08 fev, 2025 - 09:21 • Lusa
[Notícia atualizada às 13h16 de 8 de fevereiro de 2025 para acrescentar declarações de Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Rangel]
A cerimónia fúnebre do príncipe Karim al Hussaini, 49.º imã hereditário dos muçulmanos ismaelitas, que morreu na terça-feira, decorre este sábado no Centro Ismaili, em Lisboa, na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Aga Khan, que morreu na terça-feira aos 88 anos, terá uma cerimónia de acordo com as tradições ismaelitas, como a dos demais crentes, simples e centrada em orações que são, em grande parte, recitações de versículos do Corão.
Além da família, o evento é aberto apenas a convidados, que podem apresentar condolências aos familiares e desfilar junto à urna numa última apresentação de cumprimentos. Nas primeiras imagens da cerimónia, é possível ver que o líder canadiano Justin Trudeau, e Juan Carlos I, rei emérito de Espanha, por exemplo, figuram entre os presentes.
São esperadas centenas de pessoas, entre as quais líderes da comunidade ismaelita espalhada pelo mundo e da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, assim como representantes das autoridades portuguesas e dignitários estrangeiros.
O Presidente da República disse na quinta-feira que estaria presente na cerimónia do príncipe Karim, que recordou como "uma figura excecional" e "um grande líder espiritual" de uma comunidade com "milhões e milhões e milhões de seguidores" pelo mundo e "milhares em Portugal".
"O príncipe Aga Khan IV foi sem dúvida um grande ator na paz, no diálogo inter-religioso e na ajuda ao desenvolvimento, na ajuda humanitária de tantas regiões do globo onde há profundas dificuldades, às vezes até de sobrevivência, portanto essa sua compaixão, essa sua dedicação à causa da humanidade tem de ser, obviamente, sublinhada", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros, prestando homenagem e condolências em representação do Governo português.
O ministro dos Negócios Estrangeiros realçou ainda o trabalho do príncipe Aga Khan IV em Portugal, em particular a escolha de Lisboa para ser a sede mundial da comunidade ismaelita, a "Imamat Ismaili".
"Foi de facto um privilégio único para o Estado português, para os cidadãos portugueses, uma grande homenagem também ao nosso espírito universalista e de tolerância religiosa e, portanto, obviamente, que isto tem um significado para o Estado português, que é verdadeiramente transcendente e, por isso, hoje a homenagem através do senhor Presidente da República, e de todo o Governo", afirmou Paulo Rangel.
Referindo que ao longo dos próximos dias "haverá ainda outros momentos importantes" relativos à morte do príncipe Karim al Hussaini, com a comunidade ismaelita em Lisboa, o governante disse que a cerimónia de hoje é para expressar os votos de pesar e "a esperança que ele semeou pelo mundo e, com certeza, o príncipe Aga Khan V vai honrar, porque também é já um grande conhecido de Portugal e dos portugueses, com uma ação muito, muito forte, cada vez mais visível ao longo dos anos".
"Estas sementes que foram espalhadas pelo mundo vão, com certeza, fortificar", perspetivou.
O governante sublinhou ainda o legado de filantropia do príncipe Aga Khan IV, "de mensagem de paz para o mundo, especialmente de cooperação inter-religiosa".
"É admirável esse legado que o Aga Khan IV deixa no convívio entre as religiões, no apoio a todas as populações, independentemente da sua religião, da sua nacionalidade, da sua raça", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, considerando que essa mensagem "universalista e humanista" esteve em todo o seu magistério, que foi longo e que produziu "resultados que são visíveis na vida concreta de muitas dezenas e centenas de milhares de pessoas no mundo, muitas delas que não têm a fé ismaelita".
Paulo Rangel indicou ainda que os registos do Ministério dos Negócios Estrangeiros são de "um diálogo intensíssimo" entre o príncipe Aga Khan, a comunidade ismaelita e o Estado português, referindo que é um parceiro "incomparável".
O Presidente da República lembrou o príncipe Karim al Hussaini como "um homem da paz", e revelou que vai receber o seu sucessor, o príncipe Rahim, na segunda-feira, no Palácio de Belém.
