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Reportagem Renascença

Almaraz no centro da encruzilhada nuclear

18 mar, 2025 - 09:30 • João Cunha (Reportagem) , Rodrigo Machado (Imagem) , Marta Pedreira Mixão (edição vídeo)

Espanha possui cinco centrais nucleares (uma sexta, a de Garoña, foi entretanto desativada) que são responsáveis pela produção de 20% da eletricidade consumida no país, que o governo de Madrid quer encerrar a partir de 2027 e até 2035. Em Almaraz, onde existe uma central nuclear refrigerada pelas águas do Rio Tejo, empresários, autarcas e populações locais contestam o encerramento, alegando perda de postos de trabalho e aumento do despovoamento.

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Ouça a reportagem de João Cunha

O silêncio, a meio da manhã, só é interrompido pelo chilrear dos estorninhos.

A Casa de Cultura de Almaraz destoa dos edifícios circundantes: a fachada é de vidro, em parte, dividida dos outros andares por placas de metal, oxidadas e com círculos de vários tamanhos recortados na placa. Ao alto, à esquerda, uma gigantesca janela permite a entrada de luz natural no auditório ali existente.

Não fosse o dinheiro que chega, todos os anos, da central nuclear, e esta infraestrutura talvez não existisse.

De uma rua próxima chega Yasmine Gonzalez, uma jovem residente em Almaraz, há já alguns anos, desde que o pai assumiu um cargo na Central e toda a família se mudou de Navalmoral de la Mata, a cerca de 15 quilómetros.

"É um pouco angustiante saber que a central pode encerrar e nós ficarmos sem fonte de trabalho", diz, sublinhando que a central trouxe muita gente de fora.

"Há gente que é de Almeria, de Navarra, de muitos outros sítios e que veio para aqui. Se a central encerrar, isso vai criar um vazio social", explica a jovem. "Se encerram uma, as outras vão seguir o mesmo caminho", nota.

A caminho de uma pequena loja que abriu na vila, Yasmine teme ter de vir a fechar o negócio, caso se verifique o encerramento da central nuclear. E que a autarquia, que recebe parte dos impostos cobrados às empresas proprietárias da central, deixe de ser um dos principais empregadores.

A encruzilhada nuclear. "Se a central encerrar, vai criar um vazio social"
A encruzilhada nuclear. "Se a central encerrar, vai criar um vazio social"

"Aqui há muita gente que trabalha no município, que cria muitos postos de trabalho porque têm o apoio da central. Em Saucedilla é igual. Vai afetar todos, porque aqui em redor não há muito trabalho. E os que existem não podem absorver toda a gente, como a central."

A falta de emprego e o despovoamento é também o que preocupa Luis Fernando de La Maccora y Caño, um antigo professor da Universidade da Extremadura, em Badajoz, que, enquanto docente, viveu em Elvas e que tem acompanhado a questão nuclear.

"Em termos sociais, se for fechada a central de Almaraz perdem-se três mil postos de trabalho ou mais. É um erro económico que compromete as nucleares, que não têm rentabilidade económica devido a uma sobrecarga fiscal absoluta", explica o professor, que não hesita em dizer que o encerramento das centrais nucleares em Espanha é "um erro absoluto deste governo, que cometeu um erro estratégico na organização da política energética".

Depois de lembrar que já há vozes, "até dentro do PSOE", em defesa de uma combinação entre as energias alternativas e as nucleares, Luís adianta que, na sua opinião, o processo de transição energética tem de começar por eliminar os combustíveis fósseis.

"De momento, num horizonte de pelo menos de 20 anos, o que não deve ser eliminado é a energia nuclear", sentencia.

Em Navalmoral de la Mata, onde acaba de fazer uma caminhada de cinco quilómetros, denunciada pelo fato de treino, Dori Carrasco admite que preferia que a central não só não encerrasse, mas que abrissem mais centrais nucleares.

"O que têm é de fazer mais, porque produzem energia boa, dão trabalho a todos e porque são piores as guerras, as bombas, que destroem terras, pessoas e edifícios... Não estou de acordo que encerrem".

Não consegue explicar qual o motivo de se querer encerrar a central, mas a idade permite-lhe garantir que "a Extremadura sempre foi mal vista".

