19 fev, 2025 - 01:25 • Marisa Gonçalves com Redação
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), Augusto Santos Silva, afirma que a iniciativa do Presidente francês, Emmanuel Macron, de organizar uma cimeira de emergência sobre a guerra na Ucrânia é “bem-vinda”, salientando que ajuda a colocar a Europa no âmbito de um processo negocial, com uma posição firme.
“Evidentemente que esta iniciativa vem muito naquele estilo voluntarista, às vezes precipitado, do Presidente Emmanuel Macron, no entanto, é bem-vinda visto que a União Europeia não pode ficar alheada deste movimento que se assemelha demasiado a uma partição do mundo entre superpotências. Ora, essa essa fase já passou. A União Europeia é um dos principais atores globais que se vincula não a uma lógica passada de esferas de influência, mas sim a uma lógica presente e futura do primado das regras e do direito internacional”, sustenta à Renascença.
Quanto às questões relacionadas com a defesa, o ex-líder da diplomacia portuguesa defende que a Europa tem de pensar na possibilidade de agir por si mesma.
“Acho que os europeus têm de começar a pensar na hipótese de esta Aliança do Norte Atlântico que foi tão forte entre Estados Unidos e Canadá de um lado, e Europa do outro, poder ser posta em suspenso por iniciativa de Washington. E nós não podemos apenas chorar por causa disso. Temos também de agir nós próprios como europeus, em ligação com os nossos aliados canadianos, usando os nossos recursos, que, repito, são muitos, mas mesmo muitos”, defende.
Para o ex-MNE, a Europa deve encontrar formas de harmonizar os gastos com o setor da Defesa.
“Uma das principais dificuldades que tempos na cooperação nesta área é o facto de seguirmos padrões e modelos, por exemplo de carros de combate, muito diferentes entre nós. Não contando com os Estados Unidos, o conjunto dos restantes países da NATO gasta hoje cinco a seis vezes mais em Defesa do que a Rússia. Gastamos muito do nosso dinheiro em Defesa e devemos gastá-lo melhor e de uma forma mais colaborativa”, aponta o também ex-presidente da Assembleia da República.
Depois de ser avançado que Portugal ficaria de fora, fonte do gabinete do Ministério dos Negócios Estrangeiros esclarece à Renascença que o nosso país foi convidado a participar na segunda reunião organizada pela França para discutir a Ucrânia e a segurança europeia, a ter lugar esta quarta-feira.
A mesma fonte adianta que há possibilidade de Portugal participar por videochamada, em função da agenda do primeiro-ministro ou do Presidente da República no Brasil, onde se encontram em visita oficial.
Na opinião de Augusto Santos Silva, mesmo que Portugal não participasse nestas reuniões, isso não deveria ser visto com qualquer dramatismo.
“Sempre que a União Europeia está representada, Portugal também está. Portugal é um Estado-Membro da União Europeia e até está duplamente representado visto que o Presidente do Conselho Europeu é ele próprio um cidadão português”, refere.
Para a reunião desta quarta-feira, indicaram fontes diplomáticas à Reuters, estarão países que não estiveram na reunião de segunda-feira e o Canadá, aliado da NATO. Entre esses países estarão Noruega, Lituânia, Estónia, Letónia, República Checa, Grécia, Finlândia, Roménia, Suécia e Bélgica.