05 mar, 2025 - 12:17 • Lusa
O ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane classificou como um acordo "sem povo" o entendimento político a ser assinado esta quarta-feira pelo Presidente moçambicano e formações partidárias no âmbito das reformas estatais, prometendo protestos diários por cinco anos.
O Presidente moçambicano e os principais partidos políticos de Moçambique assinam em Maputo um acordo focado em reformas estatais, no âmbito do diálogo político para o fim da crise pós-eleitoral no país.
A cerimónia terá lugar no Centro de Conferências Joaquim Chissano, a partir das 15:00 (menos duas em Lisboa), e, além dos partidos com assento parlamentar, nomeadamente o Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o acordo vai ser assinado também pelo extraparlamentar Nova Democracia, num diálogo que, no último encontro, incluiu formações partidárias com representação nas assembleias provinciais e municipais.
Embora o chefe de Estado moçambicano tenha por diversas vezes prometido "alargar a mesa do diálogo" para "vários segmentos da sociedade", uma das principais críticas levantadas por académicos e analistas continua a ser a ausência de Venâncio Mondlane, o segundo mais votado nas últimas eleições de acordo com o Conselho Constitucional e que lidera a maior contestação aos resultados que o país conheceu desde as primeiras eleições, em 1994.
No discurso hoje, Mondlane voltou a prometer manifestações de rua por cinco anos com o objetivo de pressionar o Governo a fazer "o que o povo quer".
"Queremos anunciar que este ano 2025 até 2030 são 1.825 dias de manifestações todos os dias. Se não fizerem o que o povo quer, não vão governar em Moçambique", disse Venâncio Mondlane.
Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas primeiro por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.
Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.
Desde outubro, pelo menos 353 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 3.500 ficaram feridas durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.
O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.