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Reportagem

Grupo de investidores tem interesse na Tupperware, diz autarca. Empresa adia encerramento em Portugal

08 jan, 2025 - 14:00 • João Cunha

A fábrica da multinacional norte-americana, instalada em Montalvo, Constância, não fechou portas esta quarta-feira, como anunciado. A atividade deverá manter-se por mais uns dias, para dar resposta às encomendas.

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É o casaco que a denuncia. Nele, o logotipo da Tupperware deixa perceber que é funcionária da empresa. Está à porta de um café da freguesia de Montalvo, à conversa com uma conhecida. Puxa de um cigarro e explica que acabou de sair da empresa, onde cumpriu mais um turno da madrugada.

"Sobre o futuro não sabemos de nada, mas eu não quero falar disso", desabafa Helena, enquanto dá mais uma passa no cigarro.

Explica que, tal como ela, todos os cerca de 200 trabalhadores diretos da empresa, sediada em Montalvo, a poucos quilómetros de distância de Constância, "estão preocupados com o futuro".

"È complicado para as cerca de 50 pessoas" da freguesia que trabalham na empresa, explica Ana Manique, presidente da Junta de Freguesia de Montalvo, que entretanto sai do café.

Quem lá trabalha tem lidado com a situação "com alguma impaciência, claro, porque as incertezas são muitas", adianta a autarca. "Mas com alguma esperança naquilo que temos vindo a ouvir, que haverá investidores e que talvez não feche".

Ainda encostada à esquina do café, a fumar o cigarro, Helena suspira. Muito se tem avançado sobre o futuro, mas certezas, só amanhã, eventualmente, quando os trabalhadores reunirem com a direção da empresa em Portugal. "Eu e o sr. presidente da câmara", assegura Ana Manique, "temos estado sempre a tentar falar com a direcção, mas eles próprios são um bocadinho fechados e renitentes em trazer a informação cá para fora".

"Uma casa pode ser muito grande, mas para cair é um instantinho"

Ao café, destino de todos os que àquela hora, ainda lusco-fusco, para a primeira cafeína da manhã e para o pão fresco lá para casa, chega entretanto Fernanda Morais. Trabalhou 35 anos na Tupperware e, há uns anos, recebeu uma indemnização para sair. As noticias que têm chegado "são más, muito más".


"São más para nós, aqui, e para quem lá trabalha e é de outros concelhos", diz, lembrando que quando saiu, ainda recebeu uma indemnização. "Tenho lá um filho com 43 anos, que tem uma filha de 11 anos, e provavelmente vai-se embora e não trás nada", lamenta Fernanda, que admite que o possível encerramento seria pior, se tivesse sido há uns anos.

"Trabalhavam lá muitos casais. Agora já não. Mas chegaram a ser muitos casais. A mesma família. E de Montalvo trabalhava lá muita gente." Fernanda Morais lembra também o que, em tempos, se ouvia falar de "desfalques, isto e aquilo".

"Uma casa pode ser muito grande, mas para cair é um instantinho", remata, enquanto se despede, alegando, em tom jocoso, que é melhor regressar, não vá o marido acordar e achar que ela fugiu de casa.

Reunião entre trabalhadores e direção na quinta-feira

O presidente da Câmara Municipal de Constância tem andado numa azáfama nos últimos dias. Sobretudo com os pedidos da comunicação social para se pronunciar sobre o assunto. Admite que está triste com toda a situação, porque entre postos de trabalho diretos e indiretos, são cerca de 400 pessoas e de famílias que vão ver as suas vidas paradas.

"É isso que, enquanto autarca, me preocupa: haver pessoas que vão ficar no desemprego. A maioria são novas para se reformar, mas são velhas de mais para arranjar outra oportunidade de trabalho", explica Sérgio Oliveira, que garante, "dentro das competências da câmara", todo o apoio aos munícipes afetados com o possível encerramento da Tupperware.

De resto, indica que tem mantido contacto com a Secretaria de Estado da Economia e o AICEP: "Pedimos que, através do Ministério do Trabalho, fosse assegurado que todos os direitos das pessoas sejam respeitados. Para que os trabalhadores que ali estão há 30 ou 35 anos não saiam dali com uma mão à frente e outra atrás."

Das entidades oficiais, o Ministério do Trabalho e o Ministério da Economia, o autarca diz ter recebido "a garantia que tudo farão para que as coisas sejam respeitadas".

Para quinta-feira está prevista uma reunião entre os trabalhadores e a direção da empresa, em que poderá ser abordado o interesse manifestado por um grupo de investidores na continuidade da empresa.

"Sei que existe esse grupo de investidores e esse interesse, manifestado junto da casa-mãe nos Estados Unidos", diz o autarca, que sublinha, contudo, que não quer estar "a criar falsas expectativas nas pessoas", explica Sérgio Oliveira. "Não há nenhuma decisão tomada, mas podia ser uma solução para a manutenção da unidade fabril. Mas ao dia de hoje não tenho a certeza que isso se irá concretizar."

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