11 mar, 2025 - 19:50 • Cristina Nascimento , com agência Reuters
Os eleitores da Gronelândia votam esta terça-feira para escolher novos representantes no Parlamento, depois de uma campanha que ganhou dimensão internacional à conta da ideia de Donald Trump querer assumir o controlo do território rico em minerais.
A intenção do Presidente dos Estados Unidos gerou um debate sobre a independência do território.
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A Gronelândia, com uma população de 57 mil habitantes, é uma antiga colónia dinamarquesa e ganhou alguma autonomia em 1979, ano em que se formou o primeiro parlamento. Copenhaga ainda controla relações exteriores, defesa e política monetária e fornece cerca de mil milhões de euros para a economia.
Em 2009, através de referendo, os habitantes da Gronelândia decidiram pelo direito de declarar independência total, mas até agora tal não aconteceu, dadas as preocupações da população sobre uma quebra do padrão de vida, sem o apoio económico da Dinamarca.
Cerca de 40 mil pessoas têm direito a exercer o seu direito de voto. As mesas de voto fecham às 22h00 (hora portuguesa) e o resultado final será conhecido nas primeiras horas de madrugada.
"Estou muito animada. Espero que as pessoas votem com bom senso e sem ganância", disse à Agência Reuters Liv Aurora, candidata do partido Inuit Ataqatigiit, numa secção de voto na capital Nuuk.
"Espero fazer a diferença e tornar a Gronelândia forte e independente."
O interesse de Trump, bem como o orgulho crescente dos povos indígenas na cultura Inuit, colocou a questão da independência no primeiro plano na campanha.
"A questão da independência foi potenciada por Trump", disse Masaana Egede, editora do jornal local "Sermitsiaq". "Limitou o debate sobre as questões quotidianas", acrescentou.
No debate final na emissora estatal da Groenlândia KNR, na noite de segunda-feira, os líderes dos cinco partidos atualmente no Parlamento disseram, unanimemente, que não confiam em Trump.
"Ele está a tentar influenciar-nos. Entendo que os cidadãos sentem-se inseguros", disse Erik Jensen, líder do parceiro de coligação do governo Siumut.
Uma sondagem feita em janeiro sugere que a maioria dos habitantes da Gronelândia apoia a independência, mas estão divididos sobre o momento.
No início, a campanha eleitoral concentrou-se na raiva e frustração direcionadas a erros históricos do antigo governante colonial Dinamarca, de acordo com Julie Rademacher, consultora e ex-assessora do governo da Gronelândia.
"Mas acho que o medo da abordagem imperialista dos EUA ultimamente se tornou maior do que a raiva em relação à Dinamarca", disse Rademacher.
A Reuters falou com mais de uma dúzia de cidadãos da Gronelândia em Nuuk e todos manifestaram-se a favor da independência, embora muitos tenham expressado preocupação de que uma transição rápida poderia prejudicar a economia e eliminar os serviços de bem-estar nórdicos, como assistência médica universal e educação gratuita.
A ilha detém recursos naturais substanciais, incluindo minerais essenciais usados em indústrias de alta tecnologia, desde veículos elétricos a sistemas de mísseis.
No entanto, a Gronelândia tem sido lenta para extraí-los devido a preocupações ambientais, clima severo e o controle quase total da China sobre o setor, o que tornou difícil para empresas de outras origens obter lucro ou garantir compradores.