01 jul, 2024 - 12:19 • Redação com Lusa
Nas últimas horas foram várias as personalidades da cultura e da política que recordaram o cantautor que, para Luís Represas, "deve servir de exemplo" para os mais jovens.
À Renascença, o cantor, que teve uma relação próxima com Fausto, fala de um "nome incontornável geração de 70, de Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Zé Mário", uma geração que "refaz aquilo que seria o futuro da música portuguesa". "Todos nós somos influenciados por eles. Todos", admite.
Para Represas, Fausto tinha um "respeito muito próprio pela forma como cantava e trabalhava a língua portuguesa" e uma "visão única sobre a nossa maneira de estar no mundo, sobre o que a cultura e a música portuguesa podiam significar como uma presença cultural no mundo".
"Temos que levar às pessoas e às gerações mais novas aquilo que esta geração fez, de forma a que também possa servir de exemplo", apela o artista.
Já o diretor da agência "Ao sul do Mundo", Luís Viegas, que representava o cantor, diz que esta segunda-feira se perde "um dos grandes nomes da cultura portuguesa".
O empresário descreve Fausto como "um excelente contador de histórias, que fazia rir, sorrir, viajar nas histórias que ele contava. Um excelente compositor, um excelente músico, que parte hoje fisicamente, mas cuja obra e legado nunca morrerá".
Viegas fala ainda de um homem recatado que "escolheu os momentos especiais para contactar com o público", e que "quando queria dizer alguma coisa, escrevia uma canção".
Nas redes sociais, o músico Pedro Abrunhosa chamou-lhe o "inventor de estéticas", lamentando "o silêncio das rádios", "os prémios que não ganhou" e "os festivais que não fez, porque a sua música não era quadrada".
"Morreste-me, Fausto. Morreste a um país inteiro cego para a Música e surdo para a Poesia. Até sempre! E perdoa a nossa miséria", partilhou Pedro Abrunhosa.
Pedro da Silva Martins, músico e compositor, cofundador dos Deolinda e Cara de Espelho, lembrou o dia em que agradeceu a Fausto Bordalo Dias a mestria artística: "Somos muito mais com o Fausto do que seríamos sem ele! Acho que muita gente partilha deste sentimento e é por isso que o Fausto nunca nos faltará".
Óbito
Tocou com José Afonso, José Mário Branco, surgiu n(...)
Para o músico brasileiro Pierre Aderne, morreu "um dos maiores compositores, artistas da música de língua portuguesa", enquanto a cantora Eugénia Melo e Castro, que fez coros em alguns dos álbuns do músico, escreveu no Facebook que "Fausto é o mais importante, o melhor autor/cantor/poeta e compositor da sua geração. Imortal".
O compositor António Pinho Vargas, os músicos Mário Mata e Miguel Guedes (Blind Zero) também lamentaram esta segunda feira a morte do músico, aos quais se juntaram políticos de vários quadrantes.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, escreveu na rede social X que Fausto "trouxe à música popular a cor e o imaginário do universalismo português".
A deputada socialista Alexandra Leitão considerou que "sem Manuel Cargaleiro [escultor que morreu no domingo] e sem Fausto, Portugal ficou mais pobre", enquanto o deputado do Livre Jorge Pinto escreveu: "Deixou-nos hoje um dos nomes maiores da música e cultura portuguesa dos últimos 50 anos".
Catarina Martins (BE), José Gusmão (BE), Ana Catarina Mendes (PS) e o ex-ministro da Cultura Pedro Adão e Silva lembraram igualmente o músico.
"A voz de Fausto ouvia-se em casa de José Saramago em Lanzarote ou em Lisboa. "Por este rio acima" era uma forma de começar um dia de trabalho ou simplesmente de conviver", partilhou Pilar del Río, tradutora, mulher do Nobel da Literatura e presidente da Fundação Saramago.
Fausto Bordalo Dias, criador de "Por Este Rio Acima", morreu na madrugada de segunda-feira aos 75 anos, em casa, em Lisboa, vítima de doença prolongada.
Cantor e compositor tinha 75 anos. Para a história(...)
Fausto Bordalo Dias contou a História de Portugal com reconhecido sucesso através da música, disse o seu amigo Manuel Rocha à agência Lusa.
"O Fausto é capaz de ser o homem que da forma mais brilhante fez a nossa história em canções", afirmou o professor de música e violinista da Brigada Victor Jara, uma cooperativa cultural que tem sede em Coimbra.
Na sua opinião, o autor do LP "Por este rio acima" (1982) foi "um cantor talentoso" que, ao longo de décadas, abordou na sua obra "toda a sujidade e a excelência de uma gesta histórica" dos portugueses no mundo, designadamente enquanto protagonistas dos Descobrimentos.
Na produção discográfica, durante cerca de 55 anos, Fausto cantou sobre "as facetas do horrível e da humanidade" na História de Portugal, conseguindo reunir na sua obra "a luta de classes, a ecologia e o amor", referiu.
No disco "Madrugada dos trapeiros" (1977), o tema ecologista "Rosalinda" já "marca o tempo da reação à utilização da energia nuclear" e da defesa da natureza, recordou Manuel Rocha.
Em 1994, o membro da Brigada Victor Jara e os companheiros de Coimbra Amadeu Magalhães e Fernando Meireles, entre outros músicos, participaram na gravação do álbum duplo "Crónicas da terra ardente", inspirado na "História trágico-marítima", o segundo disco da trilogia "Lusitana Diáspora", depois de "Por este rio acima", de 1982, e antes de "Em busca das montanhas azuis", o seu derradeiro álbum, de 2011.
"Perdemos um grande nome e uma figura importantíssima da música portuguesa", comentou.
O presidente da direção da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) considerou que, com a morte do músico e compositor, Portugal perde "realmente um dos maiores cantores e autores da história da música portuguesa".
"Sinto muito esta perda, porque reconhecia o enorme talento que ele tinha e que foi sublinhando, sobretudo, com a gravação do "Por este Rio Acima", que é um disco notável, é um clássico da música portuguesa e da canção de texto em Portugal", disse José Jorge Letria à agência Lusa.
A morte de Fausto Bordalo Dias, por isso, é "realmente uma perda terrível e irreparável, porque ninguém preenche este vazio e este lugar".
Referindo que Fausto era há muito cooperador da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), que preside, José Jorge Letria disse ter visto o artista "começar, gravar os primeiros discos, e fazer os primeiros espectáculos".
"Pessoalmente, como companheiro de canções dele durante muitos anos - e fui seu amigo também antes do 25 de Abril e durante o 25 de Abril - sinto profundamente esta perda, lamento muito que tenha partido".
Para José Jorge Letria, o "importante agora" é que os discos de Fausto "sejam ouvidos e reeditados, para podermos continuar a ouvir as suas canções brilhantes que marcaram tanto a nossa música".
Também a SPA, numa note de pesar sobre a morte do artista, lamenta a morte de Fausto considerando-o um dos maiores "cantores-autores de sempre da música portuguesa".
Endereçando o seu mais profundo pesar à família de Fausto, a SPA acrescenta que "tudo fará para que a sua obra continue a ser gravada e ouvida por muitos públicos, designadamente das novas gerações, ainda neste ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril".