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Reportagem em Santa Iria de Azóia

"Não encontramos casa, pedem renda muito alta"

06 jan, 2025 - 10:00 • João Cunha

Quase um mês depois, uma centena de imigrantes são-tomenses continua a ocupar habitações precárias em Loures. Têm até ao fim do mês para encontrar uma casa que possam alugar, mas não está a ser fácil.

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Depois de a autarquia de Loures ter "travado" uma ordem de despejo e demolição das habitações precárias construídas ilegalmente num terreno privado frente à fábrica de açúcar da Sidul, em Santa Iria de Azóia, foi feito um pedido de ajuda à Segurança Social, que tomou conta do caso e pediu aos moradores que encontrem uma casa para alugar.

"Eles vão pagar uma renda e uma caução, e a partir daí pagamos nós a renda. Se conseguirmos um preço acessível, nós conseguimos pagar. Mas se for muito alto, não vamos conseguir", teme Jacinta Ferreira, uma das residentes nas habitações precárias junto à fábrica da Sidul, em Santa Iria da Azóia.

"Há famílias em que o marido trabalha e ganha o ordenado mínimo, e em que a esposa não está a trabalhar. Se a renda for muito alta não vamos conseguir pagar", lamenta esta jovem mãe, embrulhada em mantas á porta da casa onde vive. Ali ao lado, logo depois de uma pequena horta onde os pés de milho já vão altos, há mais casas, mas não de tijolo e cimento.

Foram construídas com placas de aglomerado de madeira, que com a chuva recente já começaram a inchar. Será uma questão de tempo até que se desfaçam, deixando a descoberto o interior.

Apesar das dificuldades, quem ali reside vai mesmo ter de encontrar outra casa até final de janeiro. Mas a procura não está a ser fácil.

"Estamos á procura de casa, mas não estamos a encontrar, porque pedem renda muito alta. Outras famílias estão à procura, mas não estão a conseguir. Está muito difícil”, lamenta Jacinta.

Gonçalo Filipe, do Movimento Vida Justa e que tem acompanhado este caso, admite que será difícil, senão impossível, encontrar casa.

"É praticamente impossível. Aliás, é a razão pela qual eles estão ali", sublinha o jovem ativista.

"É muito difícil para pessoas nesta situação, em que recebem o salário mínimo, que ainda estão a perceber como se podem documentar e arranjar trabalho, é difícil conseguir arranjar uma casa na área metropolitana de Lisboa com os preços como estão".

Habitações precárias em Loures Foto: João Cunha/RR
Demolições de habitações em Loures Foto: João Cunha/RR
Demolições de habitações em Loures Foto: João Cunha/RR

Gonçalo Filipe alerta ainda que "a ajuda da primeira renda e da caução, suportada pela Segurança Social, é válida", mas o problema é que muitos dos moradores "não conseguem aceder ao contrato de arrendamento" e, tal como muita gente em Portugal, "não vão ter capacidade para suportar o custo da renda", ao longo do tempo.

"Portanto, os moradores continuam um bocado na mesma situação", remata.

E por isso, o mais provável é que tenham de optar por uma habitação fora da grande Lisboa, onde haverá rendas mais baixas. Ou por um alojamento temporário da Segurança Social.

"Isso vai significar uma reconfiguração das suas vidas. Poderão acabar numa situação que não seria tão má como aquela em que iriam acabar no final de dezembro" — altura em que retiraram os seus pertences das habitações e os levaram para debaixo de um viaduto do IC-2, ali nas proximidades.

"Eu tenho esperança de que eles não vão para debaixo da ponte, com as crianças nas mãos.", remata o ativista do Movimento Vida Justa.

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  • Regressem
    06 jan, 2025 Loures 11:36
    Já pensaram em voltar para São-Tomé?

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