27 jan, 2021 - 17:00 • Fábio Monteiro com Lusa
Caesar DePaço, ex-cônsul de Portugal em Palm Coast, na Flórida, entre 2014 e 2020, empresário que fez fortuna nos Estados Unidos da América e que é apoiante e financiador do Chega, foi exonerado do cargo de cônsul honorário por Cabo Verde, a pedido do próprio. O primeiro-ministro cabo-verdiano já comentou a polémica.
De acordo com uma missiva do atual ministro dos Negócios Estrangeiros e Defesa de Cabo Verde, Rui Alberto de Figueiredo Soares, a que a Renascença teve acesso, o pedido do empresário foi submetido a 12 de janeiro, ou seja, no dia seguinte à emissão do segundo episódio da reportagem “A Grande Ilusão” da SIC.
Em Cabo Verde, também a 12 de janeiro, Luís Filipe Tavares, então ministro dos Negócios Estrangeiros e Defesa Nacional de Cabo Verde, demitiu-se após terem sido reveladas as ligações do cônsul ao partido de extrema-direita português.
“Lamento que circunstâncias supervenientes tenham concorrido para que reconsiderasse a continuidade nas funções que ora desempenha”, escreve Rui Alberto de Figueiredo Soares, na carta de exoneração. Os factos divulgados pela reportagem e associação do empresário ao partido de extrema-direita não são mencionados.
O primeiro-ministro de Cabo Verde afirmou esta quarta-feira, no parlamento, que todos os procedimentos foram cumpridos na nomeação de Caesar DePaço, cônsul associado à extrema-direita portuguesa, mas que essa conotação não foi detetada antes porque o país "não tem polícia política".
A explicação sobre este caso foi prestada por Ulisses Correia e Silva no debate mensal subordinado ao tema "Política externa de Cabo Verde".
Caesar DePaço
Perfil de Caeser DePaço na enciclopédia digital es(...)
"Os procedimentos foram cumpridos, por parte da Cabo Verde e pelos EUA, Departamento de Estado, confirmaram. Os requisitos estavam cumpridos, o que não se sabia, porque, como eu disse e repito, não fizemos e não temos esse aparelho de polícia política para investigar as preferências político-partidárias das pessoas, não temos em Cabo Verde. Isso acabou em 1991", reagiu o chefe do Governo cabo-verdiano, criticado pela oposição.
O primeiro-ministro fez questão de explicar as atribuições de um cônsul honorário, nomeadamente sendo alguém que "não representa o Estado de Cabo Verde", sendo escolhido "pelo seu perfil, personalidade idónea e reconhecido mérito" no Estado em que exerce a função de promoção económica externa do país, para atrair investimentos.
Numa mensagem enviada aos jornalistas esta quarta-feira, Rui Barreira, advogado do empresário, evoca uma "agenda escondida da parte de determinadas personagens" num "ataque inqualificável" à "honorabilidade" de Caesar DePaço.
No ano passado, o empresário fez uma doação de 10.480.50 euros ao Chega, o valor limite legal. “Uma migalha se tivermos em conta a sua fortuna”, disse o advogado Rui Barreira, representante do empresário, em declarações “Correio da Manhã” na terça-feira.
Conforme a Renascença noticiou na terça-feira, Caesar DePaço tem, neste momento, numa contenda com a Wikipédia: quer o seu currículo livre de referências à extrema-direita e da acusação por roubo qualificado datada de 1989, revelada pela investigação “A Grande Ilusão” da SIC.
Editores da plataforma contaram à Renascença terem recebido ameaças da parte dos representantes legais do empresário. “Um advogado de Caesar DePaço começou a retirar informação do artigo, a dia 14, e começou com ameaças que foram aumentando de tom”, contou um responsável, que por receio de represálias pediu para não ser identificado.
Segundo investigação da SIC, em 1989, Caesar DePaço foi acusado de roubo qualificado com fuga por uma namorada; chamado a tribunal, nunca compareceu. A 26 de abril de 1994, o empresário foi declarado contumaz (réu ausente na audiência de julgamento), ficando impedido de obter qualquer documento português, situação que se manteve até 2002.