24 mar, 2025 - 01:46 • João Pedro Quesado
A Ucrânia e os Estados Unidos da América (EUA) começaram este domingo, na Arábia Saudita, as negociações mediadas pelo governo de Donald Trump para um cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia.
Depois do encontro entre diplomatas ucranianos e norte-americanos, segunda-feira é a vez de a delegação dos EUA se sentar com a Rússia. Steve Witkoff, enviado especial dos Estados Unidos, mostrou-se otimista sobre o cessar-fogo, declarando sentir que o Presidente russo, Vladimir Putin, “quer paz”.
Uma das promessas de campanha de Donald Trump era de terminar o conflito provocado pela Rússia em 24 horas, e a atual Casa Branca tem utilizado todo o tipo de estratégias para atingir esse fim – até a humilhação pública de Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, num encontro da Sala Oval, e um acordo para obter minerais raros da Ucrânia.
Apesar de, entretanto, ter afirmado que a promessa das 24 horas era “sarcasmo”, a administração Trump continua a tentar conseguir um acordo entre Rússia e Ucrânia, utilizando o método das negociações entre Israel e o Hamas para um cessar-fogo (entretanto violado por Israel) na Faixa de Gaza.
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A Ucrânia e a Rússia acordaram, esta semana, parar durante 30 dias os ataques a infraestruturas de energia. Mas esses ataques continuam, e ainda é preciso acordar como e quando implementar esse cessar-fogo parcial.
As negociações em Ríade, capital da Arábia Saudita, devem ainda olhar para a segurança da navegação de navios no mar Negro. O objetivo dos Estados Unidos será ter um acordo alargado a 20 de abril, de acordo com a Bloomberg.
Do lado dos EUA, Steve Witkoff é o responsável pelas negociações. O empresário é o enviado especial dos Estados Unidos para o Médio Oriente e para o Presidente russo. Juntam-se ainda Andrew Peek, do Conselho de Segurança Nacional, e Michael Anton, diretor de planeamento de políticas do Departamento do Estado.
A liderar a representação da Ucrânia está o ministro da Defesa, Rustem Umerov, acompanhado de Pavlo Palisa e Ihor Zhovka, dirigentes do gabinete de Zelensky, Mykola Kolisnyk (vice-ministro da Energia), e Oleksandr Karasevich (secretário do Ministério dos Negócios Estrangeiros).
A delegação russa vai ser liderada por Sergei Beseda, um ex-chefe do quinto diretorado do FSB – a parte da agência de segurança sucessora do KGB responsável pelas operações de informação na Ucrânia, que recrutou colaboradores antes da invasão de fevereiro de 2022. Beseda vai ser acompanhado por Grigory Karasin, diretor do comité do senado russo de assuntos internacionais.
A Rússia não dá sinal de ceder em nenhuma das exigências que faz sobre a Ucrânia desde que lançou a invasão alargada, em fevereiro de 2022.
Numa chamada telefónica com Donald Trump, Putin exigiu, como condições para o cessar-fogo, o fim completo da ajuda militar estrangeira à Ucrânia e do fornecimento de informações a Kiev.
Ou seja, os objetivos russos continuam os mesmos: a capitulação da Ucrânia através do reconhecimento de quatro regiões ilegalmente anexadas, com uma declaração de neutralidade e redução do exército. A presença de forças ocidentais na Ucrânia também é recusada pelo Kremlin.
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Além disso, o Kremlin enquadrou o acordo que aceitou como focado apenas na infraestrutura energética, em vez de nas infraestruturas em geral, como foi anunciado pela Casa Branca.
Além de incluir as infraestruturas energéticas, a Ucrânia quer que o cessar-fogo inclua a ferrovia e os portos, segundo explicou Volodymyr Zelensky. “A nossa equipa está a trabalhar de uma forma completamente construtiva”, afirmou o Presidente da Ucrânia este domingo, apontando que “precisamos de fazer Putin dar uma ordem real para parar os ataques”.
O objetivo da Ucrânia continua a ser um cessar-fogo completo e imediato seguido de negociações para um acordo de paz com garantias de segurança dos países ocidentais. A Rússia quer ter logo um acordo de longo prazo, com exigências que contradizem os objetivos da Ucrânia e afastam os dois países.
A Rússia continua a controlar todo o território do leste da Ucrânia, desde a Crimeia até à região de Luhansk. Além disso, as forças de Putin mantêm a contraofensiva na região russa de Kursk, que a Ucrânia invadiu em agosto de 2023.
Em geral, a Rússia tem conquistado alguns quilómetros de território, mas de forma muito lenta e com base numa estratégia de superioridade numérica das suas forças - o que leva a utilizar mais soldados para ganhar metros ao exército da Ucrânia. Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra, cerca de 620 mil soldados russos estão a operar na Ucrânia e Kursk.
Um exemplo dos avanços lentos da Rússia é que o exército demorou um ano a avançar 40 km para lá da cidade de Avdiivka, a norte de Donetsk. O exército da Ucrânia abandonou a localidade em fevereiro de 2024, depois de meses de combates.