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Eleições no Canadá. Quem pode ganhar e o que está em jogo?

24 abr, 2025 - 09:00 • Redação

Liberais e conservadores disputam a vitória num momento de tensão com os Estados Unidos. A resposta às tarifas de Trump, o aumento do custo de vida e a crise na habitação são questão determinantes para os canadianos.

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O Canadá vai a eleições na próxima segunda-feira, dia 28 de abril, para decidir quem vai formar o próximo Governo. Mark Carney, do Partido Liberal, e Pierre Poilievre, do Partido Conservador, são os principais candidatos à vitória.

Mark Carney, antigo governador do Banco do Reino Unido e do Banco do Canadá, tomou posse como primeiro-ministro em março, após ter sido eleito líder do Partido Liberal. As eleições internas do partido aconteceram na sequência da demissão de Justin Trudeau, em janeiro.

Carney tomou posse num momento de tensão entre o Canadá e os Estados Unidos da América, com Donald Trump a impor elevadas tarifas sobre o Canadá e a ameaçar tornar o país no 51.º estado norte-americano.

Realizando-se de 4 em 4 anos, as próximas eleições federais estavam agendadas para 20 de outubro de 2025. Contudo, 9 dias depois de tomar posse no seu primeiro cargo político, Carney convocou eleições antecipadas.

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O que levou o primeiro-ministro a convocar eleições antecipadas? Como funciona o sistema eleitoral canadiano? Que partidos vão a votos? Que candidato tem mais hipóteses de vir a ser primeiro-ministro? Neste artigo, a Renascença reuniu tudo o que precisa de saber sobre as eleições do próximo dia 28 de abril, no Canadá.

Porque é que que foram convocadas eleições antecipadas?

No Canadá, existem alguns cenários que podem levar a eleições antecipadas:

  • Quando o governador-geral (Mary Simon) aceita o conselho do primeiro-ministro para dissolver o Parlamento, ou
  • Quando o governador-geral aceita a demissão do primeiro-ministro após o chumbo de uma moção de confiança ao Governo no Parlamento.

No que às eleições de 28 de abril diz respeito, falamos do primeiro cenário.

Ao tomar posse, Mark Carney enfrentava dois problemas. Por um lado, as ameaças económicas e diplomáticas de Donald Trump. Por outro, o facto de não ter sido eleito pelos cidadãos e não ter assento na Câmara dos Comuns (equivalente ao parlamento português), o que significa que não podia responder aos partidos políticos.

Perante estes problemas e a pressão de vários líderes políticos, Mark Carney tomou a decisão de chamar os cidadãos às urnas.

Como funcionam as eleições no Canadá?

O sistema eleitoral do Canadá é um sistema parlamentar e deriva da tradição britânica.

Na prática, os eleitores não votam diretamente no primeiro-ministro. Votam nos deputados que representam os partidos políticos no seu círculo eleitoral.

Existem 343 círculos federais (também chamados de circunscrições ou distritos eleitorais) em todo o país. A cada círculo corresponde um lugar na Câmara dos Comuns.

Todos os lugares da câmara baixa, a Câmara dos Comuns, estão em disputa nas eleições. Já os membros da câmara alta, o Senado, não são eleitos, mas sim nomeados.

Tal como no Reino Unido, vigora um sistema “first-past-the-post", ou seja, o candidato que obtiver maior número de votos em cada círculo eleitoral ganha o lugar na Câmara dos Comuns e torna-se deputado. Não é preciso obter a maioria dos votos. Os restantes partidos não ganham nenhum deputado.

O partido que eleger maior número de deputados vai formar governo e o seu líder torna-se primeiro-ministro.

Se os liberais ou conservadores (principais forças políticas) conseguirem 172 ou mais lugares, formam um governo maioritário. Se obtiverem menos do que isso, vão ter de trabalhar com outros partidos para aprovar leis.

Foi o que aconteceu em 2021. Os liberais não conseguiram uma maioria, tendo chegado a um acordo de apoio com o Novo Partido Democrático (NPD).

No Canadá, podem votar todos os cidadãos canadianos, com mais de 18 anos, e que tenham um documento comprovativo de identidade e morada.

Quem são os principais candidatos a primeiro-ministro?

De acordo com as sondagens, Mark Carney, do Partido Liberal, e Pierre Poilievre, do Partido Conservador, são os principais candidatos a primeiro-ministro.

Quando o antigo primeiro-ministro Justin Trudeau se demitiu, em janeiro, o conservador Poilievre liderava as sondagens. Contudo, as elevadas tarifas económicas impostas por Donald Trump ao Canadá, bem como as ameaças à sua soberania mudaram o cenário político e a corrida eleitoral.

Além das tarifas de Trump estarem a abalar as empresas canadianas, o país enfrenta um aumento do custo de vida e uma crise no acesso à habitação, que deverá agravar-se com a guerra comercial.

