10 fev, 2025 - 08:36 • Guilherme Correia da Silva, correspondente na Alemanha
A Alemanha está à beira de eleições, e o líder da oposição acusa o chanceler cessante de viver num mundo à parte.
"Você não vive neste mundo", afirmou, este domingo, Friedrich Merz, durante um frente a frente com Olaf Scholz nas televisões públicas ARD e ZDF. Merz e Scholz falavam sobre a política de migração alemã.
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O país foi palco de dois ataques recentes envolvendo cidadãos de origem estrangeira, em Aschaffenburg e Magdeburgo. Em plena campanha, aumentou a pressão para apertar as leis migratórias.
O chanceler Scholz disse que já fez muito: reforçou os controlos nas fronteiras, acelerou as deportações de migrantes ilegais.
"Nunca houve leis tão duras como as que eu apliquei", disse Scholz.
Mas, para o cabeça de lista da CDU/CSU, Friedrich Merz, as medidas tomadas por Olaf Scholz até agora são uma mera gota no oceano: "o que está a dizer aqui é um conto de fadas que quase nada tem a ver com o que acontece na realidade", acusou Merz.
Outro exemplo desse suposto desfasamento de Olaf Scholz é a estagnação da economia, segundo o político conservador.
Durante o debate de domingo, o chanceler Scholz lembrou a baixa taxa de desemprego no país, a tendência crescente de pessoas no ativo e o facto de não ter sido ele, mas Putin, a começar a guerra na Ucrânia, fazendo com que a Alemanha tivesse de parar de importar gás russo, prejudicando a economia.
Mais uma vez, Friedrich Merz acusou Scholz de estar afastado da realidade.
"Estou um pouco espantado com a sua perceção", criticou Merz, citando a pior "onda de insolvências" dos últimos 15 anos e o facto de "uma série" de empresas alemãs estar à procura de outras localizações.
Tanto Olaf Scholz como Friedrich Merz acreditam que podem ser o próximo chanceler alemão após as eleições de 23 de fevereiro.
"Nós temos um plano", assegurou Merz este domingo. "Estabilidade só com o SPD", contrariou Scholz.
A última sondagem aponta para uma vitória dos conservadores de Merz, com apenas 29%. O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) aparece em segundo lugar, com 21% das intenções de voto, e os sociais-democratas de Scholz estão em terceiro, com 16%.
Merz diz que, apesar das divergências, os sociais-democratas continuam na sua lista de possíveis parceiros de coligação, mas Scholz sublinhou que perdeu a confiança em Merz, sobretudo depois dos conservadores aprovarem, no Parlamento federal, com os votos da AfD, uma resolução para agravar as medidas contra a imigração irregular.
Merz "quebrou um tabu" na Alemanha, disse Scholz. O voto foi um sinal de cooperação com o partido de extrema-direita, e isso não augura um bom futuro, insistiu o chanceler. Já Merz garantiu que a chamada "barreira de proteção" contra os populistas continua firme.