"Como grande líder espiritual, não apenas religioso mas espiritual, foi um homem da paz, foi um homem da concórdia, foi um homem da capacidade de diálogo", afirmou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, referindo-se ao legado do príncipe Karim al Hussaini, que morreu na terça-feira, em Lisboa, aos 88 anos.
Entre o legado do príncipe Aga Khan IV, Marcelo Rebelo de Sousa destacou a decisão "histórica" para a comunidade Ismaili, do ramo xiita do Islão, de criar uma sede em Portugal, nomeadamente em Lisboa, lembrando que essa sede estava ultimamente na Suíça, mas tinha muito peso em países como o Reino Unido e o Canadá, além de uma presença fortíssima na Ásia e em África.
O Presidente da República realçou ainda o contributo do príncipe Aga Khan IV em Portugal como "pioneiro na introdução de robôs e no apoio ao Serviço Nacional de Saúde público na utilização de robôs para cirurgia", assim como a ajuda em várias obras sociais.
"Na educação, na saúde, na solidariedade social, a comunidade ismaelita, por causa da influência do príncipe Aga Khan, teve nos últimos 10 anos, desde 2015/2016, um peso crescente na nossa sociedade, e nós isso nunca esqueceremos", expôs Marcelo Rebelo de Sousa.
Referindo que privou "muitas vezes" com o príncipe Karim al Hussaini, o chefe de Estado disse que este líder religioso "sabia tudo sobre Portugal, tudo sobre a vida portuguesa e era um senhor, um homem de outra época, um homem que tinha conhecido figuras de outra época".
O príncipe Aga Khan IV "foi o mais duradouro líder religioso e espiritual", apontou Marcelo Rebelo de Sousa, indicando que ele viu passar vários Papas e várias personalidades de todas as confissões religiosas, porque "esteve praticamente quase 80 anos à frente" da comunidade Ismaili, uma vez que "começou muito novo".
Relativamente ao seu sucessor, o seu filho mais velho, o príncipe Rahim, agora Aga Khan V, que iniciará funções "a partir da próxima terça-feira", o Presidente da República disse que tem "exatamente a mesma visão" do seu pai, mas com "um estilo diferente", porque "ainda viajou mais" e "conheceu muitas das comunidades que hoje são diferentes do que eram".
Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que o príncipe Rahim é "muito virado" para a juventude, para as novas questões sociais e para a questão "da paz e da guerra e dos entendimentos universais ".
"Vai ser agora o líder espiritual para um mundo que está a nascer", perspetivou, considerando que Aga Khan V vai continuar o trabalho da comunidade Ismaili, "mas a renovação agora é profunda, porque o mundo está a mudar muito".
Em relação ao posicionamento em Portugal, o Presidente da República revelou que, "na segunda-feira, o príncipe Rahim já pediu uma audiência e vai a Belém para apresentar cumprimentos e tornando claro que Portugal tem um papel fundamental e um papel diferente na relação com a comunidade ismaelita".
O príncipe Aga Khan IV, que morreu na terça-feira aos 88 anos, terá uma cerimónia de acordo com as tradições ismaelitas, como a dos demais crentes, simples e centrada em orações que são, em grande parte, recitações de versículos do Corão.
O 49.º imã hereditário dos muçulmanos ismaelitas, nasceu em 13 de dezembro de 1936 na Suíça, cresceu e estudou no Quénia e nos Estados Unidos, e tem ligações ao Canadá, Irão e França, além de Portugal.
Escolheu Lisboa para sede mundial da comunidade ismaelita, a "Imamat Ismaili", tornando-a uma referência para os cerca de 15 milhões de muçulmanos da minoria xiita, perto de 10 mil dos quais vivem em Portugal.
Como sucessor escolheu o seu filho mais velho, o príncipe Rahim, agora Aga Khan V.
No domingo realiza-se o funeral, com uma cerimónia fúnebre privada durante a qual Aga Khan IV será sepultado em Assuão, no Egito, local onde se encontra o mausoléu do seu antecessor e avô, Maomé Aga Khan III.