27 abr, 2025 - 09:24 • Lusa
Os canadianos escolhem na segunda-feira o próximo chefe de Governo, em eleições antecipadas marcadas pelas ameaças do Presidente vizinho Donald Trump de tornar o país o 51.º estado norte-americano.
Quando, em fevereiro, o recentemente empossado Presidente dos Estados Unidos começou a ensaiar os primeiros passos de uma guerra comercial global e a ameaçar a soberania do vizinho a norte, as sondagens para as eleições antecipadas do Canadá registaram uma súbita ascensão dos progressistas e uma queda abrupta dos conservadores.
Mark Carney, líder do Partido Liberal (progressista) e atual primeiro-ministro (depois de ter substituído Justin Trudeau no partido e no Governo), e Pierre Poilievre, do Partido Conservador, são os dois principais candidatos, mas agora com as intenções de voto favoráveis ao primeiro.
Mark Carney, de 60 anos, é um economista de renome internacional que assumiu a liderança dos progressistas liberais em março, deixando para trás uma carreira como governador dos bancos centrais do Canadá e do Reino Unido. Afirmou-se como um líder tecnocrata, focado na estabilidade económica e na defesa da soberania canadiana.
A plataforma eleitoral inclui um plano de investimento público de 130 mil milhões de dólares canadianos (cerca de 80 mil milhões de euros) ao longo de quatro anos, para impulsionar a economia e resistir às tarifas que Trump impos às importações de produtos do Canadá.
O principal adversário, Pierre Poilievre, de 45 anos, é um político veterano conhecido pelo estilo combativo e pelas posições conservadoras, incluindo a defesa de cortes fiscais, da redução do Governo e de políticas de segurança mais rigorosas.
As propostas de Poilievre incluem a eliminação do imposto sobre o carbono e a revogação de leis ambientais para acelerar projetos de recursos naturais.
Quando se apercebeu que as ameaças do Presidente norte-americano estavam a favorecer Carney, Poilievre começou a distanciar-se das comparações com Trump, embora partilhe algumas das políticas e atitudes, como a crítica aos meios de comunicação social tradicionais.
As ameaças de Trump de transformar o Canadá no 51.º estado norte-americano - inicialmente encaradas como puro ato de retórica populista - ganharam seriedade com a imposição de tarifas que colocam em risco o bom momento económico do Canadá.
Carney tem capitalizado este sentimento de antipatia contra o Governo norte-americano, apresentando-se como o líder capaz de enfrentar as pressões de Trump, enquanto Poilievre tenta equilibrar a posição entre a crítica às ideias progressistas e a necessidade de afirmar a soberania canadiana.
Além destes dois principais candidatos, outras duas figuras procuram manter a representação dos partidos no Parlamento canadiano: Jagmeet Singh, líder do Novo Partido Democrático (NDP), e Yves-François Blanchet, líder do Bloco do Quebeque.
Singh centrou a campanha em políticas sociais, como a implementação de um plano farmacêutico universal e incentivos à produção de veículos elétricos no Canadá. Blanchet viu a estratégia independentista prejudicada no Quebec, onde o sentimento separatista foi atenuado pelas ameaças externas, que provocaram um reforço da unidade do país.
O sistema eleitoral canadiano baseia-se em círculos uninominais, onde cerca de 28 milhões de canadianos escolhem os deputados para a Câmara dos Comuns.
O partido que obtiver a maioria dos 343 lugares do Parlamento é convidado a formar Governo, sendo o líder nomeado primeiro-ministro, num país onde a tradição de coligações é praticamente inexistente, obrigando a uma forte resiliência de executivos de maioria relativa.
A elevada participação antecipada pelas sondagens também sugere um eleitorado mobilizado, consciente da importância das eleições para o futuro do Canadá, num momento de particular incerteza global.