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Guerra comercial

Tarifas ficam ou são para negociar? Aliados de Trump dizem as duas coisas no mesmo dia

06 abr, 2025 - 23:25 • João Pedro Quesado

Secretários do Comércio, Tesouro e Agricultura deram entrevistas com diferentes graus de surrealismo nos canais norte-americanos, desvalorizando as perdas nas bolsas e alegando que as tarifas vão devolver empregos aos EUA para depois dizer que tudo vai ser automatizado.

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Altos responsáveis da administração Trump entraram em contradição este domingo, com mensagens em sentidos contrários sobre as tarifas lançadas pelo Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) sobre a maioria dos países. As tarifas provocaram perdas de biliões de dólares nas bolsas norte-americanas e à volta do mundo, com receios de uma recessão global a surgir.

Como habitual na política norte-americana, a Casa Branca colocou vários membros da administração Trump nos programas políticos de domingo, prontos a defender as tarifas de 10% sobre praticamente todos os produtos importados pelos EUA, e com tarifas mais altas para cerca de 60 países, incluindo a União Europeia. Mas a estratégia saiu gorada.

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No famoso programa "Face the Nation", da CBS, Howard Lutnick, o secretário do Comércio, defendeu as tarifas como algo definitivo. Questionado sobre a possibilidade de adiar as taxas para permitir negociações, Lutnick afirmou que "não há adiamento – elas vão definitivamente ficar durante dias e semanas, isso é óbvio".

Durante a entrevista, Lutnick pareceu sugerir que um efeito das tarifas vai ser levar para os EUA o "exército de milhões e milhões de seres humanos a apertar os pequenos parafusos para fazer iPhones", apenas para dizer de seguida que "vai ser automatizado".

Lutnick: "The army of millions and millions of human beings screwing in little screws to make iPhones -- that kind of thing is going to come to America."

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— Aaron Rupar (@atrupar.com) April 6, 2025 at 3:52 PM

A mensagem de Lutnick – a de não negociação – pareceu não chegou a outros responsáveis. No "Meet the Press" da NBC News, Scott Bessent, o secretário do Tesouro, argumentou que Trump "criou alavancagem máxima para si mesmo, e mais de 50 países contactaram a administração sobre baixar as barreiras não-tarifárias ao comércio, baixar as tarifas deles, parar a manipulação de moeda".

Bessent pareceu ainda desvalorizar as perdas astronómicas dos mercados, com biliões de valor a desaparecer, afirmando que "tudo está a funcionar muito suavemente".

WELKER: The markets lost more than $6 trillion in value. Was this disruption always part of the plan? BESSENT: We had record volume on Friday and everything is working very smoothly. So the American people can take great comfort in that.

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— Aaron Rupar (@atrupar.com) April 6, 2025 at 3:12 PM

Já no "State of the Union", da CNN, a secretária da Agricultura, Brooke Rollins, ecoou a mensagem de Scott Bessent, admitindo a possibilidade de negociações por haver "50 países que estão a assar as linhas telefónicas da Casa Branca". Questionada sobre assuntos mais específicos, como a razão pela qual a União Europeia não importa carne dos Estados Unidos (devido às restrições do uso de hormonas na produção de gado, proibido na UE desde 1981), Rollins disse que isso é "ciência falsa".

TAPPER: The European Union don't take as much as American pork because they have issues w/ hormones used in pork. It's not an issue about tariffs BROOKE ROLLINS: No no no. This is really important. Here's the bottom line. They are using fake science & unsubstantiated claims to not take our products

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— Aaron Rupar (@atrupar.com) April 6, 2025 at 3:05 PM

Brooke Rollins usou ainda a habitual tática da administração Trump de usar uma retórica diferente para negar ou mudar a imagem do que está a acontecer, apontando que os mercados não estavam em queda, mas simplesmente "a ajustar-se". Já Bessent disse que as perdas das poupanças dos norte-americanos perto da reforma era uma "falsa narrativa", por estes "não olharem para as flutuações diárias".

O surrealismo da entrevista de Rollins continuou quando o jornalista Jake Tapper confrontou a responsável do setor da Agricultura com a aplicação de tarifas ao arquipélago australiano da Ilha Heard e Ilhas McDonald, onde apenas vivem pinguins. Rollins desvalorizou com um "está bem" e afirmou que "as pessoas que estão a liderar são sérias, intencionais, patrióticas, as pessoas mais inteligentes com que já trabalhei".

TAPPER: You're imposing a 10% on the Heard and MccDonald islands. They have zero human inhabitants. Why are you putting tariffs on islands entirely populated by penguins? ROLLINS: Whatever. Listen, the people leading this are serious, intentional, patriotic, the smartest I've ever worked with.

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— Aaron Rupar (@atrupar.com) April 6, 2025 at 3:09 PM
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  • Chupar no dedo
    07 abr, 2025 Mundo 10:30
    O pato está convencido que os exportadores para fugir às tarifas vão montar fábricas nos EUA pois não passam sem o Mercado Americano. Deve estar parvo: além dos BRICS, da China, do Canadá, do Japão, da Austrália, etc há todo um mundo de Mercados que podem ripostar e combinar-se entre si com tarifas ZERO e os EUA ficam a chupar no dedo.

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