04 mar, 2025 - 12:43 • Lusa
A ministra dos Negócios Estrangeiros finlandesa, Elina Valtonen, avisou esta terça-feira que os EUA serão julgados pelo que fizerem se a Rússia desrespeitar um acordo de paz negociado entre Washington e Moscovo para a guerra na Ucrânia.
"A nossa mensagem aos nossos amigos na América é que a história nos julgará pelos desenvolvimentos após a assinatura do acordo, e não apenas pelo momento em que qualquer possível acordo está a ser assinado", afirmou, a propósito da suspensão da ajuda militar dos Estados Unidos a Kiev.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, determinou na segunda-feira a suspensão do apoio militar à Ucrânia, que combate a invasão russa, na sequência da altercação durante a visita, na semana passada, do homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, à Casa Branca.
Durante um evento no centro de estudos britânico Chatham House, em Londres, Valtonen criticou a estratégia da administração Trump de "apaziguar na prática a Rússia e exercer alguma pressão sobre a Ucrânia" para forçar negociações de paz.
"Na minha opinião pessoal, deveria ser exatamente o contrário. Mas estou certo de que, e confio que o Presidente Trump e a sua equipa se aperceberão, a seu tempo, de que isto provavelmente não funciona", advertiu.
A chefe da diplomacia finlandesa lamentou que, "infelizmente, a experiência que temos na Europa é que, especialmente durante o regime de Putin, eles [russos] não estão dispostos a aceitar quaisquer compromissos".
Como exemplo, referiu a invasão russa da Geórgia em 2008, a anexação da Crimeia em 2014 e de território no leste da Ucrânia e o desrespeito pelos acordos de Minsk, que previam um cessar-fogo.
"A Rússia partilha uma fronteira terrestre com 14 países. Apenas um deles se manteve constantemente como uma democracia independente durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, e esse país é a Finlândia. A história ensinou-nos que a Rússia só respeita a força e a determinação", argumentou.
Valtonen recordou a invasão russa da Finlândia em 1939, à qual o país resistiu mas que só acabou no ano seguinte, após ceder território.
"Ensinou-nos uma lição de que temos de investir na defesa e na dissuasão porque na altura ninguém veio ajudar a Finlândia", lembrou.
O país, que tem uma fronteira de 1.340 quilómetros com a Rússia, aderiu à NATO em 2023, na sequência da invasão da Ucrânia, em 2022, e tem dado assistência a Kiev, a qual pretende manter.
"Aconteça o que acontecer nesta guerra, a Rússia continuará a ser uma ameaça estratégica a longo prazo para a segurança euro-atlântica. Em vez de a encorajarmos, temos de a manter à distância", avisou a ministra.
Elogiando o plano da União Europeia apresentado hoje pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de mobilizar 800 mil milhões de euros para investimento na defesa europeia e ajudar a Ucrânia, a ministra finlandesa admitiu que a Europa ainda precisa do apoio dos EUA.
"Precisamos dos americanos militarmente, mas sobretudo também para manter a pressão das sanções. Porque a pior coisa que poderia acontecer agora é se os Estados Unidos levantassem as sanções e começassem a envolver-se economicamente com a Rússia, porque isso seria exatamente o curso de ação errado", enfatizou.