11 mar, 2025 - 01:34 • Marisa Gonçalves , Ana Paula Santos
Os confrontos entre aliados de Bashar al-Assad e as forças do novo governo da Síria já terão vitimado mais de mil pessoas, a maioria civis, da minoria alauita. Este é mesmo grupo étnico-religioso a que pertence o ex-presidente sírio, deposto em dezembro.
Os relatos que têm chegado da Síria dão conta de violência extrema com a morte de centenas de famílias alauitas, incluindo mulheres e crianças.
Daniah Alkaram, uma jovem síria refugiada em Portugal há cinco anos, e estudante de Serviço Social na Universidade Católica, em Lisboa, prefere não falar sobre a situação em concreto, mas deixa claro que voltou a perder a esperança, com as últimas notícias que chegam do seu país.
“Tentei arranjar um trabalho para mim porque eu vou ser assistente social, então, fiquei muito feliz porque vou ser a primeira assistente social no meu país. A mulher no meu país também precisa de mim, mas infelizmente eles roubaram este sonho, novamente. Agora, acho que não vamos voltar à Síria”, conta à Renascença.
Daniah diz-se muito preocupada porque a sua família, na Síria, é da minoria alauita. “Na Síria, infelizmente são mais problemas porque a minha família, como alauita tem problemas. Estou muito preocupada com a minha família, claro”, desabafa.
Síria
Das mais de 1000 mortes, 830 são de civis. Governo(...)
Também a palavra preocupação é ouvida na voz de outro estudante universitário sírio, em Portugal. Ouwais Sadek, aluno do mestrado em Ciências da Comunicação da Universidade Católica, mudou-se para Lisboa há cerca de três anos, para prosseguir os estudos. Diz à Renascença que a família, na Síria, receia “um novo Iraque”.
“Estão preocupados porque o cenário do Iraque pode repetir-se na Síria. Quando o regime do Saddam Hussein caiu aconteceu muita violência, que se espalhou por todo o país, também entre religiões. Esse é o medo. Ninguém quer lutar nem entrar numa nova guerra. São já 14 anos de guerra, na Síria”, refere.
Ouwais Sadek fala ainda de uma situação económica muito difícil, no seu país de origem.
Não há eletricidade em muitos sítios. As pessoas não estão a receber salários, infelizmente. Não há dinheiro nem poder de compra. Disseram que a situação vai melhorar com a ajuda de vários países. Estamos à espera. Vamos ver”, relata.
Mais de seis mil pessoas, sobretudo alauitas, fugiram nos últimos dias da Síria para o norte do Líbano. O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, veio apelar à unidade nacional.