04 mar, 2025 - 11:01
A suspensão da ajuda militar dos Estados Unidos a Kiev é a "melhor contribuição possível" para alcançar a paz na Ucrânia, defendeu esta terça-feira o Kremlin após o anúncio da Casa Branca, dias depois da altercação entre Trump e Zelensky.
"Se os Estados Unidos deixarem de ser (um fornecedor militar à Ucrânia) ou suspenderem estas entregas, esta será provavelmente a melhor contribuição para a paz", disse o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov.
"Os pormenores ainda estão por ver, mas se for verdade, é uma solução que pode realmente empurrar o regime de Kiev para um processo de paz", insistiu durante o seu 'briefing' diário, acrescentando a necessidade de saber como "evolui a situação no terreno", e sublinhando que "o principal volume" da ajuda militar à Ucrânia "tem vindo até agora dos Estados Unidos".
Peskov, que foi muito cauteloso na sua declaração, pediu que se aguardasse primeiro a confirmação oficial da decisão e depois que se conhecessem "os pormenores".
Ao mesmo tempo, no entanto, sublinhou que este anúncio "é a maior contribuição para a causa da paz" e que os EUA são o país que mais assistência militar prestou a Kiev desde o início da guerra, há três anos.
Na segunda-feira à noite fonte da Casa Branca citada pela Associated Press (AP) referiu que Trump está focado em chegar a um acordo de paz para terminar a guerra que tem mais de três anos e que pretende ter Zelensky comprometido com esse objetivo.
A mesma fonte, que falou sob anonimato, acrescentou que os Estados Unidos estão a "suspender e a rever" a sua ajuda para "garantir que está a contribuir para uma solução".
Uma fonte da Casa Branca citada pela agência France-Presse (AFP), que também confirmou a suspensão da ajuda militar a Kiev, sublinhou que os Estados Unidos "precisam que os seus parceiros também se comprometam a atingir o objetivo" da paz.
De acordo com a estação Fox News, citada pela agência Efe, esta medida interrompe a entrega de armas ou equipamentos que já se encontrem em território polaco e prontos para entrega final aos ucranianos.
O Presidente norte-americano tinha voltado a criticar na segunda-feira o homólogo ucraniano por não estar tão grato como deveria pela ajuda dos Estados Unidos.
"Acho que ele (Zelensky) deveria estar mais grato, porque este país (EUA) apoiou-os contra todas as probabilidades", disse Trump numa cerimónia na Casa Branca, onde na passada sexta-feira repreendeu publicamente Zelensky durante a visita a Washington do Presidente ucraniano.
A decisão do presidente dos Estados Unidos é a primeira consequência do confronto que teve lugar na sexta-feira passada na Casa Branca entre Donald Trump e o presidente ucraniano Volodymir Zelenski, a que o mundo inteiro assistiu em direto.
Tanto Trump como vários altos funcionários norte-americanos sugeriram a Zelenski que deixasse o cargo para abrir caminho a uma solução pacífica para o conflito, em sintonia com a linha de argumentação de Putin, que considera o presidente ucraniano ilegítimo
Dmitri Peskov falou também da vontade de Washington e Moscovo em restabelecer as relações bilaterais, após anos de extrema tensão.
Na sua opinião, a "normalização" das relações passa necessariamente pelo levantamento das sanções impostas pelos EUA a Moscovo.
"É claro que, se estamos a falar de normalização das relações bilaterais, então estas devem ser libertadas do peso negativo destas sanções", afirmou aos jornalistas.
Na sequência das primeiras conversações russo-americanas na Arábia Saudita, em 18 de fevereiro, Moscovo e Washington afirmaram estar a trabalhar no sentido de restabelecer a cooperação económica e energética, nomeadamente no Ártico e no setor espacial.
Em três anos de conflito, a economia russa tornou-se em grande parte dependente das encomendas militares, enquanto a economia real foi afetada pelas sanções ocidentais, apesar das medidas de contorno e da continuação das importações de certos produtos.