27 ago, 2020 - 08:12 • Joana Gonçalves
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Um novo surto de Covid-19 na Coreia do Sul, que até esta quinta-feira já tinha afetado 56 pessoas, veio reforçar o potencial da transmissão do novo coronavírus por aerossóis, no caso através do sistema de ar condicionado.
Uma mulher que visitou um Starbucks em Paju, cidade a norte de Seul, infetou 27 clientes do mesmo café, que contaminaram pelo menos outras 29 pessoas, já fora do estabelecimento. Os especialistas acreditam que a posição do ar condicionado está na origem do surto. Respeitando as regras de segurança implementadas pelas autoridades de saúde locais, os quatro empregados que usaram máscara escaparam à doença.
"O movimento do ar dentro de uma sala – que pode ser, por exemplo, devido ao ar condicionado – pode empurrar as partículas virais, que estão em suspensão no ar, de um sítio para outro”, explica à Renascença Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade Nova, indicando um outro caso recente que veio comprovar isso mesmo.
Um estudo divulgado pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças de Guangzhou, na China, aponta para um cenário semelhante, registado em junho, em que “pessoas que estavam dentro de um restaurante numa mesa, afastada dois a três metros de outra mesa, contaminaram as pessoas da segunda mesa”, explica Carmo Gomes.
“Como havia câmaras de vídeo internas no restaurante, foi possível ver que, embora tenha havido contaminação, as pessoas não contactaram fisicamente e nem sequer estiveram muito próximas umas das outras. Fizeram simulações com gases coloridos e concluíram que, devido à posição do ar condicionado, havia deslocação dos gases da mesa onde estava a pessoa infetada para a mesa onde estavam as pessoas que foram infetadas.”
Nas orientações para estabelecimentos de restauração e bebidas, a Direção-Geral da Saúde (DGS) não menciona potenciais riscos de propagação do vírus pelo uso de sistemas de ar condicionado em espaços fechados. No entanto, a autoridade de saúde emitiu uma revisão das normas de climatização em julho, onde refere que " o risco de transmissão do novo coronavírus motivada pela utilização de ar condicionado em espaços fechados é muito baixo, desde que se cumpram as regras de manutenção e o espaço seja arejado".
Para Carmo Gomes, a solução é simples e passa por optar pelo arejamento natural, uma vez que o distanciamento pode não ser suficiente para garantir a segurança em espaços fechados.
“Se as pessoas vão aos restaurantes, optem pela esplanada. Se não for possível, então que haja arejamento ou pelo menos remoção do ar que está dentro da sala com frequência. Salas de aula é a mesma coisa”, defende o especialista.
“O vírus pode ficar até duas ou três horas no ar com capacidade de infetar. A única forma de evitar esta transmissão por aerossol, uma das piores transmissões que há, é o arejamento”, reforça.