"Nunca vem nada para a Extremadura. Aqui estamos sempre iguais.Mande quem mande, governe quem governe, aqui avançamos pouco. Devagarinho. Porque não lhes interessa, não sei".

Quem também avança devagarinho, mas na zona velha da cidade, junto á igreja matriz, é Alberto Barroso. Apoiado numa bengala, lá vai dizendo que o governo "não olha para o valor dos trabalhadores", lembrando que, ele mesmo foi "um escravo" do trabalho para nada, porque não está a ter a reforma que planeou.

Quanto à central, pede que não a encerrem, porque vai tirar "muita mão de obra e muito pão aos filhos dos que ali trabalham".


Autarcas unidos em defesa da Central

A meio caminho entre Almaraz e Navalmoral, a vila de Belvis de Monroy tem, lá no alto,

o seu castelo medieval, do século treze, que parece abandonado à sua sorte. A beleza e majestade das suas torres e muralhas não terão sido suficientes para lhe dar nova vida.

Num pequeno largo frente ao Castelo está o edifício da autarquia, liderada por Fernando Castilla, que também é o porta-voz da Plataforma "Sim a Almaraz, Sim ao Futuro", que recentemente realizou um desfile por Almaraz, que contou com algumas largas centenas de pessoas que defenderam a continuidade da central nuclear.

"Temos a adesão de várias associações à nossa plataforma. Associações ligadas á transição energética e sobretudo de municípios que demonstraram a esta plataforma o seu apoio", explica o porta-voz da Plataforma, que não tem dúvidas.

"Creio que a Extremadura está unida, sem ideologias políticas, já que nesta plataforma há autarcas de todos os partidos, inclusive do PSOE que é quem governa Espanha. E creio que é essa a nossa força: olharmos para os interesses gerais dos nossos cidadãos e não outra coisa".

A encruzilhada nuclear. "Encerrar Almaraz não podia ter um impacto mais negativo. Seria desastroso".
A encruzilhada nuclear. "Encerrar Almaraz não podia ter um impacto mais negativo. Seria desastroso".

Para Fernando Castilla, que fala em nome da plataforma, "encerrar Almaraz não podia ter um impacto mais negativo. Seria desastroso".

Recorda dados oficiais, que indicam que a central nuclear de Almaraz produz 61,5 por cento de toda a energia da Extremadura, bem como sete por cento da energia de toda a Espanha, para dizer que se o que se quer, como em toda a Europa, é uma industrialização, "não se pode prescindir da central nuclear de Almaraz".

Assegura que a aposta nas energias renováveis é para manter, mas devem ser "complementares" à energia nuclear. Até porque, diz, "as renováveis são intermitentes". Por isso, não entende porque se tenha de encerrar "uma indústria (nuclear), que funciona com tão excelentes notas, para abrir outra".

A este propósito, lembra o anunciado investimento de cerca de 15 mil milhões de euros, decorrente de um projeto de colaboração público-privada com o Governo da Extremadura, que prevê a construção de dois centros de dados de Inteligência Artificial generativa e computação avançada na Extremadura.

No sítio na internet da própria empresa promotora, a Merlin Properties, é referido que os locais escolhidos para a instalação destes centros de dados - Navalmoral de la Mata, próximo de Almaraz e Valdecaballeros, na região de Badajoz - destacam-se pela abundante energia elétrica disponível, proveniente de Almaraz.

Por isso, Fernando Castilla tem uma certeza.

"Duvido muito que os centros de dados venham, se a central nuclear fechar. Porquê? Porque os centros de dados não podem prescindir nem um dia de energia estável". E segundo Castilla, sem energia nuclear essa estabilidade é impossível.


O impacto económico e demográfico

A Extremadura é uma região que, historicamente, tem problemas crónicos de falta de investimento em infraestruturas que, com o passar dos anos, foram travando o desenvolvimento económico, obrigando o tecido empresarial "extremeño" a perder competitividade, nas últimas décadas.

Por isso, Gabriel Alvarez Arroyo, o Presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Cáceres, não entende porque motivo se querem encerrar as centrais nucleares espanholas, em especial a de Almaraz.

