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“Trump declarou guerra à saúde em África”: cortes na USAID poderão matar milhões de pessoas

27 fev, 2025 - 21:10 • Fábio Monteiro com Reuters

EUA financiam cerca de 17% do orçamento sul-africano para o VIH/SIDA, e especialistas em saúde sublinham que este apoio é essencial para fornecer testes e iniciar novos pacientes em tratamento.

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Só na África do Sul, mais de 500.000 pessoas poderão morrer de SIDA se o financiamento dos Estados Unidos da América for cortado durante dez anos, revelou, esta quinta-feira, a investigadora Linda-Gail Bekker, diretora da Fundação Desmond Tutu.

"O número de vidas perdidas [na África do Sul] será superior a 500.000. Haverá mortes desnecessárias devido à perda deste financiamento [norte-americano]. Prevejo um enorme desastre", afirmou disse Linda-Gail Bekker, durante uma videoconferência organizada com outras Organizações Não-Governamentais (ONG).

Esta reunião seguiu-se ao anúncio, na quarta-feira, de que a agência de desenvolvimento dos EUA (USAID) estava a cortar 92% do seu financiamento para programas no estrangeiro.

Os Estados Unidos financiam cerca de 17% do orçamento sul-africano para o VIH/SIDA, e especialistas em saúde sublinham que este apoio é essencial para fornecer testes e iniciar novos pacientes em tratamento.

"Estamos muito preocupados. A administração Trump declarou guerra à saúde em África. Estamos a caminhar para o desastre", disse a diretora executiva da ONG Apha, Yvette Raphael, dedicada aos doentes com VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) e SIDA na África do Sul.

Um corte com impactos mundiais

Entre os programas afetados pelos cortes na USAID estão também grandes iniciativas de saúde das Nações Unidas, como a UNAIDS, a Parceria Stop TB e o programa Scaling Up Nutrition, bem como projetos que apoiam milhões de pessoas deslocadas à força.

"Fomos atingidos, mas continuaremos a estar presentes", disse Lucica Ditiu, diretora executiva da Stop TB, à “Reuters”.

Ditiu garantiu que a organização dispõe de outras fontes de financiamento para adquirir testes e tratamentos para a tuberculose, mas terá de rescindir contratos com 140 parceiros em todo o mundo, muitos dos quais prestam serviços essenciais, como o diagnóstico e o acompanhamento dos doentes.

Charlotte Slente, secretária-geral do Conselho Dinamarquês para Refugiados, disse estar indignada após receber mais de 20 notificações de rescisão de projetos em diversos países, incluindo Sudão, Iémen e Colômbia.

"Não só estas rescisões representam quebras contratuais graves, como colocam em risco a vida de milhões das pessoas mais vulneráveis do mundo", afirmou Slente, acrescentando que a decisão atingirá pessoas deslocadas à força em zonas de conflito.

"Embora seja compreensível que novos governos queiram rever a sua assistência ao desenvolvimento no exterior, as decisões do governo dos EUA no último mês foram abruptas e unilaterais, e a sua justificação é incompreensível", acrescentou.

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