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Privacidade

O que é o Signal, a "app" que terá sido usada para planear ataques militares?

25 mar, 2025 - 16:32 • João Pedro Quesado

Altos responsáveis do governo dos EUA utilizaram o Signal para debater ataques no Iémen, mas juntaram ao grupo um jornalista. A aplicação é conhecida por ser a mais privada e é muito utilizada por jornalistas e ONGs que precisam de mais privacidade que a oferecida pelo WhatsApp e Telegram.

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Foi revelada esta segunda-feira uma grave falha de segurança na administração de Donald Trump, provocada pelo próprio conselheiro de segurança nacional da Casa Branca. Michael Waltz adicionou o editor da revista The Atlantic a uma conversa que deveria ser confidencial na aplicação de mensagens Signal.

A natureza surreal do caso, em que um jornalista assistiu involuntariamente a uma conversa entre o vice-presidente dos EUA, o secretário de Estado, de Defesa e a chefe de gabinete da Casa Branca, entre outros altos responsáveis, chamou a atenção para aplicação, com um número de utilizadores baixo relativamente ao WhatsApp e Telegram. A conversa era de planeamento de ataques militares no Iémen, com partilha de informações militares confidenciais fora do sistema de informações criado pelos EUA para esse propósito.

O que é o Signal?

O Signal é uma aplicação gratuita de mensagens, tal como o WhatsApp e o Telegram, que permite a troca de mensagens de texto e voz, a criação de conversas de grupo e o envio de stickers – tudo igual às outras aplicações.

Uma diferença para o WhatsApp e o Telegram é que o Signal não está nas mãos de uma empresa – o WhatsApp é da Meta, dona do Facebook e Instagram, enquanto o Telegram é da empresa dos seus fundadores, Pavel e Nikolai Durov. O Signal, lançado em 2014, é da fundação sem fins lucrativos Signal Technology Foundation.

É uma aplicação segura?

As mensagens são encriptadas ponta-a-ponta, tal como noutras aplicações. A diferença é que foi o Signal a criar o protocolo de encriptação utilizado por aplicações como o WhatsApp, que é de código aberto – e, por isso, disponível para todos utilizarem. A encriptação é utilizada nas mensagens, ficheiros partilhados, e chamadas de vídeo e voz.

O Signal faz ainda a encriptação dos metadados, e diz que não os armazena. Isto é: quem gere a aplicação não tem dados dos utilizadores, nem de quem participa numa conversa. “Evitamos ter acessos a esses dados”, disse a presidente do Signal numa entrevista ao site The Verge.

Além disso, o Signal permite, como outras aplicações, mensagens temporárias, com uma duração que pode ser tão curta como 30 segundos – ou qualquer outra que seja desejável. Em português, o Signal chama-lhe “destruição de mensagens”.

Outra característica é o bloqueio de registo, que ativa um temporizador de sete dias de inatividade se o número utilizado naquela conta do Signal for utilizado noutro dispositivo. Depois de sete dias de inatividade, o PIN anterior utilizado num determinado telemóvel para aceder à aplicação também fica indisponível, sendo necessário criar outro.

Qual é o nível de privacidade?

Além de não armazenar dados sobre os utilizadores, o Signal tornou o número de telefone ou telemóvel utilizado para criar a conta privado, escondendo-o em conversas com pessoas que não têm o contacto.

Também é possível criar um nome de utilizador único, para permitir entrar em contacto com outras pessoas sem partilhar o número pessoal. E existe a opção de não permitir que outras pessoas nos encontrem através do número de telemóvel - reforçando a dependência do nome de utilizador único.

Já o código PIN da aplicação não precisa de ser de apenas quatro ou seis caracteres, e não é armazenado diretamente pelos servidores Signal (assim como as conversas e contactos na aplicação, um conjunto de dados conhecido como gráfico social). Tudo no Signal é armazenado apenas nos dispositivos onde a aplicação está instalada e a sessão iniciada.

Como se financia?

Segundo o Signal, a aplicação não tem nem publicidade, nem rastreadores do comportamento dos utilizadores - não ter publicidade incentiva a não rastrear os utilizadores. Sem guardar dados sobre os utilizadores, fica sem forma de vender publicidade, já que não consegue dizer a anunciantes que públicos pode atingir.

O financiamento surge de doações, quer dos utilizadores, quer de doadores ou investidores - em 2018, depois de a Meta comprar o WhatsApp, o criador dessa aplicação doou 50 milhões de dólares para permitir a criação da fundação Signal.

Como se compara com o Telegram?

O Telegram é o maior rival do WhatsApp, com 900 milhões de utilizadores ativos por mês em 2024. Devido à prioridade dada à privacidade, o Signal não permite grupos tão grandes como o limite de 200 mil utilizadores do Telegram (e sem limite nos canais, utilizados por entidades e empresas). O limite do Signal é de mil utilizadores por grupo.

As mensagens no Telegram são armazenadas em "nuvem", o que significa que estão mais prontamente disponíveis em vários dispositivos. Ao associar um dispositivo novo à conta, como um computador, o Signal questiona o utilizador se deseja a transferência das mensagens dos últimos 45 dias, ou se não deseja transferir nenhum dado a não ser o início da sessão.

Ao contrário do Telegram e do WhatsApp, não é possível utilizar o Signal através de um navegador de Internet, sendo preciso instalar a aplicação no computador.


Apesar de tudo isto, a aplicação não é recomendada para a partilha de dados confidenciais e de informações militares e de segurança nacional de Estados soberanos.

Pelo menos nos Estados Unidos da América, as regras obrigam a utilizar dispositivos aprovados pela Direção de Segurança Nacional, e a comunicação de informação confidencial deve acontecer em instalações seguras, conhecidas como SCIF (acrónimo em inglês para Instalação de Informação Sensível Compartimentada). A famosa Sala de Crise (“Situation Room”) da Casa Branca é um exemplo desse tipo de instalações.

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