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Bastonária dos Advogados critica desproporcionalidade das custas judiciais

01 set, 2016 - 11:28

Elina Fraga discursou na sessão de abertura do novo Ano Judicial e deixou elogios à ministra da Justiça.

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A bastonária da Ordem dos Advogados diz que as custas judiciais são “desproporcionais aos rendimentos das famílias" e "constituem um obstáculo intransponível ao acesso à Justiça".

"Hoje, com uma classe média esmagada por impostos, violentada por cortes e reduções de salários e pensões, não é possível continuarmos indiferentes ao empobrecimento desses cidadãos, exigindo o pagamento de taxas e de custas manifestamente insuportáveis para os seus orçamentos", defendeu Elina Fraga na cerimónia de abertura do novo Ano Judicial, esta quinta-feira, em Lisboa.

Para a bastonária, a revisão do Regulamento das Custas Judiciais e a diminuição das custas judiciais "constituem uma opção política, marcadamente ideológica, um salto qualitativo na democratização do acesso aos tribunais".

E isto porque – disse – "é uma manifestação que contrariará as opções do passado, de privilegiar a justiça pública em detrimento da justiça privada, tantas vezes pouco transparente ou mesmo verdadeiramente clandestina".

"A transferência de custos dos tribunais para os cidadãos, sobretudo através da imposição da tramitação electrónica dos processos na plataforma Citius, que permitiu poupar milhares de euros ao Estado em registos postais e impressões de despachos e decisões, não foi acompanhada de qualquer contrapartida, designadamente a que se impunha, a respectiva redução das custas judiciais", frisou.

Elina Fraga, que se encontra em fim de mandato, defendeu ainda o reforço de meios humanos para as secções de execuções e de comércio, assinalando que um país onde não se consegue cobrar uma dívida ou recuperar um crédito "não pode ter uma economia em crescimento".

"Não capta investimento nacional ou estrangeiro, desencoraja os cumpridores e premeia os prevaricadores", enfatizou.

Ao referir que não há Estado de Direito sem tribunais, sem uma magistratura independente e uma advocacia verdadeiramente livre, Elina Fraga defendeu que todos os dias em Portugal se enfrentam "os constrangimentos infligidos por uns tantos, alguns magistrados, que renegam pertencer à família judiciária, para se integrarem no que me permitiria apelidar de ´máquina judiciária´".

"Uma ‘máquina’ que despreza as garantias fazendo-as coincidir com expedientes, que não respeita as pessoas porque está presa às estatísticas, que confunde celeridade com o automatismo do ‘copy paste’ nas decisões, que não sente a dor das vítimas, nem reconhece direitos aos arguidos, que despreza a presunção de inocência e contempla a celeridade como um valor em si mesmo", frisou.

Acrescentou ainda tratar-se de uma ‘máquina’ que vê no advogado "um obstáculo à realização da Justiça e que "privilegia a quantidade e representa uma Justiça sem humanidade, sem rosto e sem alma".

Lembrou ainda a falta de meios em tribunais, como o de trabalho de Beja, e como trabalhadores assediados no trabalho são vencidos pela morosidade processual, que derruba a sua resistência e expõe a sua fragilidade económica.

E apelou directamente ao Presidente da República para "fazer despertar deste torpor" mencionando o facto de Portugal ter uma Constituição, com 40 anos, "que não está cumprida no que respeita ao acesso universal à justiça e aos tribunais".

Comentários
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  • Pinto
    01 set, 2016 Custoias 14:04
    A justiça é uma mina de dinheiro e de interesses privados.
  • Merece aplausos
    01 set, 2016 luisa 13:57
    Parabéns senhora bastonária! Haja coragem para dar o corpo ás balas pelos mais desprotegidos! Subscrevo na integra: ...."Uma ‘máquina’ que despreza as garantias fazendo-as coincidir com expedientes, que não respeita as pessoas porque está presa às estatísticas, que confunde celeridade com o automatismo do ‘copy paste’ nas decisões, que não sente a dor das vítimas, nem reconhece direitos aos arguidos, que despreza a presunção de inocência e contempla a celeridade como um valor em si mesmo",
  • João José Marujo do
    01 set, 2016 TORRES NOVAS 13:49
    Todas as graves fraudes, crimes económicos, PANAMÁS PAPERS e até mais recentemente crimes de extorção e homicídio, envolvem ADVOGADOS. Uma Bastonária de uma ordem que mais parece uma CAMORRA deveria ter vergonha na cara e "lavar a casa" antes de criticar ou elogiar seja quem fôr
  • Sísifo
    01 set, 2016 Lisboa 13:27
    Essa mulher devia é uma fraude: quem não tem rendimentos, recorre ao apoio judiciário que isenta os mais desfavorecidos dos custos judiciais, deslocando a despesa para os contribuintes, que para além dos encargos que a justiça acarreta, ainda paga os advogados cujos honorários não correspondem ao "verdadeiro" valor do seu trabalho - onde impera a medíocridade - , porque a maioria dos advogados nem sabe o que anda a fazer nos Tribunais.
  • Lercorruptos
    01 set, 2016 Pontinha 13:09
    Pois é A. Moura, mas TODOS os deputados estão na Assembleia da República não para defender quem votou neles "deputados" mas obedecer aos donos das associações de advogados, ou seja o verdadeiro patrão DELES!!!!!!!!!!!!!!1
  • Lopes
    01 set, 2016 Viseu 13:08
    Infelizmente tem toda a razão, a justiça é o maior problema do nosso país e a maior parte dos políticos têm interesse em que assim continue.
  • Rui
    01 set, 2016 Lisboa 13:04
    Senhora Bastonária, não devia ter feito isso, agora para evitar tais discrepâncias vão torna-las mais proporcionais pelos valores mais altos e se os custos já eram exorbitantes vão se tornar impossíveis para o comum do cidadão e assim continua o acesso igualitário à justiça neste país.
  • O Lopes
    01 set, 2016 Azeitão 12:57
    Trolololol Isto vindo da bastonária de uma classe profissional que nem sequer pode afixar os honorários para o público nem fazer publicidade aos seus serviços (para melhor evitar que os preços comecem a ficar justos, e comece a haver selecção de serviços por preço-qualidade - maldita concorrência....) e que com frequência cobram valores absurdos para as respectivas qualificações. Meus amigos, não esqueçamos que um advogado não passa de um licenciado em direito com um estágio e um exame de acesso à respectiva ordem. Tal como dezenas de outras profissões equivalentes, e cujos honorários nem chegam a 1 décimo do que por vezes um advogado pede por hora.... As custas não passam de pequenas gotas nos custos totais cobrados na advocacia... Querem baixar os preços de acesso à justiça? Primeiro passo é obrigar os advogados a afixar publicamente os honorários para serviços ao consumidor. Segundo passo é permitir que os escritórios de advocacia possam publicitar os seus serviços e preços. E pronto, após isso temos um mercado concorrencial que irá começar a baixar os preços...
  • vpr127
    01 set, 2016 lisboa 12:43
    E baixar os honorários dos advogados? Estes também são desproporcionais aos rendimentos das famílias ! Pois, mas isso era muito chato para os advogados.
  • Edward Moore
    01 set, 2016 Lisboa 12:32
    Há Juízes que estão ao serviço dos prevaricadores !! como dizia Miguel Veiga.. Os Juízes que só sabem de direito, nem de direito sabem, é necessário experiência, conhecimento!! e imparcialidade...

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