18 fev, 2025 - 09:30 • Guilherme Correia da Silva
Estes podem ser os últimos dias de Olaf Scholz como chanceler federal. O social-democrata, de 66 anos, ocupa o cargo desde dezembro de 2021. Antes, foi vice-chanceler e ministro das Finanças, durante a administração de Angela Merkel.
A confiança dos eleitores em Scholz caiu no último ano e meio. 57% dos alemães dão nota negativa ao trabalho do chanceler, de acordo com uma sondagem recente.
Uma das razões para isso é o facto de "o governo cessante não ter conseguido resolver os problemas económicos da Alemanha", afirma Matthew Karnitschnig, um jornalista norte-americano, editor-chefe da Euractiv, que acompanha a política alemã há décadas.
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"Este grau de perceção da fraqueza económica é algo a que os alemães não estavam habituados nos últimos 15 anos ou mais", acrescenta Karnitschnig. Os cidadãos estão a ver "o seu bem mais mais precioso, a indústria automóvel, a mergulhar no que parece ser um declínio profundo, e não há nada com que a possam substituir."
As empresas do setor automóvel têm enfrentado diversas dificuldades na transição energética e ameaçaram cortar milhares de postos de trabalho.
Há uma palavra em alemão que, segundo Karnitschnig, descreve o clima de inquietação que se vive atualmente no país: "Zukunftsangst", medo do futuro.
Friedrich Merz diz que quer mudar isso. O cabeça de lista da CDU/CSU lidera as sondagens para as eleições antecipadas de domingo com mais de 30% das intenções de voto. É, por isso, o melhor posicionado na corrida à sucessão de Olaf Scholz na chancelaria federal (se conseguir arranjar parceiros de coligação).
Merz, de 69 anos, é conservador, católico e jurista de formação - cresceu numa família de juristas. Lidera a oposição desde 2022, após a derrota histórica da CDU/CSU com a saída de Angela Merkel, mas não tem experiência em cargos públicos executivos.
Promete uma coisa: prosperidade. "Após dois anos consecutivos, surge novamente a ameaça de uma recessão em 2025", escreveu Merz, há pouco mais de uma semana, num artigo de opinião publicado no jornal Welt am Sonntag.
A duas semanas das eleições antecipadas na Alemanh(...)
"As coisas não podem continuar assim", prosseguiu. "Um governo federal liderado por mim resolverá, passo a passo, os problemas estruturais do nosso país. Os impostos elevados, o alto preço da energia, os altos custos laborais e a burocracia maciça, aliados a um fraco crescimento da produtividade, exigem uma ação decisiva. Não se trata apenas de ajustar pequenos parafusos, mas de uma verdadeira mudança de política."
Friedrich Merz, que também já trabalhou no mundo corporativo, é conhecido na Alemanha por uma proposta que fez em 2003: simplificar o sistema tributário de tal forma que a declaração de IRS pudesse caber numa base para copos de cerveja. Para ilustrar a ideia, o político pegou numa caneta e fez o rascunho de uma declaração.
Essa base para cerveja está agora num museu na antiga capital federal, a cidade de Bona. Merz admitiu, mais tarde, que se enganou nos cálculos. A base voltou a ser notícia esta semana, quando foi mostrada durante um debate televisivo com os principais candidatos à chancelaria federal e acabou por cair no chão.Durante o debate, Merz disse que, embora já não seja possível fazer a declaração de IRS como exemplificou em 2003, a sua determinação em simplificar a vida aos contribuintes continua a mesma.
"Reduzir significativamente a burocracia" é uma promessa central no programa da CDU/CSU.
Friedrich Merz - descrito pelos críticos como alguém impulsivo e que se irrita facilmente - é conhecido na Alemanha por outra coisa: a sua oposição à política migratória da colega de partido Angela Merkel.
A ex-chanceler justificou o acolhimento de mais de um milhão de refugiados, em 2015, com uma questão de respeito pela dignidade humana. Friedrich Merz sustenta, porém, que foi um erro receber tantas pessoas no país, afirma que há limites para a capacidade de acolhimento da Alemanha e advoga restrições à política de migração. Segundo a CDU/CSU, é preciso "recuperar o controlo" neste capítulo.
No final de janeiro, Merz foi altamente criticado pelos outros partidos tradicionais por "quebrar um tabu" ao submeter no Parlamento uma resolução não-vinculativa para reforçar os controlos fronteiriços.
A resolução obteve os votos a favor do partido de extrema-direita AfD, e os partidos protestaram, alegando que a barreira de ferro parlamentar contra os populistas, a chamada "Brandmauer", tinha sido quebrada.
Legislativas federais
Na Alemanha, faz-se campanha em quase todo o lado (...)
Merz apressou-se a dizer que não era bem assim - uma cooperação com a AfD está fora de questão: "Não haverá cooperação, não haverá tolerância, não haverá governo minoritário", assegurou o político.
No ADN dos conservadores há princípios diametralmente opostos aos da AfD, reforçou Friedrich Merz. Os conservadores são pró-NATO, pró-União Europeia e pró-euro, enquanto a AfD questiona tudo isso.
Alice Weidel, a cabeça de lista da AfD, disse, há dias, num programa na televisão ZDF, que a recusa dos conservadores em se aliarem ao seu partido revela bem o conceito que eles têm de "democracia".
O que fará Merz se vencer?
Até agora, os partidos têm evitado falar sobre cenários pós-eleitorais. Olhando para as sondagens, os sociais-democratas e os Verdes surgem, no entanto, como possíveis parceiros de coligação.
Face aos desentendimentos recentes no Parlamento, ainda "não é claro se, politicamente, será possível encontrar uma maioria" após as eleições de domingo, comenta o politólogo Lukas Stötzer em declarações à Renascença.
Ambas as forças políticas sublinharam ter ficado bastante chocadas com a aparente aliança entre os conservadores e a AfD. "Em algumas alas do SPD", por exemplo, "a confiança em Merz foi gravemente afetada."
Stötzer refere, ainda assim, que há "alguns pontos de interseção" entre os partidos, nomeadamente na área da economia - todos estão cientes de que é preciso agir rapidamente para impulsionar o crescimento económico, embora haja divergências quanto à melhor forma de o fazer.
Os casos somam-se em vários pontos do país e o med(...)
Merz frisou, durante a campanha, que esta poderá ser a última oportunidade para os partidos tradicionais mostrarem que conseguem resolver os problemas do país - económicos, políticos e sociais - antes dos populistas crescerem ainda mais.
"As pessoas querem ver ações concretas", observa o jornalista Matthew Karnitschnig. Por exemplo, "em relação à deportação de pessoas cujo pedido de asilo foi recusado. Este é um grande problema na Alemanha, e enquanto o governo não resolver este tipo de questões, a polarização na sociedade não vai acabar. Acresce a isso a fragilidade económica do país."
Uma "grande coligação" entre os conservadores e os sociais-democratas não seria algo novo na Alemanha, o atual chanceler Olaf Scholz já pertenceu a uma. Uma coligação entre os conservadores e os Verdes seria novidade a nível federal. Ou seriam necessários os três partidos para formar governo?
Friedrich Merz mostrou abertura para dialogar tanto com os sociais-democratas como com os Verdes.
"Depois, decidiremos", disse Merz à televisão ZDF. "Mas uma decisão já tomámos. Com a AfD é que não", insistiu.