"Quando há uma indústria que já funciona, que cria tantos postos de trabalho e que tem tantas empresas auxiliares em seu redor, não podemos deixar que se encerre quando não há nenhuma razão técnica, estratégica, de segurança, ambiental ou de sustentabilidade para isso. Não há nenhuma razão para além da ideológica", refere, nas instalações da Câmara de Comércio em Plasencia.

"A central nuclear é o maior foco de criação de riqueza e trabalho que temos na região, e o seu desaparecimento, sem dúvida, provocará um grande prejuízo", remata, acrescentando por isso que se vivem momentos críticos.

"Estamos numa encruzilhada. Se o governo de Espanha mantiver a decisão de não prolongar a central nuclear e fechá-la, como tem previsto, um reator em 2027 e o outro em 2028, isso trará um dano irreversível á economia da nossa região. Não só na zona da central mas também um impacto muito negativo em toda a economia da província de Cáceres e da Extremadura".

A encruzilhada nuclear. "Não há nenhuma razão além da ideológica"
A encruzilhada nuclear. "Não há nenhuma razão além da ideológica"

Depois de lembrar que em vários países europeus, a opção tem sido prolongar o funcionamento das centrais nucleares, acredita que a decisão espanhola de as encerrar, tomada em 2019, deve encarar as atuais circunstâncias, e dessa forma, criar "um periodo mais largo de transição para substituir a energia nuclear pelas energias renováveis".

"A decisão de prorrogar tem de ser tomada em muitos poucos meses, porque senão, o encerramento será irreversível. É verdade que, de momento, estão a trabalhar apenas com o objetivo de encerramento, a não ser que lhes deem instruções diferentes. Dai esta preocupação, porque esta decisão tem de ser tomada já".

Arroyo acredita que as empresas proprietárias da central nuclear - com a Iberdrola, a Endesa e a Naturgy - estarão dispostas a manter a produção de eletricidade, mas de forma diferente: sem tantos impostos á produção, cujos sucessivos aumentos nos últimos cinco anos retiraram a rentabilidade do negócio. A Renascença contactou a Iberdrola, a maior proprietária da Central Nuclear de Almaraz, que se escusou a prestar declarações, remetendo-as para o Fórum Nuclear espanhol: uma associação civil que representa os interesses do sector, mantendo o peso da energia nuclear na matriz energética de Espanha. O Fórum também não mostrou disponibilidade para conceder uma entrevista.

Até agora, nenhuma das empresas proprietárias da Central manifestou a intenção de manter a produção de energia.

O presidente da Câmara de Comércio aponta o dedo ao governo, que acusa de se escudar no entendimento com as empresas elétricas quanto ao encerramento de Almaraz, que prevê que sejam elas, as empresas, a solicitar o prolongamento do funcionamento da central.

"Claro, as empresas dizem que pedem esse prolongamento, se houver um ajuste dos impostos para tornar as centrais viáveis. Porque senão não são viáveis".

A aposta clara é nas energias renováveis, segundo o presidente da Camara de Comércio. Mas isso requer uma transição, e até que ela se produza, "não podemos dar um tiro num pé na economia da Extremadura nem de Espanha", que também vai sofrer e que vai acabar a importar energia nuclear de França, que é o que vai acontecer.

"É absurdo tudo o que se está a passar", remata Arroyo, confessando que ninguém gosta que na sua terra desapareçam postos de trabalho e riqueza. Sobretudo "numa região e numa província como a de Cáceres, cujo principal problema é o despovoamento, em que as pessoas abandonam as nossas cidades e povoações, sobretudo nas zonas rurais".

O presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Cáceres, garante existir um estudo que indica que "o despovoamento pode aumentar em 36 por cento", caso se verifique o encerramento da central nuclear.


A segurança nuclear

Haverá quem tenha a sua opinião quanto ao que é a energia nuclear. Mas essa perceção mudou muito nos últimos trinta anos.

"Hoje considera-se uma energia verde e limpa por parte da União Europeia, e que dá garantias de estabilidade e de fornecer eletricidade a um preço estável e competitivo. Há trinta anos considerava-se que o tema da segurança das centrais nucleares não estava garantido, que havia um período imenso até que fossem aprovadas. Creio que tudo isso se transformou", adianta Gabriel Arroyo.

Mas há quem não pense assim: Maximo Garcia é o presidente da Associação de Afetados pela Central Nuclear de Almaraz, que foi perdendo associados, ao longo dos anos.

