24 fev, 2025 - 10:31 • José Pedro Frazão
Na declaração de abertura da Conferência de apoio à Ucrânia, Zelensky revela que enviou a Trump uma lista de 25 cessar-fogos violados pela Rússia desde 2014. Num discurso onde defendeu a adesão à União Europeia, o presidente ucraniano insiste que a NATO é a melhor solução para garantir segurança ao seu país e pede a Putin que comece por libertar todos os prisioneiros de guerra, por troca com russos detidos por Kiev.
O discurso de Zelensky começou com recados a Trump e a Putin, a propósito das negociações de paz entre Washinton e Moscovo. O Presidente ucraniano acredita que 2025 deverá ser o ano em que iniciaremos o processo de paz fiável e estável, mas alerta que Putin "não dará essa paz em troca de algo", que terá que ser conquistada "através da força, da sabedoria e da unidade, e através da nossa cooperação".
"Infelizmente, não se pode anunciar a paz numa hora ou num dia, hoje, amanhã ou depois de amanhã. Esta é a realidade. E se alguém tentar fazê-lo desta forma, sem qualquer base sólida, isto não funciona. E, sem qualquer garantia de segurança, isto também não funcionará. A paz fiável e sustentável é mais do que um cessar-fogo na linha da frente", sustenta Zelensky.
De seguida, o chefe de estado ucraniano revela que a partir de 2014, por mais de 25 vezes a Rússia violou os acordos de cessar-fogo.
"E quando o General Kellogg [enviado de Trump] visitou a Ucrânia, contei-lhe isso, para que o transmitisse ao Presidente dos Estados Unidos. Passei-lhe o documento onde constavam todos os cessar-fogo com as datas muito específicas em que estes cessar-fogo foram violados pela Rússia", contou no arranque da conferência em Kiev.
Zelensky insiste que a paz poderá passar, em primeiro lugar, por garantias de segurança. A Ucrânia "e muitos outros países do mundo" afirmam que a NATO "é a forma mais simples e barata de garantir a segurança e a tranquilidade" ao país e ao mundo.
"Este é um sistema pronto de garantias de segurança que funciona há décadas e evitou o início da guerra, mesmo onde existe uma fronteira entre a Rússia e a NATO. E esta é uma fronteira longa. Temos de ser justos ao dizer que a Ucrânia merece ser membro da UE e ter as garantias de segurança que podem ser garantidas pela NATO. E se a adesão da Ucrânia e do nosso povo à NATO for impedida, no futuro não teremos outra escolha senão construir a NATO na Ucrânia. Isto é, fornecer financiamento a um nível de produção contingente da indústria de defesa que significaria uma paz garantida, quer sejamos capazes de o fazer sozinhos, ou não", sustenta o presidente ucraniano, lembrando que Kiev já rubricou 28 acordos bilaterais de segurança com parceiros
Em particular, Zelensky sublinha a importância de garantir um sistema de defesa aérea ucraniano, que constitua a base para o novo escudo de defesa aérea da Europa: "Depois, com base nestas fundações, precisaríamos de criar um sistema ativo de garantia de segurança para uma paz fiável e sustentável para a Ucrânia e para o mundo inteiro".
Na véspera de uma reunião entre russos e americanos na Arábia Saudita, o presidente ucraniano repetiu a exigência da presença europeia e ucraniana nas negociações sobre a paz na Ucrânia. " A guerra é contra a Ucrânia, por isso a Ucrânia deve estar na mesa das negociações juntamente com a Europa", a par dos Estados Unidos. A referência não se circunscreve à União Europeia, sugerindo o protagonismo do Reino Unido neste processo.
" O objectivo estratégico da Rússia é a Europa e o modo de vida europeu, logo a sua segurança. E o destino da Europa não pode ser determinado sem a Europa", complementa Zelensky, de forma a que a paz "não seja discutida com promessas de normalização, reinicialização ou apaziguamento".
Num recado à mesa do Conselho Europeu, Zelensky assinala que a Europa regista alguns atrasos face à concorrência global. " Só através da união, como continente unido, poderemos corrigir este atraso".
De Kiev, Zelensky responde a Putin com a exigência da libertação de milhares de pessoas detidas desde 2014 na Rússia.
"A Ucrânia está pronta para trocar todos os detidos, e esta é a opção justa e correta", garante Zelensky que defende que o fim da guerra deve começar.
"Com passos que restabeleçam a confiança em toda a situação, porque não há confiança na Rússia. E precisamos de uma situação em que haja conversas sobre o fim da guerra", diz.