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"Vamos criar o Waze dos oceanos". Satélites portugueses lançados pela Space X de Elon Musk

14 jan, 2025 - 14:45 • Redação com Lusa

O PotSAT-2 é o primeiro satélite comercial português a ser lançado e fará parte de uma constelação de satélites, que promete ser um GPS dos oceanos. A bordo do Falcon 9 segue também o Prometheus-1, da Universidade do Minho.

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A hora aproxima-se: às 18h48 desta terça-feira são lançados dois satélites portugueses para o espaço, a partir da base espacial de Vandenberg, na Califórnia, Estados Unidos.

O PoSAT-2, da LusoSpace, e o Prometheus-1, da Universidade do Minho, são o quarto e o quinto satélites portugueses a serem enviados para o espaço, depois dos nanossatélites ISTSat-1 e Aeros MH-1, em 2024, e do microssatélite PoSAT-1, em 1993. Vão apanhar boleia do foguetão Falcon 9, da SpaceX.

Com um custo de cerca de um milhão de euros, o PoSAT-2 é o primeiro satélite nacional com objetivos comerciais. O propósito é que seja o início de uma futura constelação de satélites, a ATON, que promete ser pioneira na navegação e comunicação de navios em alto mar.

Ivo Vieira, CEO da LusoSpace (empresa que construiu o satélite e o sistema), explica à Renascença como vai funcionar a constelação e como a empresa de Elon Musk, a SpaceX, surge neste processo de enviar um satélite para o espaço.

O PoSAT-2 — nome dado em homenagem ao primeiro satélite português, lançado no final da década de 1990, o PoSAT-1, que contou com Ivo Vieira na equipa —, vai estar operacional assim que for lançado. Utiliza o sistema VDES (VHF Data Exchange System) que possibilita a troca bidirecional entre a terra e os navios. Este sistema permite enviar curtas mensagens de avisos, alertas, comunicações e emergências.

"Nós, através deste sistema, vamos criar o Waze dos oceanos, ou seja, vamos mapear o oceano com informações que vão ser partilhadas pela comunidade marítima. As pessoas que estarão a utilizar este sistema poderão indicar que, por exemplo, viram uma baleia, ou um iceberg à deriva, ou então um avistamento de embarcações suspeitas, que podem ser piratas, ou uma pesca ilegal. Também poderá receber informações meteorológicas, enviar sinais de socorro. Portanto, nós vamos, no fundo, criar este Waze dos oceanos e que vamos colocar várias informações no oceano que sejam relevantes para toda a comunidade marítima. E isto, de facto, é totalmente inovador", explica Ivo Vieira.

Vai poder ser usado para enviar mensagens de 20 em 20 minutos, após todos os satélites da constelação estarem operacionais. Os navios já têm um sistema para casos de emergência, mas Ivo acredita que este sistema trará outra vantagens, mesmo a comunicação não sendo imediata. "Estamos a falar de um sistema de comunicações no meio do oceano, em alto mar. Os navios são embarcações lentas, como sabemos, e em 20 minutos não há nada que acontece que necessite de uma comunicação mais rápida. Para sinais de emergências convém que seja mais rápido. [Para] uma embarcação que esteja a afundar, já existem sistemas próprios que todas as embarcações têm e que enviam um alerta com a sua posição. Pensando no Titanic, que demorou duas horas e meia até afundar, 20 minutos é suficiente para haver um alerta e ter tempo de enviar ajuda."

O satélite ficará posicionado a pouco mais de 500 quilómetros de altitude da Terra, acima da Estação Espacial Internacional, a "casa" e laboratório dos astronautas.

São necessários, no mínimo, 12 satélites para a empresa garantir um serviço que o CEO considera capaz de responder às necessidades que propõem resolver. Os restantes 11 satélites serão construídos e lançados durante este ano e no início de 2026.

A constelação de microssatélites da LusoSpace, que envolve o contributo de outras empresas do setor, tem um custo total de 15 milhões de euros, comparticipado em 10 milhões pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) no quadro da "Agenda New Space Portugal".

"A Starlink é o Ferrari, nós somos as bicicletas"

A LusoSpace não pretende ficar apenas pela comunicação de navios. Também há vontade de disponibilizar um serviço barato que as pessoas consigam usar e enviar mensagens aos amigos e familiares. Neste ponto, contudo, Elon Musk já tem um sistema mais desenvolvido: a Starlink permite aos seus clientes ter internet em qualquer parte do mundo, incluindo no meio do oceano.

Ivo Vieira explica que os dois sistemas não são comparáveis: "É, no fundo, como querer comparar o mercado das bicicletas com o mercado dos ferraris. A Starlink é o Ferrari, nós somos as bicicletas. Claro que nós não podemos nos comparar com os Estados Unidos e com o poderio da SpaceX, que é enorme. Nós estamos num mercado diferente. Portanto, a SpaceX, o Starlink, permite grande largura de banda, ver filmes da Netflix, mas custa, no meio do oceano, cerca de 200 dólares, no mínimo, por mês. Nós estamos a presenciar um serviço que é para enviar curtas mensagens, receber alguns ferraris, mas muito pequenos e com valores 10 vezes menores ao Starlink."

Ivo Vieira explica ainda como os satélites serão energeticamente alimentados. Estes têm painéis solares orientados para o sol e baterias, que armazenam energia para quando o satélite estiver a atravessar a parte escura da Terra, que alimentam os circuitos elétricos. Relativamente ao fim de vida desta tecnologia, assim que a equipa perceber que os satélites já não conseguem fazer o trabalho pretendido, serão desligados. Os satélites vão baixando a sua altitude e perdendo velocidade e, ao entrar na atmosfera, desintegram-se completamente.

Quanto à Space X, o CEO aponta dois motivos que o levaram a escolher a empresa para lançar o primeiro satélite deste projeto: "Uma dela é que, de facto, a Space X é financeiramente a mais barata. Elon Musk criou um conceito de reutilização de lançadores que faz com que de facto eles sejam imbatíveis a nível mundial. A segunda razão é que também eles têm muitos voos disponíveis, existe muito mais disponibilidade de lançamentos, o que torna mais ágil o serviço deles."

O lançamento está agendado para as 18h48, hora de Portugal, e pode ser acompanhado em direto.

Em Lisboa, haverá um evento para acompanhar a transmissão, que conta com algumas figuras do Governo: os secretários de Estado do Mar, das Pescas, da Agricultura, da Economia, das Infraestruturas, da Ciência, dos Assuntos Fiscais, da Defesa Nacional e da Proteção Civil. Conta também com a presença do professor e físico Carvalho Rodrigues, do presidente da Agência Espacial Portuguesa, Ricardo Conde, e de Pedro Dominguinhos, líder da comissão de acompanhamento do PRR.
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