o aumento da "violência física extrema" de colonos e tropas israelitas contra palestinianos na Cisjordânia e da obstrução à prestação de cuidados de saúde naquele território palestiniano.
Num relatório divulgado, intitulado "Infligir danos e negar cuidados - Padrões de ataque e obstrução a cuidados de saúde na Cisjordânia", a MSF sublinha que a escalada de violência na Cisjordânia - desde que Israel declarou guerra contra o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, a 7 de outubro de 2023 -- "tem dificultado gravemente o acesso aos cuidados de saúde e faz parte de um padrão de opressão sistémica por parte de Israel, que foi descrito pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) como correspondendo a segregação racial e 'apartheid'".
Segundo a organização, no total, pelo menos 870 palestinianos foram mortos e mais de 7.100 ficaram feridos entre outubro de 2023 e janeiro de 2025, tendo-se a violência israelita contra palestinianos e os ataques e obstrução a cuidados de saúde intensificado mais ainda desde que entrou em vigor o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, a 19 de janeiro, agravando "as terríveis condições de vida de muitos palestinianos, que estão a pagar um elevado preço físico e psicológico".
O relatório, que abrange o período de um ano, entre outubro de 2023 e outubro de 2024, assenta em entrevistas a 38 doentes e funcionários da MSF, paramédicos de equipas hospitalares e voluntários apoiados pela MSF, que relatam "longas e violentas incursões militares israelitas e restrições de movimentos mais rígidas, todas as quais prejudicaram gravemente o acesso a serviços essenciais, particularmente cuidados de saúde".
"Os doentes palestinianos estão a morrer, porque simplesmente não conseguem chegar aos hospitais", afirmou o coordenador de emergência da MSF, Brice de le Vingne, citado no relatório.
"Estamos a assistir a ambulâncias bloqueadas pelas forças israelitas nos postos de controlo enquanto transportam doentes em estado crítico, instalações médicas cercadas e invadidas durante cirurgias e profissionais de saúde alvos de violência física enquanto tentam salvar vidas", descreveu.
Um número crescente de ataques contra profissionais e instalações médicas foi relatado às equipas da MSF, indica o relatório, "incluindo ataques a hospitais e destruição de instalações médicas improvisadas em campos de refugiados, além de perseguição, detenção, ferimentos e morte de socorristas e profissionais médicos pelas forças israelitas".
Em suma, a Médicos Sem Fronteiras sublinha que "o sistema de saúde na Cisjordânia está sob imensa pressão e forçado a um estado de emergência perpétuo" e que Israel, "enquanto potência ocupante, tem obrigações jurídicas nos termos do Direito Internacional para garantir o acesso aos cuidados de saúde e proteger os profissionais de saúde", pelo que a organização lhe dirige um apelo "para pôr fim à violência contra profissionais de saúde, doentes e instalações médicas e para cessar de impedir o pessoal médico de realizar missões que salvam vidas".