Mark Carney é novo na política, mas apresenta um currículo de décadas na área financeira. Foi governador do Banco do Reino Unido e do Banco do Canadá, tendo ajudado os dois países a enfrentar períodos de particular instabilidade económica - o Brexit e a crise financeira de 2008, respetivamente.

É elogiado pelas suas competências no plano económico e financeiro e tem adotado uma postura firme face ao presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. Promete retaliar contra as tarifas e afirma que o Canadá jamais se tornará o 51.º estado norte-americano.

Além disto, tem procurado aprofundar laços com outros aliados. A sua primeira viagem ao estrangeiro como primeiro-ministro foi à Europa, onde se encontrou com responsáveis franceses e britânicos para discutir o reforço em termos de segurança, defesa e economia.

Contudo, Carney é criticado pela falta de experiência política e pelo fraco domínio da língua francesa, muito valorizada em províncias francófonas.

As tensões com os Estados Unidos abrandaram a ascensão de Pierre Poilievre, político experiente com quase duas décadas de carreira. Foi eleito pela primeira vez para a Câmara dos Comuns aos 25 anos.

Desde então, tem sido um defensor consistente da diminuição de impostos e da redução dos membros do Governo do Canadá. É conhecido pelo seu estilo confrontacional e populista, com um discurso contra as elites.

Atacou de forma intensa os liberais e Justin Trudeau, argumentado que as suas políticas "desastrosas” e “woke” pioraram a qualidade de vida dos canadianos.

Este discurso tem cativado muitos canadianos preocupados com a crise da habitação, os salários estagnados e o aumento do custo de vida.

No entanto, Poilievre é muitas vezes comparado a Donald Trump no seu estilo populista, numa altura em que os canadianos estão preocupados com as ameaças económicas e diplomáticas por parte dos Estados Unidos.

Por esta razão, o conservador tem procurado adaptar a sua mensagem. Criticou as ameaças de Trump de transformar o Canadá no 51.º estado norte-americano e apoiou tarifas recíprocas, prometendo colocar “o Canadá em primeiro lugar".

Que outros partidos vão a votos?

Embora o Partido Liberal de Carney e o Partido Conservador liderem as sondagens, também vão a votos o Novo Partido Democrático, o Partido Verde e o Bloc Québécois, presente apenas na província do Quebec.

Antes de serem convocadas eleições, o Novo Partido Democrático (NPD) tinha 24 lugares no parlamento canadiano. É um partido de esquerda com foco em questões laborais e dos trabalhadores.

O seu líder, Jagmeet Singh, fez história ao ser o primeiro membro de uma minoria étnica a encabeçar um grande partido político no Canadá.

Em 2021, o NPD estabeleceu um acordo de “apoio e confiança” com o governo liberal, ajudando-o a aprovar a legislação. Em troca, pediu progessos como ajudas no acesso à medicina dentária para famílias com baixos rendimentos.

Contudo, no final de 2024, Singh rompeu com esse acordo devido a divergências no plano laboral com o executivo de Trudeau.

Desde então, o partido tem tido dificuldades em recuperar o apoio.

Já o Bloc Québécois, antes dos canadianos serem chamados às urnas, tinha 33 lugares no parlamento. É um partido soberanista do Quebec, a segunda província mais populosa do Canadá. Só apresenta candidatos na província francófona, o que significa que a probabilidade do seu líder vir a tornar-se primeiro-ministro é baixa.

Ainda assim, o partido é um interveniente-chave nas eleições canadianas. A sua popularidade no Quebec pode determinar o destino dos grandes partidos que pretendem formar governo.

O seu líder é Yves-François Blanchet, que considera que a retórica de Trump sobre o Quebec ser o 51º estado norte-americano é um “disparate”.

Por fim, o Partido Verde também vai a votos nestas eleições. Na legislatura anterior, tinha dois deputados.

O que dizem as sondagens?

Quando Justin Trudeau se demitiu no início de 2025, fê-lo sob pressão do próprio partido, que achava que a sua impopularidade pessoal estava a prejudicar as probabilidades dos liberais de ganhar as próximas eleições.

De facto, as sondagens nacionais partilhadas pela Canadian Broadcasting Corporation (CBC) indicam que o apoio aos liberais enfraqueceu ao longo de 2023 e 2024.

Ao mesmo tempo, o apoio aos conservadores aumentou. A 20 de janeiro de 2025, dia da tomada de posse de Donald Trump, os conservadores tinham 44,8% das intenções de voto, enquanto os liberais tinham 21,9%.

A partir de fevereiro, as sondagens sugerem que o apoio aos liberais voltou a subir. Os inquéritos mais recentes revelam que, numa média nacional, um pouco mais de 40% dos canadianos apoiam os liberais, enquanto pouco menos de 40% apoiam os conservadores.

Esta é a primeira vez em três anos que os liberais lideram as sondagens. A resposta às ameaças económicas do Presidente Trump tornou-se uma questão dominante para os eleitores, juntamente com o custo de vida, a economia e a crise da habitação.

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