"Já somos muito poucos. As pessoas têm medo. Ameaçaram muita gente, meteram-lhes medo, não queriam que falassem, ameaçaram toda a gente, desde políticos a empresários, a todos. Tentam calar toda a gente, silenciar tudo", garante Máximo, que assegura que as fugas radioativas continuam a ocorrer.

"Em janeiro, houve uma avaria no dia 9 e outra no dia 13. Duas numa semana. Eles não querem gastar o dinheiro a repará-la e por isso, há cada vez mais problemas", garante, ainda que as entidades oficiais, que asseguram o bom funcionamento da central, não tenham reportado qualquer incidente.

"Não gastam dinheiro na manutenção porque não lhes interessa que a central continue a funcionar". E assim sendo, Máximo é perentório.

"Sim, a central vai encerrar. O governo concorda com o encerramento, assim como as empresas, a quem não interessa produzir energia nuclear porque é cara, suja, radioativa e assassina. Produz muitos danos. Na Extremadura já produzimos 30 por cento da nossa energia com solares, com as eólicas e com a nuclear".

Francisco Ferreira, da Associação Ambientalista Zero, também não acredita que os dois reatores de Almaraz continuem em funcionamento para além do previsto.

"As exigências de segurança que atualmente uma central nuclear tem são muitíssimo maiores, comparativamente com aquelas que temos em Almaraz”. E por isso mesmo, diz, “será necessária uma grande remodelação para que ela continue a funcionar. E isso, obviamente, tem custos absolutamente incomportáveis que o governo de Espanha teria de algures cobrir, e não é essa a intenção".

A encruzilhada nuclear. "Não interessa produzir energia nuclear porque é cara, suja, radioativa e assassina"
A encruzilhada nuclear. "Não interessa produzir energia nuclear porque é cara, suja, radioativa e assassina"

Para além do mais, não nos podemos esquecer que no caso de Almaraz, a questão dos resíduos radioativos e o deposito temporário desses resíduos já foi acordado entre Portugal e Espanha. A Zero pronunciou-se favoravelmente a todo esse processo porque pressupunha o encerramento da central neste prazo de 2027-2028.

“Estar a mudar estas circunstâncias significaria estar a ter todo um novo processo de avaliação de uma central, remodelada, o que até politicamente entre os dois países não será fácil".

Chema Gonzalez, como é conhecido José Maria González Maón, presidente da Adenex, a Associação para a Defesa da Natureza e dos Recursos da Extremadura, também não acredita que se decida manter em funcionamento a central de almaraz. Mas sublinha o que para si parece ser o mais importante.

“É lamentável que os autarcas da região de Almaraz não tenham usado o dinheiro que receberam ao longo de décadas para criar emprego. Não serviu para nada, os dinheiros que receberam. Gastaram-no em festas, em touros, em grandes concertos, e desde logo, nos primeiros anos, serviram para os autarcas encherem os bolsos", acusa Chema, que lembra que o próprio encerramento da central nuclear trará postos de trabalho, ao longo das próximas décadas.

"Depois do desmantelamento, há trinta anos em que os resíduos em alta vão estar mais trinta anos na central, por falta de local para os armazenar. Serão mais três décadas de trabalho na gestão de resíduos. As pessoas vão continuar a ter trabalho. Não essas mil pessoas que todos os meses são chamadas para operações de manutenção, mas 250 ou 300 pessoas para o desmantelamento, se não forem mais".

"O que acontece", explica Chema Gonzalez, "é que os protestos a defender a manutenção da central são apoiados pelos autarcas, que recebem entre 2 e 3 milhões por ano da central. E durante estes 40 anos, esses milhões, infelizmente, não serviram para criar um tecido industrial ou outras iniciativas de emprego dignas".

Quanto ao anúncio da instalação, na Extremadura, das duas grandes centrais de dados, quase em simultâneo com os protestos a favor da manutenção da central, Chema considera que não há coincidências.

"Nunca no mundo financeiro atual - e não digo do mundo económico, mas mundo financeiro, que é o que move o mundo - as coincidências foram um milagre. Estão a ocorrer, neste momento".


