26 nov, 2023 - 08:00 • Henrique Cunha
A Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM) defende que para haver justiça é preciso que "não haja corrupção na rede". Em declarações à Renascença, a sua presidente Eugénia Quaresma diz que "infelizmente onde há muita fragilidade, muita pobreza, muita miséria facilmente a corrupção ganha terreno".
Para a responsável, o facto de as autoridades terem detido 28 suspeitos de tráfico e exploração de cerca de cem imigrantes, na última semana, nos Concelhos de Cuba e Ferreira do Alentejo "é sinal de que a investigação está a funcionar".
Contudo, a presidente OCPM alerta para a necessidade das vítimas se sentirem protegidas. "As pessoas só vão denunciar se se sentirem protegidas e por isso é importante que não haja corrupção nesta rede da justiça", afirma.
Eugénia Quaresma diz que “as pessoas não podem continuar a ser iludidas, não podem continuar a ser exploradas” e refere que também “é preciso que quem envereda por este caminho perceba que o crime não compensa”. A responsável entende que as vitimas estão numa situação de grande fragilidade porque “os criminosos atuam na base da ameaça, e portanto, se estas pessoas que são exploradas, se têm familiares ameaçados, se não se sentem protegidas não denunciam”.
“As pessoas só vão denunciar se se sentirem protegidas e daí a importância deste trabalho policial e de a investigação também ser realizado em rede. E é importante que não haja corrupção nesta rede da justiça”, insiste.
Ainda assim, Eugénia Quaresma valoriza a investigação e pede que haja consequências para que "se dê um sinal claro de que o crime não compensa". “É preciso haver articulação com outros países. E eu pegava nas palavras de uma agente da PJ que dizia que não basta só detetar as pessoas, é preciso também que ao longo de toda a rede da justiça as coisas funcionem para que se perceba e dar um sinal muito claro de que o crime não compensa”, conclui.
Na terça-feira, a Policia Judiciária, através da Unidade Nacional Contra o Terrorismo, fez 28 detidos, numa megaoperação para desmantelar uma rede de tráfico humano e exploração de trabalhadores agrícolas.
A investigação desenvolvida nos concelhos de Cuba e Ferreira do Alentejo detetou a alegada exploração de uma centena de imigrantes da Roménia, Moldávia, Ucrânia, India, Senegal e Paquistão.