21 jan, 2025 - 17:07 • Anabela Góis , Miguel Marques Ribeiro com Lusa
As bombas automáticas de insulina para o tratamento da diabetes tipo 1 vão poder ser adquiridas nas farmácias comunitárias ou de rua a partir de 31 de janeiro, segundo uma portaria publicada esta terça-feira em Diário da República.
"Uma alteração importante", no entender do secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo (SPEDM), João Sérgio Neves, que vai permitir tornar mais célere o acesso e alargar estas bombas a um maior número de utentes.
"Esta é uma alteração importante, porque as novas bombas infusoras de insulina são uma tecnologia que traz muitas vantagens às pessoas com diabetes de tipo 1", aponta o dirigente, em declarações à Renascença.
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João Sérgio Neves acredita que "o tipo de acesso passa a ser diferente. Passa a haver a possibilidade de aceder a estes dispositivos numa farmácia comunitária, como muitos outros medicamentos e mesmo dispositivos. Por exemplo, os leitores de glicose intersticial, que já existem, que já são comercializados para esse fim específico, já eram vendidos nas farmácias", sublinha.
Segundo o secretário- geral da SPEDM, o modelo que estava montado até aqui não beneficiava os utentes. "Até ao momento, o acesso em Portugal era complexo, dependia de um concurso nacional que juntava todos os hospitais e as necessidades de todos os centros de colocação de bombas".
Os concursos acabavam por sofrer várias demoras, explica João Sérgio Neves: "Em vários anos anteriores os concursos foram impugnados por as empresas não terem concordado com os resultados, e toda a litigância e todo o processo foi consecutivamente atrasado fazendo com que o acesso nos últimos anos às bombas infusoras de insulina tenha sido muito dificultado".
A prescrição destes dispositivos só poderá ser realizada por especialistas em medicina interna, endocrinologia e pediatria, desde que devidamente autorizados e identificados pelos centros de tratamento, reconhecidos pela DGS no âmbito da consulta onde o utente é acompanhado.
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A portaria cria o regime excecional de comparticipação de dispositivos médicos de perfusão subcutânea contínua de insulina (PSCI), bem como dos sistemas de monitorização contínua da glicose intersticial para utilização integrada com os dispositivos e respetivos consumíveis, que possam ser utilizados no âmbito do Programa Nacional para a Diabetes.
Segundo a portaria, os dispositivos médicos abrangidos por este regime excecional são comparticipados a 100% pelo Estado no seu preço, quando destinados a beneficiários do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e dispensados em farmácia de oficina.
"Face à necessidade de melhorar o desempenho do processo atual, e de modo a garantir o alargamento desses dispositivos a um maior número de utentes, a melhor celeridade no acesso por parte do utente, melhorar a monitorização da prescrição e dispensa por utente, bem como promover a sustentabilidade do SNS através do mercado concorrencial, considera-se necessário alterar o atual circuito de acesso a estes sistemas, passando a dispensa a ser realizada em farmácia de oficina, no quadro do Sistema Nacional de Avaliação de Tecnologias de Saúde", lê-se no diploma.
Numa nota enviada à agência Lusa, a presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), Ema Paulino, congratula-se com o avanço da medida anunciada pelo Governo, assegurando que "as farmácias estão preparadas para garantir o acesso seguro e em proximidade em todo o país".
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"A participação das farmácias na estratégia do SNS para as pessoas que vivem com diabetes tipo 1 vem melhorar a acessibilidade aos dispositivos e respetivos consumíveis e, aliada à adequada intervenção profissional, traz ganhos em saúde para o SNS e na melhoria da qualidade de vida das pessoas, nomeadamente através da diminuição das complicações agudas e crónicas da diabetes", afirma Ema Paulino.
O programa integrado de tratamento das pessoas com diabetes tipo 1 pretende garantir a disponibilização destes dispositivos a todos os potenciais beneficiários com desenvolvimento progressivo até 2026.
Segundo a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), a utilização destas bombas pode proporcionar uma melhor compensação, assim como uma redução em 80% do número de picadas nos dedos e 95% do número de injeções que uma pessoa com diabetes tipo 1 tem de dar por ano, contribuindo para uma melhoria significativa da qualidade de vida.
A APDP estima que serão mais de 30.000 as pessoas que vivem com diabetes tipo 1 em Portugal, 5.000 das quais serão crianças e jovens.
A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune em que o sistema imunológico da própria pessoa compromete o funcionamento das células do pâncreas que produzem insulina.