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Redução do horário de trabalho em Espanha. O que pensam os galegos?

07 fev, 2025 - 07:00 • Olímpia Mairos

Se, para uns, a medida é boa e vai permitir melhor qualidade de vida, outros consideram que pode prejudicar a economia. Já os sindicatos alertam para a possibilidade do regresso às horas extraordinárias ilegais.

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Reportagem em Verín - Jornada de trabalho em Espanha
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Trabalhar menos meia hora por dia e ganhar o mesmo agrada aos trabalhadores galegos. A medida pode ser implementada ainda este ano pelo Governo de Pedro Sánchez e reduz a jornada de trabalho para 37,5 horas semanais.

“Vai permitir estar mais tempo com a família, reduzir o stress e aumentar a produtividade”, diz à Renascença José Perez.

Também Eva García, que trabalha em uma agência de viagens em Verín, acredita que a redução do horário de trabalho traz benefícios a todos.

“É muito bom. Vai permitir um maior descanso e não vai prejudicar ninguém, porque, para quem tem uma porta aberta, tanto faz mais meia hora como menos meia hora”, antecipa.

Questionada sobre se a redução de horário de atendimento ao público não vai implicar vender menos viagens, Eva refuta a ideia e, com base em experiências do passado, diz que “as pessoas habituam-se facilmente quando os horários são alterados”.

Já “na restauração ou em fábricas que trabalhem em turnos de oito horas”, admite que pode ser “mais complicado”, insistindo, no entanto, que “é uma questão de hábito e de mudar algumas regras”.

Iría Martinez não se mostra tão confiante. Apesar de ser trabalhadora, e até lhe agradar a redução do horário de trabalho, coloca-se no lugar do empregador e entende que a medida vai ser prejudicial para a economia.

“Para o trabalhador está muito bem, mas para o patrão nem sempre é possível e neste país cai tudo em cima dos patrões”, diz.

Iría trabalha num café e já fez as contas: “meia hora por dia ao final do mês” implica “ter de contratar mais um trabalhador a meio tempo e isso tem custos”, por isso, entende que a medida “não é aplicável”.

A mesma opinião tem Yaco Fernandez, que trabalha na hotelaria. O jovem de 24 anos teme mesmo o encerramento dos pequenos comércios, “porque não podem adaptar-se a esse estilo de horários”.

Já “nas grandes empresas talvez seja possível, porque a dinâmica é outra”, observa.

À Renascença, Óscar Núñez Álvarez, secretário da união local da Confederação Intersindical Galega, considera que “reduzir a jornada laboral, mantendo os salários, é muito boa notícia para a classe trabalhadora”, mas adverte para um problema que pode surgir em consequência.

“Se reduzirmos meia hora de jornada, os empresários vão querer tirar a rentabilidade de algum sítio. Não vão querer perder a rentabilidade. Se um dia querem produzir ‘x’ mercadorias, eles vão procurar a forma de os trabalhadores as produzirem. O medo que temos é que voltemos outra vez a fazer horas ilegais, economia “negra”, conta.

Para o sindicalista, engane-se quem pensa que a medida vai fomentar a criação de novos postos de trabalho, porque isso não vai acontecer.

Os empresários “não vão contratar novo pessoal para suprir essas horas. Então, aí vão ter de estar muito firmes a inspeção de trabalho e os sindicatos, para fazerem cumprir a lei”, observa.

No entender de Núñez Álvarez, além da redução do horário de trabalho, são precisos melhores salários, adiantando que os salários na Galiza são inferiores aos praticados na maioria das outras regiões espanholas, o que está a provocar a imigração interna.

“É verdade que há um salário mínimo nacional, mas, depois, há os convénios que permitem pagar salários inferiores”, alerta, acrescentando que, “se os salários fossem iguais em todas as regiões, não haveria esta imigração, esta falta de trabalhadores na zona de Ourense”.

“Temos falta de mão de obra. Não há serventes de primeira na construção, não há quem queira aprender o ofício na construção, picheleiros, carpinteiros... Falta-nos mão de obra especializada e, o mais grave, neste momento, prende-se com a falta de profissionais para o serviço de apoio domiciliário”, lamenta.

Empresários colocam reticências

Para José Sánchez, um pequeno empresário no ramo da pichelaria, com três funcionários, é impraticável reduzir o horário de trabalho, argumentando que “as despesas já são muito grandes”.

“Seis horas e meia e o mesmo salário “é incomportável” diz José, sublinhando que, em Espanha, “um trabalhador custa por mês mais de 700 euros de seguro, mais o salário, que são 1.200/1.300 euros, as férias e os extras”.

Na visão do empresário, talvez as grandes empresas tenham capacidade para implementar a medida – até porque os trabalhadores merecem, mas, para as pequenas, significará um “estrangulamento” da atividade.

Também Xermano Lopez entende que nas pequenas empresas – se a medida avançar – “o impacto será muito negativo, porque da maneira que as coisas estão, não há capacidade para novas contratações e o trabalho não pode ficar por fazer”.

Já Álvarez Santos, secretário da Associação Empresarial de Verín, acredita que, no concelho, a redução do horário de trabalho não terá grandes consequências. Tratando-se de um concelho onde o comércio é a principal atividade económica, o empresário pensa que será possível um ajuste sem que isso se reflita na faturação no final do mês. Ainda assim – sublinha – será necessário esperar para ver.

“No setor do comércio, penso que não vai afetar muito. Vamos ver como acertar as horas dos trabalhadores e dos estabelecimentos e só mais tarde saberemos se isso tem implicações”, diz, admitindo, no entanto, que é algo que “preocupa” e que “contestam”.

Comentários
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  • Carlos
    07 fev, 2025 Benfica 09:35
    Bom dia! O ideal, utópico, é que o trabalho não fosse necessário para ninguém! Isso , só no Céu!

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