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Alterações Climáticas

"Não interessa tratar do ambiente se não tivermos os recursos financeiros para o pagar"

18 abr, 2025 - 20:37 • José Pedro Frazão

O eurodeputado da Iniciativa Liberal João Cotrim de Figueiredo defende que é preciso fazer escolhas políticas e apostar no crescimento económico, "porque a transição energética é caríssima". No programa Casa Comum, o debate com Duarte Pacheco e Ana Catarina Mendes abordou a possível queda da agenda climática na arena europeia dedicada cada vez mais à segurança e defesa.

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O relatório Draghi sobre a competitividade na Europa foi desatualizado pela presidência Trump. O alerta é do eurodeputado da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, no programa Casa Comum, da Renascença, onde defendeu que não é possível à Europa apostar ao mesmo tempo em defesa, competitividade económica e combate às alterações climáticas.

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"O próprio Mario Draghi percebe que os seus 800 mil milhões de investimento adicional anual que previa no seu relatório não são compagináveis com o investimento adicional em defesa, que tem valores similares num período de 5 a 10 anos", adverte Cotrim de Figueiredo no contexto de uma mudança no "alinhamento geopolítico" por via da posse de Donald Trump, meses depois da apresentação do relatório do banqueiro italiano.

O eurodeputado defende que é necessário fazer escolhas - "é a essência da política" - recusando a possibilidade de apostar simultaneamente no crescimento económico, no combate às alterações climáticas e no investimento em defesa.

"Com muita pena nossa, temos que escolher politicamente o que é que fica para trás, subalternizado", apela Cotrim de Figueiredo. O eurodeputado liberal defende que a primazia deve ser dada ao crescimento económico. "Se há uma prioridade agora emanente - porque não interessa ter uma economia muito pujante se não tivermos segurança - pois a defesa é mais importante. Não interessa tratar do ambiente se não tivermos os recursos financeiros para o pagar. Portanto, temos que dar prioridade ao crescimento".

Cotrim de Figueiredo recusa a ideia de que a aposta na defesa seja um instrumento em si para o crescimento económico e sugere mesmo que há discursos enganadores sobre a aposta na defesa na Europa.

"Dizer às pessoas que vamos investir em defesa porque há, por exemplo, vantagens económicas na reindustrialização ou há patentes que vão ter utilização civil, é enganar as pessoas. Isso pode acontecer, mas não tem retorno, não é reprodutivo economicamente como outros tipos de investimento", sustenta João Cotrim de Figueiredo no programa Casa Comum da Renascença, em parceria com a Euranet - Rede Europeia de Rádios.

Mais vontade política

Em resposta, a eurodeputada do PS Ana Catarina Mendes recusa colocar de lado o Pacto Ecológico Europeu, sublinhando que o relatório Draghi "dá uma grande ênfase à necessidade de continuar esta transição energética" no quadro de uma maior competitividade das economias europeias.

A parlamentar socialista defende que a "equação defesa, economia e clima" não deve ser colocada "em mundos à parte", recordando que a bancada política de que faz parte em Bruxelas tem apelado a que a agenda climática não fique para trás.

“É possível combinar tudo isto se tivermos vontade política. É preciso apostar, por exemplo, na economia circular, se olharmos para a dependência energética do gás e da importação de gás natural para muitos dos estados-membros da União Europeia. Se apostarmos no biogás, aproveitando os resíduos orgânicos e das indústrias agroalimentares, isso permite que entremos na economia circular e protejamos o clima", sustenta Ana Catarina Mendes na Renascença.

A eurodeputada salienta que há verbas disponíveis no Plano de Recuperação e Resiliência, classificando como "criminosa" a retirada do projeto de dessalinizadora do Algarve no âmbito da reprogramação do PRR português. "O Algarve foi uma zona muito penalizada com a falta de água nos últimos tempos e não podia ter sido retirado este projeto".

Nem sempre o clima é prioridade

O social-democrata Duarte Pacheco assinala que a existência de fenómenos extremos leva já a correntes de política económica que defendem a criação de rubricas orçamentais para resposta a eventos climáticos.

"Há situações em que se pode compreender que os problemas climáticos, sendo reais, fiquem num segundo plano. Na Europa tivemos uma pandemia que fez com que isso concentrasse toda a atenção e todos os recursos", ressalva o antigo deputado do PSD no programa "Casa Comum".

No entanto, sublinha Pacheco, não há sinais de desinvestimento no combate às alterações climáticas nas intervenções da Presidente da Comissão Europeia e do Relatório Draghi.

"A quem serve este alarmismo?"

A semana fica marcada pela apresentação do Relatório do Estado do Clima que descreve 2024 como um ano de recordes de temperaturas e inundações muito graves, sendo um dos dez anos mais chuvosos desde 1950 na Europa Ocidental, com custo económico de milhões de euros e 413 mil pessoas afetadas por inundações.

João Cotrim de Figueiredo reconhece que os dados são “assustadores”, mas diz não ter encontrado os motivos pelos quais surgiram esses fenómenos extremos. "Fiquei particularmente desagradado e até desconfiado pelo facto deste relatório não mencionar uma série de coisas que ocorreram em 2024 com impacto no tempo e, vamos ver, se com impacto no clima".

O eurodeputado liberal assinala que 2024 registou "um dos mais fortes e curtos El Niño" e foi dos anos "com menos erupções vulcânicas, que dão hipótese a não haver tanto aquecimento porque bloqueiam os raios solares".

João Cotrim de Figueiredo critica o Serviço Copérnico e a Organização Mundial de Meteorologia, promotores do relatório, por publicar " dados tão alarmantes", sem explicar e tentando "fazer equivaler o ano de 2024 a uma aceleração dos problemas climáticos. Pergunto-me: este tipo de cultivo do alarme pelo alarme serve a quem?"

Prioridades no tempo errado

O dirigente liberal reconhece que a agenda ambiental está em perda na Europa "em contraponto à sobrevalorização das questões climáticas no mandato anterior em que o Green Deal foi a grande bandeira da primeira comissão Von Der Leyen".

Cotrim de Figueiredo fala "quase como uma justiça poética" no facto da União Europeia "passar décadas a não dar prioridade ao crescimento económico e a subalternizar o investimento em defesa" e de repente, face à publicação do Relatório Draghi e à tomada de posse de Trump, mudar as suas prioridades.

"Não vou conseguir combater as alterações climáticas se não tiver recursos para fazer, porque a transição energética e o investimento em tecnologia para ajudar a combater as alterações climáticas é extremamente dispendiosa, e agora por cima disto vamos ter uma prioridade na segurança e defesa europeias", remata Cotrim de Figueiredo.

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