Os vizinhos de Portugal

A central de Almaraz está situada junto ao rio Tejo, numa zona que faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e Portalegre, sendo Vila Velha de Ródão a primeira povoação portuguesa banhada pelo Tejo depois de o rio entrar em Portugal.

Em operação desde 1981, a central nuclear de Almaraz está implantada numa zona de risco sísmico, a pouco mais de cem quilómetros em linha reta da fronteira portuguesa. A União de Freguesias de Zebreira e Segura, com pouco mais de mil habitantes, é a que está mais próxima, do lado de cá da fronteira. Segura está à beira do Rio Erges, que na maior parte do seu percurso define a fronteira hispano-portuguesa, sendo um afluente da margem direita do Tejo.


Ali, pouca ou nenhuma informação chega à população, como admite Paulo Pinto, o presidente da União de Freguesias.

"Sem dúvida que a população da região sente falta de informação concreta e transparente sobre níveis de radiação da Central, bem como sobre a possível contaminação das águas do Tejo", revela o autarca, para quem "o importante é haver informação do governo português sobre qualidade do ar ou sobre contaminação de águas. Que não seja um tabu".

Filho da terra, e ligado à política local há já alguns anos, não se lembra de alguma vez os órgãos locais terem recebido informação sobre qualidade do ar ou da água do rio. O que mergulha a população num sentimento de abandono

Paulo Pinto admite que foi ótima a notícia do encerramento da central nuclear, mas admite que "as empresas que beneficiam da eletricidade a preços mais baratos, proveniente da central, poderão ter de encontrar outras localizações. E isso poderá afetar o tecido económico da região transfronteiriça", porque, como indica, haverá empresas em Portugal que trabalham para essas empresas na Extremadura. E a possível deslocalização das mesmas poderá ter algum impacto em Portugal.

Agora que se coloca a questão de manter em funcionamento a central nuclear de Almaraz, Paulo Pinto questiona-se: "Será que mantendo-se em funcionamento, a Central trará mais valias à região?"


Governo português atento

Em termos ambientais, o governo português acompanha tudo o que se passa em Almaraz.

"Sempre que há uma mudança das questões relacionadas com Almaraz, a nossa Agência Portuguesa para o Ambiente é consultada e tem de dar o seu parecer, exatamente porque a central está num rio internacional", adianta à Renascença Maria da Graça Carvalho, a Ministra do Ambiente e Energia, que sublinha a importância de qualquer alteração ter de contar com uma luz verde de Portugal.

"Temos de ser consultados em tudo o que nos possa afetar ambientalmente. Ou aumento de capacidades ou destino de resíduos, por exemplo. Tudo o que seja perto da fronteira ou que tenha a ver com rios internacionais, temos de ser consultados no âmbito dos tratados internacionais. E respondemos, sempre que solicitado", explica a Ministra nestas declarações à Renascença.

Do ponto de vista de decisão quanto á composição da produção de energia, o chamado cabaz energético, Maria da Graça Carvalho indica que essa é uma responsabilidade de cada um dos estados-membros.

"Nós pertencemos ao Mercado Ibérico, mas é da soberania de Espanha decidir se a sua energia é mais solar, eólica ou nuclear. A única pressão que fazemos é no sentido de as utilizações serem seguras e que não nos afetarem, do ponto de vista ambiental".

O Ministério espanhol da Transição Ecológica enfatiza que o encerramento das centrais nucleares de Espanha será feito de forma ordenada e em sintonia com a entrada de mais energia renovável para substituir a eletricidade fornecida pelas centrais nucleares.

De acordo com a imprensa espanhola, o executivo de Pedro Sánchez considera que as energias renováveis estão a transformar Espanha num polo de atração de investimentos industriais e desenvolvimento económico que a energia nuclear não alcançou.

Destaca ainda o Ministério da Transição Ecológica que está a trabalhar em soluções para as regiões afetadas pelo fecho das centrais, dentro das políticas de Transição Justa. E que na área de Almaraz, por exemplo, será construída uma fábrica para produzir baterias, num investimento de cerca de mil milhões de euros que criará milhares de postos de trabalho.

Por fim, o governo espanhol tem referido que nenhuma das empresas proprietárias das centrais nucleares existentes solicitou, oficialmente, alterações às datas previstas para o encerramento das centrais nucleares. E que são outros atores do campo nuclear que estão a pedir esse adiamento.

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