04 jan, 2025 - 00:05 • Lusa
O Presidente da República critica situações no setor da comunicação social em que a culpa "morre solteira", repetindo uma expressão que usou há um ano, e disse esperar "melhores notícias do jornalismo português" em 2025.
Na cerimónia de entrega dos Prémios Gazeta 2023, no Grémio Literário, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa considerou esta sexta-feira que há que "repetir palavras já ditas", perante situações "com lastro nas condições de trabalho, na qualidade dos conteúdos produzidos, na indefinição sobre pagamentos e salários e, sobretudo, com efeitos negativos na vida de tantos e tantas jornalistas e das suas famílias".
O chefe de Estado referiu que, se a cerimónia de há um ano foi "marcada pela situação vivida num dos grandes grupos de comunicação, o Global Media Group", agora são "outros protagonistas, como a Visão, mas exatamente com as mesmas consequências".
"Vivem-se indefinições nestas empresas em que ninguém é responsável, não é o proprietário, não é o gestor, não é o financiador, não é ninguém com responsabilidades administrativas, em que morre solteira a culpa", criticou.
No fim do seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa enalteceu o "papel heroico" dos jornalistas e disse esperar "melhores notícias do jornalismo português" neste ano.
"Eu continuo a acreditar, acreditava antes de ser Presidente, continuarei a acreditar depois de ser Presidente: a democracia como a liberdade de imprensa vencerão", declarou o chefe de Estado, que está a um ano e dois meses do fim do seu mandato.
Nesta cerimónia, em que Maria Antónia Palla recebeu a Gazeta de Mérito, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou admiração pelo seu percurso como jornalista e defensora dos direitos das mulheres e anunciou que a irá condecorar em breve com o grau de grande oficial da Ordem da Liberdade.
Ante de discursar, o chefe de Estado ouviu outra das premiadas, Marta Vidal, distinguida com a Gazeta de Imprensa pela reportagem "A liberdade, lá em cima: os pássaros de Gaza", publicada pelo Expresso, acusá-lo e também ao Governo e ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa de se manterem "em silêncio" perante "a aniquilação de um povo e de um território" por parte de Israel.
O Presidente da República fez questão de se dirigir diretamente a Marta Vidal, por ter sido "interpelado diretamente", e começou por referir que "é uma realidade que Portugal não reconheceu ainda o Estado da Palestina" e que "há uma tentativa de acordo na União Europeia em que há várias posições".
Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que, "não obstante, Portugal continua a achar que deve haver uma solução, que foi recusada pelo Knesset israelita há meses, mas que é a solução adotada pela comunidade internacional: dois povos, dois Estados".
O chefe de Estado salientou também que Portugal "votou na Assembleia Geral das Nações Unidas que a Palestina passasse de membro associado a membro de pleno direito" e "votou todas as resoluções de condenação daquilo que foram atentados contra o direito humanitário cometidos por Israel em Gaza".
Sobre Maria Antónia Palla, que iniciou a sua carreira em 1968, no Diário Popular, e passou por O Século Ilustrado, Vida Mundial, Anop, A Capital, RTP e Diário de Notícias, Marcelo Rebelo de Sousa realçou que foi a primeira mulher vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas, em 1979, e presidente da Caixa de Previdência dos Jornalistas.
"Um grande caráter, uma grande personalidade, um grande exemplo ético, uma grande democrata. Premiá-la é fazer justiça há muito devida", elogiou.
"Ouvi recordar que o Presidente Jorge Sampaio a condecorou com a comenda de Ordem da Liberdade. Pergunto por que é que não foi condecorada com a mesma condecoração dos Capitães de Abril homens, que foi o grande oficialato? Irá ser, dentro de dias. Não pode haver discriminação entre os Capitães de Abril e quem lutou também pela liberdade", considerou.
Os Prémios Gazeta são uma iniciativa do Clube de Jornalistas e têm o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.