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Eça de Queiroz já está no Panteão, o "lugar dos imortais". Reveja a cerimónia

08 jan, 2025 - 09:00 • Filipa Ribeiro , Manuela Pires , Maria João Costa , Tomás Anjinho Chagas

Presidente da República refere-se ao Panteão como o "lugar dos imortais" e fala em "acto de justiça" para descrever a trasladação do escritor, "mesmo não sabendo as vontades" de Eça de Queiroz. Reveja a cerimónia de atribuição de honras de Panteão Nacional.

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Depois de adiamentos e polémicas, Eça de Queiroz recebeu esta quarta-feira honras de Panteão Nacional. A urna com os restos mortais do escritor viajou de de Santa Cruz do Douro para Lisboa e foi depositada, por decisão do Parlamento, ao lado de nomes como Sophia de Mello Breyner, Eusébio, Manuel de Arriaga, Sidónio Pais, Almeida Garrett, entre outros.

Os restos mortais do escritor ficam, a partir de hoje, numa sala que foi inaugurada esta quarta-feira, do lado esquerdo do Panteão. Marcelo Rebelo de Sousa, José Pedro Aguira-Branco e Luís Montenegro assinaram o termo de sepultura dos restos mortais do escritor.

A cerimónia começou em frente à Assembleia da República e a urna, coberta com a bandeira nacional, seguiu em cortejo até ao Panteão Nacional de Santa Engrácia. Reveja aqui toda a manhã de homenagens.


Marcelo considera trasladação um "ato de justiça"

No Panteão, Marcelo Rebelo de Sousa realçou a importância de que seja reeditada a obra de Eça de Queiroz. "A maior homenagem a Eça será, sem dúvida, reeditá-lo estudá-lo e acima de tudo lê-lo, mas há actos de justiça, actos evidentes como esta transladação, mesmo não conhecendo as vontades do escritor".

O chefe de Estado referiu-se ao Panteão Nacional como o "lugar dos imortais" e falou em "ato de justiça" para descrever a trasladação do escritor "mesmo não sabendo as vontades" de Eça de Queiroz.

O Presidente da República fez o exercício de imaginar o que escreveria Eça de Queiroz sobre a trasladação, recorrendo a palavras como "Lisboa; chuva; homenagens", e recordou um excerto de uma carta escrita por Eça em 1890 para Oliveira Martins, onde o escritor - a viver em Paris - dizia que o regresso à pátria "é difícil por questões orçamentais", pedindo que se lhe arranjasse um "nicho" através de um pedido ao rei "para ser plantado".

Não havendo rei, afirmou Marcelo, estão hoje "reunidos o Presidente, o parlamento, o Governo, os órgãos de soberania que os portugueses escolheram para atribuir a Eça não um nicho, mas uma última condigna morada".

"Um artista metódico e compulsivo" que "transformou a literatura"

Coube ao trineto de Eça, Afonso Reis Cabral, fazer o elogio fúnebre. O escritor e também presidente da Fundação com o nome de Eça afirmou que o escritor "entra no Panteão Nacional levado aos ombros pela gente que tanto o leu".

Reis Cabral recorda Eça de Queiroz como "um artista metódico e compulsivo" e como um "escritor irónico com que ainda se ameaçam os políticos". Descreve-o ainda como um "diplomata que olha para o país com a mais próxima das distâncias" e um "aperfeiçoador obsessivo da língua portuguesa".

O trineto de Eça sublinhou que "a leitura da sua obra é fundamental para a formação literária e humana", realçando o retrato crítico feito por Eça de Queiroz à sociedade e a ironia com que descreveu o "país ingovernável".

Aguiar-Branco. "O lugar de Eça de Queiroz é óbvio"

No seu discurso, o presidente da Assembleia da República sublinhou que "o lugar de Eça de Queiroz é óbvio" e prometeu à população de Santa Cruz, em Baião, que a "presença [do escritor] no Panteão será devidamente apreciada".

José Pedro Aguiar-Branco define o escritor como "um reformista" que "nos descobre os vícios e denuncia os defeitos coletivos" e fala de Eça como alguém "que brinca mesmo à distância do tempo com os nossos defeitos".

O presidente da Assembleia da República realça que "há verdades que só os mais próximos nos podem dizer", para concluir que "Eça de Queiroz conquistou na cultura portuguesa esse estatuto".

Aguiar-Branco considera que "quem escreveu o que Eça escreveu só podia gostar muito deste país", acrescentando que "o mais extraordinário é que esse amor sempre foi correspondido".

O representante da Assembleia da República não esqueceu a polémica que envolveu a trasladação com a separação da vontade dos familiares. Aguiar-Branco acredita que "Eça escreveria uma das suas melhores crónicas de sempre, cheia de divertidas e jocosas ironias, sobre a cerimónia, sobre os que aqui estamos, sobre mim e sobre a sua própria vinda para o Panteão".

Palavras de Eça ecoam em Santa Engrácia

Antes do cortejo fúnebre que transportou os restos mortais de Eça pelas ruas da cidade, durante mais de hora e meia, debaixo de um temporal, reuniram-se na escadaria do Parlamento representantes da Assembleia da República, respetivos grupos parlamentares e familiares do escritor. Foi tocado o Hino Nacional e no final, a urna foi colocada numa carruagem - o breque fúnebre - que seguiu pela rua de São Bento.

Já na cerimónia restrita que decorreu no Panteão Nacional, além dos presidentes da República e da Assembleia da República, marcaram presença o primeiro-ministro, Luís Montenegro, e mais de 300 convidados, incluindo representantes dos partidos políticos, deputados e familiares de Eça, além de vários outros escritores, como Gonçalo M. Tavares, Pedro Mexia, João de Melo e Maria do Rosário Pedreira.

No interior do Panteão foi interpretado o Hino pelo maestro João Paulo Santos, cantado pela soprano Sara Braga Simões, do Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Depois do elogio fúnebre, a cargo de Afonso Reis Cabral, seguiram-se leituras de excertos de textos de Eça de Queiroz de obras como “As Farpas”, “A Europa” ou “Notas Contemporâneas”. Houve também espaço à leitura de fragmentos de “O Crime do Padre Amaro”, entre outras obras.

Os discursos de Aguiar-Branco e Marcelo Rebelo de Sousa foram intercalados com momentos musicais e leituras de excertos de obras como “Os Maias” ou “A Cidade e as Serras”.

Eça de Queiroz morreu há 125 anos, em Paris, a 16 de agosto de 1900. Foi então sepultado em Lisboa, mas, em 1989, os seus restos mortais foram trasladados do Cemitério do Alto de São João, para um jazigo de família, no cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião, distrito do Porto, onde esteve até agora.

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